Como vai a comunicação em família?

Por Pedro Leite Machado

“O que você diz pode salvar ou destruir uma vida; portanto, use bem as suas palavras e você será recompensado”. Provérbios 18:21

Esse é um tema muito importante e oportuno. Nele abordarei princípios que nos ensinam que a partir do nosso modo de comunicação, poderemos dar vida ou sufocar e até matar nossos relacionamentos. Dependendo da forma como nos comunicamos com a nossa família, construiremos, ou não, pontes de cooperação, respeito e amor, que nos possibilitarão o acesso a uma convivência calorosa, saudável e harmoniosa.

A TECNOLOGIA E A FAMÍLIA

Vivemos na era da tecnologia e da comunicação. Apesar disso, nunca se observou tanta falta de comunicação entre as pessoas. Nos lares, a família passou a se comunicar mais por telefones e computadores. Tem sido comum, pais e filhos passarem horas em bate-papo virtual, disponibilizando pouco ou nenhum tempo para seus relacionamentos pessoais. Não são capazes de passarem cinco minutos numa conversa à mesa, desfrutando os benefícios desse encontro.

No filme de ficção “Os Substitutos”, observamos que a tecnologia foi ganhando gradativamente o espaço dos relacionamentos, e os humanos acabaram dando preferência por se relacionar através dos seus robôs, em detrimento do convívio tradicional entre pessoas. No filme “Avatar”, observamos a mesma tendência, onde o virtual cedeu lugar para o real. É claro que estamos longe disso se tornar real, mas essas ideias apontam a necessidade urgente que temos em resgatar a boa comunicação em nossas famílias. É através desse resgate que se possibilitará o estreitamento dos laços parentais, produzindo assim um ambiente de vida e satisfação.

Assista a animação “A família e a tecnologia”.

O RESULTADO DA FALTA DE COMUNICAÇÃO

Se a boa comunicação é a garantia de um ambiente harmonioso, por outro lado, a falta de comunicação restringe as relações, estrangula a vivência familiar, retirando-lhe a possibilidade de uma vida minimamente saudável.

No casamento, observamos que a morte do diálogo acaba, quase sempre, culminando no divórcio. Na verdade, antes mesmo de um casal se separar, o diálogo já se esgotou há muito tempo, servindo assim, para acelerar todo esse processo de ruptura familiar.

Sobre a responsabilidade de cada parceiro nesse processo, podemos utilizar esse belo conto:
Em uma vila da Grécia, vivia um sábio famoso por saber sempre a resposta para todas as perguntas que fossem feitas. Um dia, um jovem adolescente, conversando com um amigo, disse: “Eu acho que sei como enganar o sábio. Vou pegar um passarinho e o levarei, dentro da minha mão, até o sábio. Então, perguntarei a ele se o passarinho está vivo ou morto. Se ele disser que está vivo, espremo o passarinho, mato-o e deixo-o cair no chão; mas se ele disser que está morto, abro a mão e o deixo voar”.
Assim, o jovem chegou perto do sábio e fez a pergunta: “Sábio, o passarinho em minha mão está vivo ou morto?”
O sábio olhou para o rapaz e disse: “Meu jovem, a resposta está em suas mãos!”

Assim é comunicação no casamento e nas demais esferas da vida. O bom resultado que esperamos, só depende da maneira como nos comunicamos.

COMO VOCÊ SE COMUNICA COM A SUA FAMÍLIA?

Quero ilustrar esse ponto a partir da metáfora conhecida como “A CASA DOS MIL ESPELHOS”:

Tempos atrás em um distante vilarejo havia um lugar conhecido com Casa dos Mil Espelhos.

Um pequeno e feliz cãozinho soube dele e resolver visitá-lo. Lá chegando, saltitou até a porta, feliz, abanando o rabinho e para sua surpresa, mil outros cãezinhos igualmente felizes estavam lá. Abriu um enorme sorriso e recebeu mil outros enormes sorrisos em retribuição. Quando saiu da casa, pensou “Que lugar maravilhoso”! Voltarei sempre!

Neste mesmo vilarejo havia outro cãozinho que não era tão feliz quanto o primeiro. Este cãozinho resolver ir até a casa. Escalou lentamente a escada e olhou através da porta. Mil olhares hostis apareceram. Quando os viu, mostrou os dentes e rosnou. Mil cãezinhos rosnaram e mostraram os dentes para ele. Quando saiu da casa, pensou “Que lugar horrível”! Nunca mais volto aqui!

Todos os rostos do mundo são como espelhos. Prontos para refletir aquilo que oferecemos. Assim, nossa família acaba refletindo para nós aquilo que somos.

Você não pode esperar doçura, se distribui amargura. Não pode colher diálogo, se semeia silêncio e indiferença. Você não pode receber elogio, se distribui críticas. Não pode ter espíritos desarmados, se semeia tensões dentro do seu lar. Você não pode ter uma família harmoniosa, se constantemente está em pelejas com ela.

COMO ESTÁ A COMUNICAÇÃO NO SEU CASAMENTO?

No casamento e na família, temos que aprender que pessoas valem mais do que coisas. Temos que aprender que o “importante” vale mais que o “urgente”. Devemos ser criteriosos, pois vivemos numa época em que tudo é colocado como urgente.

Quantas vezes, em nossa casa, o telefone toca e saímos correndo para atender um amigo e lá conversamos por vinte minutos. Por outro lado, quando o filho nos chama para ajudar a fazer o dever de casa, dizemos não ter tempo e pedimos para que ele o faça sozinho. Dessa forma, a criança passa a interpretar que ela não é tão importante, começa a descobrir que ela não tem o mesmo crédito com você, como os seus amigos.

