As relações são construídas por meio de trocas. Trocamos afetos e até mesmo interesses o tempo todo.
O psiquiatra e psicoterapeuta Flávio Gikovate é categórico ao afirmar em vários dos seus livros que a diferença e a complementaridade de características pessoais pode atrair, mas o que perpetua uma relação saudável e de amor verdadeiro são as afinidades.
Todos sabemos que cada pessoa possui características de personalidade e atitudes genuínas que as faz ser exatamente o que são. Sendo assim, obrigar um outro ser a pensar como você é algo completamente disfuncional e improdutivo.
Por que você acha que o outro precisa concordar com você?
Os conflitos existirão em todas as relações: pais e filhos, namorados, casais, amigos, parceiros de trabalho, entre tantas outras possíveis.
Nos momentos mais difíceis, é necessário que as pessoas desenvolvam caminhos para coexistir. Isso acontecerá pelo viés do exercício da tolerância: quem é seguro de seus valores pessoais e escolhas, por exemplo, não precisa obrigar ninguém a pensar igual a si mesmo. Hoje em dia, frente às demonstrações de intolerância que vivenciamos, o que mais fica evidente é a fragilidade de quem berra.
Quando não for possível um consenso as pessoas têm que concordar em discordar entre si.
A maturidade das relações passa por essa capacidade adaptativa de lidar com as diferenças, dando a elas o espaço necessário para criar uma relação de troca, mas sem permitir que elas constituam o centro da relação. Afinal, não são as diferenças que aproximam as pessoas e sim os assuntos, interesses, objetivos e projetos que venham a ter em comum.
Ou seja, as diferenças fazem o importante papel de trampolim para o amadurecimento da relação, uma vez que não existe conflito nas afinidades.
Tolerância e aceitação, entretanto, não justificam a permanência em relações abusivas. Sempre que nos sentirmos abusados em nossa essência devemos ter a percepção de que algo precisa ser revisto e, se for o caso, mudanças mais práticas devem acontecer. Situações de abuso, aliás, pedem mesmo medidas práticas e muitas vezes radicais, como o definitivo afastamento do abusador e limites inquestionáveis para evitar que o abuso se repita – por vezes, esses limites são de natureza jurídica, inclusive.
O que prende alguém a um local ou pessoa que lhe faz mal?
Hábito, necessidade financeira, falta de estima. Qualquer que seja a resposta atual não justifica uma posição permanente. As perguntas são: É assim que eu quero ficar? O que precisa ser feito para que aconteça a mudança? Qual o primeiro passo que devo dar?
Como a vida melhora quando nos afastamos de quem nos faz mal.
Se tivermos clareza de investir realmente nas pessoas com que queremos permanecer a médio e longo prazo, poderemos direcionar o nosso melhor ao local certo.
Se conseguimos fazer escolhas e trabalhar nas mudanças necessárias para nos afastarmos do que (e de quem) nos puxa para baixo, criaremos oportunidades de nos dedicarmos às relações verdadeiras, aquelas que de fato merecem todo o nosso investimento pessoal.
Se não for alguém que você não considere, não gaste seu tempo com explicações
Só quem realmente amamos ou a quem devemos alguma obrigação merece ouvir nossas explicações. Os demais, cabem perfeitamente no nosso silêncio.
Se for alguém que te destrata, afaste-se emocionalmente e, se possível, fisicamente também
Talvez a mudança necessária não seja possível hoje, mas você está fazendo algo concreto para mudar sua situação? Já pensou em pegar um papel e escrever um plano de vida a curto, médio e longo prazo e, junto a ele, anotar as mudanças e atitudes necessárias para que as coisas aconteçam de verdade?
Os conflitos acontecem o tempo todo, mas a escolha de quais são necessários para a sua vida e em quais “batalhas” você quer entrar é o que fará toda a diferença em sua vida. Não se desgaste ou entregue a sua intimidade para qualquer um. Suas lutas devem acontecer com e por quem também luta com e por você.
Imagem de capa: Sydney Sims on Unsplash