Por Sierra Bein
A primeira vez que terminei uma amizade foi na primeira série. Percebi que minha melhor amiga pedia mais de mim do que dava; ela também me julgava muito. Mesmo tendo só uns sete anos, eu sabia que ela tinha que ir. Naquela idade parecia fácil cortar pessoas da minha vida. Hoje, 15 anos depois, percebo como é difícil terminar com um melhor amigo. Agora, no meu último ano de faculdade, terminei como outra amiga. Ainda fico triste pensando como a gente era próxima. Terminar uma amizade é especialmente doloroso.
Seu namorado pode não saber o número real de pessoas com quem você transou — mas sua amiga sabe. Amigos são especiais, e eu diria que terminar com um amigo é tão traumático quanto terminar um relacionamento romântico. Términos de amizade modernos tendem a separar grupos de amigos; você ainda precisa lidar com a falta que a pessoa faz na sua vida; você a bloqueia nas redes sociais ou fica stalkeando na esperança de que dê merda na vida dela (geralmente não dá); e agora também tem que evitar os lugares que vocês frequentavam. As coisas podem dar errado muito fácil. Então falei com alguns terapeutas de relacionamento, para entender se existe um jeito de, sem drama, terminar com um BFF.
Dá pra perceber quando é uma boa hora de acabar uma amizade. Talvez vocês não se falem tanto ou você se vê procurando desculpas para encontrar a pessoa no bar. Mas os sinais são bastante universais.
“Acho que um dos fatores mais comuns é uma falta de conexão, em qualquer nível. Pode ser sobre valores, prioridades, objetivos ou interesses”, me disse Jenny Glozman, uma terapeuta de Toronto. Mas além disso, ela diz que expectativas diferentes, falta de confiança e falta de comunicação são razões que ela geralmente vê para amizades terminarem, incluindo um sentimento de que você está dando mais que recebe. (“Quantas rodadas você me deve mesmo?”)
Allan Studd, outro terapeuta de Ottawa Valley, descobriu que saúde mental individual pode afetar amizades. “Coisas como depressão podem facilmente entrar em jogo”, ele diz. “Depressão, estresse, ansiedade, todas essas coisas afetam um relacionamento e colocam pressão sobre a relação.”
Quando chegamos à faixa dos 20 anos, mudamos e aprendemos mais sobre nós mesmos. Acontece tipo uma crise de um quarto de idade, você começa uma carreira, entra num relacionamento sério (ou não), então acaba tendo que matar amizades ruins pelo caminho.
Todo mundo que já assistiu algum tipo de comédia/drama adolescente sabe do poder das últimas palavras. Na verdade, quando está no ensino médio a maioria simplesmente manda uma mensagem abrupta e quando entra na universidade já deu um perdido completo. Quando quero terminar com amigos, quero sempre aquele término perfeitamente claro, mas aparentemente essa é uma das piores maneiras de terminar, segundo os terapeutas.
“Quando você apenas não fala com a pessoa e tenta tirar ela da sua cabeça, muitas vezes isso cria esse laço negativo contínuo entre vocês”, diz Glozman. “Você vai se apegar a essa raiva e ressentimento, e isso nunca vai desaparecer.” “Sugiro terminar sempre cara a cara e da maneira mais honesta possível”, diz Studd. “O que significa dizer para a pessoa ‘isso não está dando certo para mim’ ou ‘parece que não temos mais tanto em comum’.”
Outro jeito menos dramático de terminar uma amizade é quando vocês se distanciam. Essa é uma separação mais neutra e ambas as partes tendem a ter responsabilidade: mudança de interesses, mudança de cidade, etc. “Quando mais próxima a amizade, mais esforço você deve colocar nela (desde que seja seguro fazer isso)”, disse Ellis Nicolson, um psicoterapeuta de casais e famílias. “Ser transparente provavelmente não vai magoar a outra pessoa.”
Então mesmo que você esteja inclinado a simplesmente sumir, considere o fato de que os especialistas dizem que é mais saudável fazer o oposto.