Dessa maneira, substituímos o urgente em detrimento do importante, e assim, a comunicação começa a ruir dentro de nossa casa.

COMO É O SEU JEITO DE FALAR COM AS PESSOAS?

“A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira”. Provérbios 15:1

Isso fala da necessidade que temos em aprender a falar adequadamente, selecionando assim o que seja proveitoso em nosso diálogo. Muitas vezes, falamos irrefletidamente, com volume de voz alterado, agredindo e ferindo as pessoas ao nosso redor. A orientação é que sejamos cautelosos no falar.

Há momentos que temos que respirar fundo, evitando assim falar todas aquelas palavras impensadas que parecem querer sair automaticamente das nossas bocas. Não fale precipitadamente ou irrefletidamente aquilo que vier à cabeça, isso pode trazer danos irreparáveis aos seus relacionamentos.

“O que guarda a sua boca e a sua língua guarda a sua alma das angústias”. Pv 21.23

Baseado nessa premissa, nossa palavra deve ser boa, verdadeira e oportuna. Ela deve edificar e encontrar graça no coração das pessoas.

Necessitamos aprender e colocar em prática, que no âmbito da palavra, o “como” você fala é tão importante quanto “o que” você fala. A maneira de falar sempre deve assumir uma primazia em relação ao conteúdo da sua fala. Por isso, seja pródigo nos elogios, seja doce na sua maneira de se expressar.

Assista ao filme: Por que as pessoas gritam?

COMO VOCÊ ESTÁ LIDANDO COM O PERDÃO?

Devemos aprender a lidar com o perdão, pois sua eficácia está cientificamente comprovada. O ato de perdoar produz benefícios, para a saúde física e psicológica. Caso contrário, nosso coração vai se tornar insensível e isso repercutirá diretamente em nossa saúde e em nossos relacionamentos.

O exercício do perdão se constitui num dos mais poderosos facilitadores de relacionamentos saudáveis. Assim, necessitamos da prática constante do perdão para sarar nossos relacionamentos. No ambiente onde há perdão, as pessoas sentem-se mais leves, livres de culpa, sem estresse e desequilíbrio emocional.

Existem Maneiras certas e erradas de lidar com questões que nos afligem. Uma maneira errada é “explodir”, utilizando a filosofia do “bateu, levou”. Algumas pessoas dizem: “Quando eu explodo, fico tranquilo”. Isso é uma verdade. Todavia, marcas são deixadas nas pessoas à sua volta, pelas palavras faladas irrefletidamente, em momento de desentendimento.

Outra maneira equivocada é “armazenar”. É quando guardamos e congelamos nossas amarguras, sem nos permitir resolver nossas pendências que continuarão como feridas abertas. Na verdade, agindo assim, estaremos armando uma bomba dentro de nós mesmos, sendo potenciais candidatos a somatização, devido cargas emocionais sem solução.

A maneira correta de lidar com essas questões amargas deve ser esta: Devemos zerar a nossa conta negativa todos os dias a partir do exercício do perdão. Sei que perdoar não é um processo simples, pois não é fácil lidar com o poder da ofensa psíquica. Mesmo assim, necessitamos fazer constantemente uma faxina interna e recomeçar uma nova caminhada junto das pessoas com as quais nos desentendemos.

Experiências sugerem que o perdão tem um papel importante no que diz respeito a redução da depressão e da ansiedade, assim como também foi ligado a pequenos aumentos de auto-estima.
A experiência mostra que colheremos bons frutos pelo aprendizado do perdão em nossa família. Isso vai proporcionar o retorno da comunicação, possibilitando um ambiente mais harmonioso, prazeroso, se configurando num espaço de produção de vida.

 

COMO ESTÁ SUA CAPACIDADE DE VALIDAÇÃO DAS PESSOAS?

Validar o outro significa confirmá-lo, como dizer: “Você tem significado para mim”. Validar alguém é confirmar que essa pessoa existe, que ela é real, verdadeira, que ela tem valor. Todos nós precisamos ser validados pelos outros, constantemente. As pessoas necessitam ser elogiadas e encorajadas para continuarem suas caminhadas.

Conta a história que certa vez o rei Salomão fez menção da sua mulher amada: “Você é toda linda, minha querida; em você não há defeito algum”.

Essa frase nos mostra uma ótica maravilhosa de um marido por sua mulher. Isso demostra uma capacidade surpreendente de confirmação do outro. Fico imaginando que mulher especial deveria ser esta.

Existe uma frase muito bela de San Kenn que diz: “Passamos a amar não quando encontramos a pessoa perfeita, mas quando aprendemos ver perfeitamente uma pessoa imperfeita.”

Na realidade, isso serve para ilustrar que em nossas relações devemos focar nas virtudes e não nos defeitos. Devemos assumir o papel de encorajadores, acolhedores e daqueles que animam, elogiam e ajudam a aliviar as tensões da vida em comunidade. E tudo isso se faz principalmente através das palavras.

Pedro Leite Machado
Psicólogo Clínico, especialista em Gestalt-terapia Clínica.






* Graduado em Psicologia pela FAESA-ES; * Pós-Graduado em Gestalt-terapia Clínica PELA MULTIVIX-ES; * Pós-Graduado em Terapia Cognitivo Comportamental pela UNIARA-SP.