Por Ivan Mario Braun
Cerca de 70% dos pacientes psiquiátricos ao redor do mundo não procuram tratamento
Muitas vezes se ouve no consultório do psiquiatra os familiares do paciente comentando que uma pessoa deprimida deveria “levantar a cabeça” ao invés de tomar remédios. Alguns médicos não-psiquiatras também veem o problema desta forma. Um preconceito muito comum é acharem que dependentes de drogas ilícitas são “malandros” ou pessoas que não têm força de vontade. Outras vezes, são os próprios pacientes que dizem que têm tudo para ser felizes, mas, mesmo assim, têm uma depressão – como se a depressão não fosse causada por algo além da falta de uma “boa vida”.
Esta atitude estigmatizante pode ser uma das causas pelas quais cerca de 70% dos pacientes psiquiátricos ao redor do mundo não procuram tratamento, e esta forma de agir seria composta por três fatores: conhecimento (ignorância), atitude (preconceito) e comportamento (discriminação).
Uma das formas sugeridas é aumentar os conhecimentos acerca dos transtornos psiquiátricos: existem evidências de que este tipo de trabalho aumenta a intenção de procurar ajuda por parte dos pacientes e a probabilidade deles falarem de seus problemas com a família e amigos.
Este tipo de informação também gera atitudes mais positivas por parte do público em geral. Por sua vez, uma atitude positiva em relação aos cuidados com a população psiquiátrica e tolerância poderia aumentar a intenção de as pessoas se tratarem, o que sugere que campanhas de marketing social eficazes para aumentar os conhecimentos e as atitudes positivas poderiam ser úteis para levar as pessoas ao tratamento. Além disto, é necessário que profissionais da área de saúde também passem a ter atitudes menos preconceituosas.
Outro problema é o preconceito dos próprios pacientes. Este tipo de estigma pode ocorrer em quaisquer transtornos como, por exemplo, um paciente com esquizofrenia que se considera “perigoso”, a priori. A aceitação dos preconceitos da sociedade por parte dos portadores de transtornos psiquiátricos pode ter uma série de consequências, tais como isolamento, baixa autoestima e ao fato de não procurarem tratamento.
Pesquisas sugerem que o combate a este preconceito para consigo mesmo pode ser feito em várias etapas: a primeira seria revelação do transtorno psiquiátrico, onde a pessoa conta para os outros que possui um problema nesta área da saúde. Esta revelação pode ser completa (para todos) ou parcial (por exemplo, apenas para as pessoas que têm o mesmo problema). A revelação completa, apesar de ser uma opção válida, pode trazer prejuízos, dependendo do meio – na Índia, por exemplo, a presença de um transtorno mental poderia justificar um divórcio.
Uma atitude mais afirmativa em relação aos transtornos mentais seria o empoderamento (do inglês empowerment) dos indivíduos envolvidos, o que significa conscientizá-los de seu poder, suas capacidades e envolvê-los em atividades de ativismo e autoafirmação. Existem estudos que dizem que este tipo de procedimento aumenta a autoconfiança, a autoestima, o otimismo e a qualidade de vida.
Assim, no combate ao preconceito contra os pacientes psiquiátricos, há necessidade de uma combinação de esclarecimento da sociedade, dos profissionais de saúde, dos próprios pacientes e de uma atitude proativa por parte destes, de modo que possam ter uma participação maior nos seus próprios destinos.
1) Evans-Lacko S, Little K, Meltzer H, Rose D, Rhydderch D, Henderson C, Thornicroft G. Development and psychometric properties of the Mental Health Knowledge Schedule. Can J Psychiatry. 2010 Jul;55(7):440-8.
2) Henderson C1, Evans-Lacko S, Thornicroft G. Mental illness stigma, help seeking, and public health programs Am J Public Health. 2013 May;103(5):777-80. doi: 10.2105/AJPH.2012.301056. Epub 2013 Mar 14.
Imagem de capa: Shutterstock/BlurryMe
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