Como lidar com meus filhos quando eles estão usando drogas?

O diálogo entre pais e filhos nem sempre é fácil. Quando o assunto é delicado (polêmico, politicamente incorreto ou moralmente questionável), parece que a coisa complica ainda mais. Entretanto, não tem para onde fugir: se há suspeita de uso de drogas em casa, o primeiro (e completamente indispensável) passo para manejo da situação é uma conversa aberta sobre a questão. É fundamental ter certeza se seu filho está realmente usando drogas antes de “acusá-lo”, já que esta é muitas vezes uma impressão que os pais têm a partir de alguma alteração no comportamento do filho – como ter passado a dormir mais ou estar com dificuldades na escola –, o que não necessariamente significa que ele esteja tendo contato com substância psicoativa.

Num segundo momento, uma vez que seu filho – dentro de um ambiente acolhedor e de confiança mútua – admita estar usando drogas, é importantíssimo verificar o padrão do uso:

  • é um uso recreativo, quando seu filho vai a uma festa com os amigos, por exemplo?
  • é um uso solitário, em casa, quando ele está angustiado?
  • é um uso regular, que indique a possibilidade de uma dependência química?
  • como seu filho custeia a compra da substância? Vende objetos pessoais, ou mesmo furtados de casa?

Após a abordagem desses pontos, o terceiro passo é conversar com seu filho sobre a sua visão pessoal a respeito do uso que ele vem fazendo da droga. Lembre-se que muito provavelmente a interpretação do seu filho sobre a situação é bastante diferente da sua: ele está atravessando a adolescência, tem uma estimativa dos riscos pessoais bem mais precária que a de um adulto, circula em meios onde o significado do uso de uma substância psicoativa é muito diferente do que é para você.

Em seguida, discuta com ele a sua avaliação pessoal: fale das suas preocupações com os danos que podem ser trazidos pelo uso da droga, dos riscos que esse uso pode trazer para seu filho. Alerte-o, em especial, sobre o risco de comprar drogas diretamente dos pontos de fornecimento do tráfico (as chamadas “lojas” ou “biqueiras”), pois frequentar as “biqueiras” traz riscos como o de ser vítima de uma bala perdida, do contato direto com o traficante, entre outros – comprar com um intermediário é muito mais seguro.

Por fim, a melhor estratégia é sempre aquela na qual seu filho o veja como um parceiro, que pode ajudá-lo a avaliar a gravidade do problema, suas potenciais complicações e as estratégias plausíveis de enfrentamento. É importante que seu filho não o identifique como aquele que julga e pune, que vê a situação à distância, de uma perspectiva moral que é apenas sua. Tenha em mente que a parceria no enfrentamento familiar do problema é muito mais eficaz.

Sugestões de temas, dúvidas sobre algum conceito de nossos artigos? Participe da nossa nova coluna “Pergunte ao Psiquiatra”! Envie um e-mail para: mauricio.psicologiasdobrasil@gmail.com, que nosso colunista Dr. Maurício Silveira Garrote terá o prazer de respondê-lo!

Maurício Silveira Garrote

Médico especialista em Psiquiatria Clínica pelo HC FMUSP (1985) e Mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, com a tese "De Pompéia aos Sertões de Rosa: um percurso ao longo da Clínica Psicanalítica de pacientes com diagnóstico de Esquizofrenia" (1999).

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