Por Débora Louyse Almeida Lapa
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As crianças demandam muito dos adultos, desde o nascimento. À medida que vão aprendendo a discriminar seu ambiente, identificar possibilidades de reforço ou não, seu comportamento é modelado de acordo com esse contexto e as demandas são ainda mais complexas.
Há o equívoco de que as crianças não entendem o modo como os adultos se comportam e a partir dessa ideia surgem outros equívocos na forma como os adultos lidam com o comportamento das crianças. Por que o comportamento da criança varia tanto? Isto acontece porque as consequências para os seus comportamentos também variam.
Quando a criança está na escola os adultos ali presentes irão reagir a um comportamento inadequado da criança de uma determinada maneira. Quando a criança está em casa esse mesmo comportamento pode ser seguido por outras consequências. E aí está o “x” da questão!
Muitas vezes os pais não sabem como lidar com o comportamento inadequado de seus filhos por não saber o que fazer quando os filhos se comportam assim. Nesse caso a mudança é dos dois lados, tanto o comportamento da criança precisa mudar quanto o dos pais. Mas como mudamos isso?
As consequências exercem a maior influência sobre o comportamento. Então, o modo como os pais reagem ao comportamento inadequado dos filhos, depois que ele acontece, tem grande influência se este irá se repetir ou não no futuro. Mas não é apenas as consequências que exercem influência sobre o comportamento, o ambiente também. “Estímulos associados ao reforço aumentam a probabilidade de o comportamento ocorrer, quando apresentados, e os estímulos que sinalizam a extinção ou a punição diminuem a probabilidade de um comportamento ocorrer, quando apresentados” (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p.97).
Existem alguns cuidados que os pais, ou qualquer outro adulto podem ter, para que a mudança em seu comportamento possa interferir de forma positiva no comportamento das crianças:
Um erro comum é o excesso de recompensas. Se a criança sempre ganhar presentes, sempre tiver tudo o que quer, a tempo e à hora, independente do modo como ela se comporta, os adultos reforçam os comportamentos (aumentam a probabilidade de ocorrência) de forma praticamente aleatória, sem considerar se a criança agiu de forma adequada ou não. É claro que quando falamos de recompensa, não falamos de presentes e objetos comprados, apenas. Estamos falando de coisas que são reforçadoras para a criança, como um elogio, um carinho, a atenção dos pais, um passeio, uma brincadeira em família, entre outros. “Uma escolha equivocada pode fortalecer padrões comportamentais que não desenvolvem favoravelmente a pessoa, tanto em relação a seu próprio crescimento, quanto ao que ela vai provocar naqueles que a cercam.” (GUILHARDI, 2001, p.1).
Não significa que os pais não possam presentear seus filhos, mas uma boa estratégia é oferecer recompensas como consequência para o comportamento adequado. Ou seja, quando a criança se comporta adequadamente ela ganha uma recompensa. Se ela não se comporta adequadamente ela não ganha a recompensa.
“A consequência prática é que reforçadores usados em excesso, ou aplicados de maneira contingente a comportamentos de pequena amplitude e sem o cuidado de exigir avanços diferenciados e progressivamente mais complexos do comportamento, produzirão padrões comportamentais estereotipados, pois não haverá a evolução de respostas simples para comportamentos mais complexos e abrangentes. (GUILHARDI, 2001, p.2).
Ao analisar as contingências, as variáveis que estão envolvidas naquela resposta comportamental da criança, os pais propiciam também uma relação de aprendizagem e não simplesmente uma modelagem de comportamento. Desse modo, a criança terá maior probabilidade de desenvolver um repertório comportamental cada vez mais assertivo e assim, os pais aumentam as chances da criança se comportar adequadamente.
E é muito importante que esteja claro para as crianças o motivo de tal recompensa, isto é, quando me comporto adequadamente (e aqui cabe cada caso) eu ganho coisas positivas, e então, temos essa relação funcional entre resposta e consequência, que promove ao sujeito identificar uma relação de dependência entre eventos. Abaixo, um exemplo que ilustra tal relação:
Antecedente | Comportamento/Resposta | Consequência | |
Colega pegou meu brinquedo | Pedir o brinquedo: “Por favor” | Elogio da professora | Consequência PositivaAumenta a probabilidade de ocorrência da resposta |
Todo comportamento inadequado deve ser severamente punido? Há outras formas de lidar? As consequências punitivas possuem duas vertentes: as que acrescentam situações aversivas e as que retiram algum reforço. Na primeira hipótese, diante de um comportamento inadequado acontece uma situação aversiva como apanhar, por exemplo.
