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Como ser menos estúpido, segundo os psicólogos

Por Roberto Ferdman

Num qualquer dia, o ser humano médio defronta-se com uma data de comportamentos invulgares. Uma bizarra forma de vestir, uma conversa estranha, um gesto insólito ou qualquer outra coisa que realmente não se encaixa nos cânones dos comportamentos aceitáveis. Entre as infracções mais comuns e que tendem a fazer-nos reflectir mais do que qualquer outra, há aquelas que gostamos de qualificar de estúpidas.

Aquela coisa que aconteceu. Aquela coisa que aquela pessoa fez. Foi tão… estúpida.

Usamos a palavra com imensa liberdade e, no entanto, sem nunca – ou raramente – pararmos para considerar exactamente o que é que queremos dizer com isso. Temos pelo menos uma ideia daquilo que não significa: o facto de chamar estúpida a uma pessoa não implica que essa pessoa não seja esperta. Afinal de contas, há muita gente com um QI elevado que consegue, apesar disso, fazer coisas que consideramos “estúpidas”.

Mas isso não responde à questão de saber o que “estúpido” quer dizer, nem qual a importância que damos  à forma como utilizamos esta palavra. Falhar uma paragem de comboio, ou chocar contra um poste na rua, simplesmente porque a pessoa estava a ler um livro cativante – apesar de dizermos que isso é estúpido, é com certeza outra coisa, algo de mais preciso.

Intrigado por estas questões, Balazs Aczel, professor do Instituto de Psicologia da Universidade Eötvös Loránd de Budapeste (Hungria), quis saber mais. Interessou-se pelo estudo do estranho mundo dos comportamentos não inteligentes precisamente porque tem sido surpreendentemente pouco explorado, declara. E concebeu então um estudo.

Aczel, juntamente com Bence Palfi e Zoltan Kekecs, outros dois especialistas de Psicologia da Universidade Eötvös Loránd, coligiu uma amostra de histórias – 180, ao todo – a partir de sites de notícias, blogues, fóruns e outra literatura publicamente disponível, onde era descrita uma acção que poderia ser caracterizada como estúpida.

As histórias foram a seguir apresentadas a mais de 150 pessoas, a quem foi pedido para preencherem um questionário. Para cada história, as pessoas responderam a uma série de perguntas, que incluíam algumas como: “Descreveria esta acção particular como sendo estúpida?” E caso a resposta fosse afirmativa, perguntava-se então: “Numa escala de um a dez, quão estúpida diria que é?”

Os participantes tinham ainda de explicar por que é que pensavam que uma dada acção era estúpida escolhendo para o efeito uma entre muitas categorias. E o que os cientistas descobriram foi que as pessoas tendem a concordar acerca daquilo que merece ou não ser chamado estúpido. A taxa de concordância foi, aliás, notável: à volta dos 90%.

A equipa também constatou que existem aparentemente três situações face às quais temos tendência para aplicar a palavra estúpido. Há três cenários, caracterizados por tipos específicos de comportamento, que fazem as pessoas estremecer ou rir ou levar as mãos à cabeça.

O primeiro é o que Aczel e os seus colegas chamam a “ignorância confiante”. Acontece quando a capacidade que uma pessoa pensa ter para fazer algo ultrapassa de longe a sua real capacidade de o fazer – e está associado ao mais alto nível de estupidez.

Imagine-se, por exemplo, um condutor embriagado que pensa erradamente que é perfeitamente capaz de manejar o volante do seu carro. Ou um ladrão que, pensando roubar um telemóvel, mete a mão a um dispositivo de GPS, permitindo assim que a polícia o localize imediatamente.

As pessoas não acham apenas que este tipo de comportamento é estúpido; parecem associá-lo ao nível máximo de estupidez. Estes exemplos mereceram uma nota média de estupidez de 8,5 em 10, bastante mais alta do que qualquer outro.

“A coisa mais estúpida que uma pessoa possa fazer é sobrestimar-se”, diz Aczel. “E o que isso nos diz é que não é preciso ter um QI baixo, na opinião das pessoas, para agir estupidamente. Basta ter uma má percepção das suas próprias capacidades.”

O segundo cenário em que usamos a palavra estúpido é quando alguém faz alguma coisa porque perdeu, em certa medida, a capacidade de agir de outra maneira. Aczel fala aqui em “falta de controlo” e caracteriza a situação como sendo o resultado de “comportamentos obsessivos, compulsivos ou de toxicodependência”. Dá como exemplo uma pessoa que decide cancelar os seus planos para se encontrar com um bom amigo para poder ficar em casa a jogar jogos de vídeo.

TEXTO RETIRADO DE PÚBLICO.PT

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