Vinho vagabundo, sexo equivocado e um novo corte de cabelo geralmente são as opções preferidas dos jovens adultos depois de um término normal. Mas quando uma amizade acaba, você pensa em todas as conversas sérias que vocês tiveram, histórias vergonhosas e fotos constrangedoras que a outra pessoa ainda tem, sem falar nas piadas internas que você não pode mais usar. O pior é pensar nos amigos em comum. Você fica sem saber o que fazer e pensa: “Meus outros amigos estão do lado dela ou será que acham tudo isso bobagem?” Para entender os efeitos pós-emocionais de uma amizade que acaba, os especialistas fizeram referência aos cinco estágios da perda: negação, barganha, tristeza/depressão, raiva e aceitação.
“Vejo esses passou como uma espiral, você pula de um sentimento ao outro até completar o círculo, e com o tempo começa a experimentar o estágio da aceitação mais e mais”, diz Glozman.
É nesses primeiros estágios que você começa a sentir todo tipo de emoção negativa contra a pessoa. É nessa época que começamos a culpar o outro por todo tipo de coisa imaginável. “Ela fez aquilo comigo. Eu nunca fiz nada de errado, como ela ousou?” E mesmo que pensar essas coisas (eu mesma tenho que admitir) seja satisfatório em algum grau, Glozman lembra que é importante pensar no seu papel no término.
“É nessa parte que você realmente aprende. Essa é a parte que você pode controlar para seguir adiante”, ela diz.
“É uma rua de mão dupla. Sempre digo aos casais com quem trabalho que uma relação é meio a meio… Que cada parceiro tem 100% de responsabilidade na sua parte do relacionamento”, diz Studd. “Em termos de terapia, eu cuidaria de uma amizade do mesmo jeito que cuidaria de um casal.”
Em outras palavras, eu e você erramos em algum ponto do caminho, e não devemos ficar tristes o tempo todo.
Agora vem a parte desconfortável: vocês vão se encontrar de novo em algum momento. Pode ser numa festa, na escola ou no trabalho — pode ser na padaria, tanto faz, você entendeu onde quero chegar. Vai parecer que a pessoa está em todo lugar em certos momentos.
“Você precisa agir de um jeito que honre vocês duas, seja do jeito que for. Para alguns é ser superior, para outros pode ser uma tentativa de resolver questões que ficaram para trás, para outros é a distância”, disse Nicolson.
Dito isso, meu melhor conselho é parar de desperdiçar tempo planejando o que você vai dizer, estilo série adolescente. Essa é sua chance de mostrar que você está bem! Você quase não reconheceu a pessoa! Você não perdeu o sono pensando nela, ouvindo suas músicas favoritas e chorando! Se a pessoa perguntar daquela camiseta que deixou com você, diga que doou por acidente — você se tornou uma pessoa muito melhor sem ela. Mas os terapeutas provavelmente vão discordar de mim nessa.
“Qual o propósito do plano? Qual o objetivo disso? Esse tipo de ‘esquema de vingança’, se você preferir — isso provavelmente é mais prejudicial do que basicamente ter um plano de segurança”, diz Glozman. “Acho que é importante ter um plano de segurança na cabeça, porque isso faz você não ter medo da interação.”
Consertar relacionamentos nunca foi uma prioridade para mim, mas todos os terapeutas com quem falei disseram que isso quase sempre é possível.
“Você pode lidar com muitas coisas no contexto de um relacionamento”, diz Glozman. “Há meios de cura, só que dão trabalho. Temos que ter muita disposição para sentar com os sentimentos de outra pessoa e… nem sempre estamos dispostos a fazer isso.”
“Seja claro sobre suas necessidades. Se a outra pessoa não responder a elas, então é hora de deixá-la para trás”, acrescentou Nicolson.
Mais importante, os terapeutas aconselharam falar com alguém, ou procurar um terapeuta (humm, $$$) se você realmente precisar se abrir. “As pessoas sempre acham que tem que ser algo muito severo ou extremo para procurar ajuda psiquiátrica, e acho que, culturalmente falando, não contextualizamos o fim de uma amizade nesse nível. Mas você está certa, pode ser tão traumático quanto qualquer final de relacionamento, é só que não falarmos sobre isso dessa maneira, e portanto desencorajamos as pessoas a procurar ajuda.”
Se a coisa for impossível de salvar mesmo, pelo menos faça algumas das coisas que faria no caso de qualquer perda na sua vida — tome sorvete, durma um monte, assista séries, tente fazer exercícios ou algo produtivo. Seja um pouco egoísta e faça algo por você.
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Tradução: Marina Schnoor
Imagem de capa: Shutterstock/Antonio Guillem
TEXTO ORIGINAL DE VICE
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