Na segunda hipótese, diante de um comportamento inadequado retira-se um reforço como proibir de jogar vídeo-game, por exemplo. Ambas as consequências podem funcionar e diminuir as chances de uma criança se comportar de forma inadequada. Porém, a punição traz efeitos colaterais:
“No que diz respeito aos seus subprodutos, pode-se citar: a) o desengajamento social do indivíduo punido; b) o contra-ataque à fonte punidora; c) a produção de comportamento violento, muitas vezes dirigido a indivíduos não relacionados à situação; e d) a produção de respostas emocionais ou esqueléticas perturbadoras[…]” (MAYER; GONGORA, 2011, p. 52)
O excesso é sempre prejudicial, tanto em termos de reforço quanto de punição. O melhor caminho é o reforço, o que significa reforçar os comportamentos adequados e colocar em extinção os inadequados, “o conceito de extinção – que descreve exatamente o que acontece quando uma classe de respostas operante deixa de produzir os reforços que vinha produzindo” (ANDERY; SÉRIO, 2009, P.23). A extinção significa não reforçar e não punir. É retirar a atenção e evitar que o comportamento inadequado da criança atinja seu objetivo final.
É importante que os pais sejam firmes quanto aos comportamentos que são aceitáveis e os que não são. O terreno do “talvez” pode ser perigoso, pois se a criança aprender que a consequência de seu comportamento poderá mudar, caso ela insista, será ainda mais difícil extinguir esse comportamento no futuro. Além de propiciar a criança a chance de variar cada vez mais seu comportamento de forma negativa. Se a criança quer comer doce na hora errada e a mãe diz não, ela chora, a mãe se mantém firme na decisão, mas além de chorar a criança se joga no chão, depois quebra objetos, e aí, a mãe cede deixando a criança comer o doce. Nesse exemplo a mãe não reforçou apenas o comportamento do filho de comer doce na hora errada, mas também seu comportamento de chorar, se jogar no chão e quebrar objetos. Em outras situações, por efeito da generalização, a criança irá variar seu comportamento, até que alguém ceda a sua vontade, reforçando assim uma classe de comportamentos inadequados.
Os adultos podem ajudar as crianças a discriminarem como e quando se comportar. A partir do próprio modelo e de dicas verbais os pais podem dar dicas e reforçar quando as crianças conseguem segui-las. Antecipar situações pode ajudar as crianças a se organizarem no ambiente também. Se ela está ansiosa para brincar no pula-pula, por exemplo, explique o que precisa acontecer antes disso, e reforce seu comportamento de esperar. Mostre as sinalizações do ambiente sobre o que é adequado fazer ou não para que com o tempo elas aprendam a perceber essas dicas sozinhas.
As crianças precisam do suporte dos adultos para que seu repertório comportamental seja desenvolvido, e assim, com o manejo adequado de antecedentes e consequências possam aprender a se comportar de forma assertiva.
Referências:
Andery, M. A.; Sério, T. M. (2009). Extinção. Comportamento e Causalidade. PUC-SP. 1-70. Disponível em: http://www.pucsp.br/sites/default/files/download/posgraduacao/programas/psicologia-experimental/comportamento_causalidade_2009.pdf
GUILHARDI, Hélio José. (2011). A ética do reforçamento positivo. Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento. Campinas. Disponível em: http://www.itcrcampinas.com.br/txt/reforcamentopositivo.pdf
Mayer, P. C. M. & Gongora, M. A. N.(2011). Duas formulações comportamentais de punição: definição, explicação e algumas implicações. 47-63. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0188-81452011000400003&lng=pt&tlng=pt.
Moreira, M. B.; Medeiros, C. A. (2006). Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed. 1.ed. v.1. 224 p.
Wielewicki, A.; Santos, B. C. dos, & Costelini, C. P. (2011). Variáveis e procedimentos de controle do comportamento de obedecer em crianças: uma análise da literatura. 541-562. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2011000200016&lng=pt&tlng=pt.
TEXTO ORIGINAL DE COMPORTE-SE
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