Por Eric Barton
Você não gosta – ou até mesmo odeia – seu trabalho?
Se você respondeu “sim”, não está só – pelo menos no que depender das estatísticas.
Cerca de dois terços das pessoas, independentemente de suas carreiras – de operários até médicos ou pilotos – relatam um alto nível de insatisfação com seu trabalho. A principal razão? Muitos de nós nos sentimos subvalorizados, gastando nosso tempo precioso em vários projetos superficiais em vez daqueles de que gostamos.
Mas há uma boa notícia. Você pode virar o jogo e reverter os sentimentos de desencantamento e desilusão, desde que seja proativo e esteja aberto a mudanças. Com alguns passos cuidadosos, um pouco de autoanálise e uma conversa mais direta com seu chefe, você pode transformar o trabalho que você detesta em algo que você ama – ou pelo menos tolera.
Primeiro, vamos aos números:
Trabalhar sem propósito
Podemos aprender a odiar nosso trabalho simplesmente porque não vemos como nossas atividades são importantes para o funcionamento geral:
– 33% dos empregados se interessam ativamente pelo trabalho
– 16% estão ativamente desinteressados no trabalho
– 51% não conseguem se interessar pelo trabalho
Falta de oportunidade
Funcionários dizem que ficaram desinteressados porque se sentem subvalorizados – e poucos deles passam seus dias trabalhando em coisas que gostam de fazer.
– 18% têm tempo para colocar em prática sua criatividade
– 21% têm a oportunidade para focar em apenas uma tarefa
– 33% fazem o que mais gostam
Chefes que não ouvem
Muitos empregados começam a odiar o trabalho porque não gostam de seus chefes – ou não os respeitam.
– 30% dizem que seus chefes lhes pedem ajuda para estabelecer objetivos
– 20% tiveram uma conversa com seus chefes nos últimos seis meses sobre seus objetivos
– 23% sentem que seus gestores lhes dão críticas construtivas
Se você aprendeu a odiar seu trabalho, saiba, em primeiro lugar, que não é sua culpa – pelo menos não inteiramente.
Como virar o jogo
Se você aprendeu a odiar seu trabalho, saiba em primeiro lugar que não é sua culpa – pelo menos não inteiramente. Parte do problema é na ideia criada pela sociedade de como um trabalho deve ser, diz Paul White, psicólogo, consultor e escritor americano.
“As pessoas começam a trabalhar e acham que vão salvar o mundo usando sua criatividade para solucionar problemas”, diz ele. “Especialmente em postos de nível básico, há poucos trabalhos que dão a noção do todo e exigem energia criativa.”
O primeiro passo para virar o jogo, recomenda White, é o autodesenvolvimento. Reflita sobre suas expectativas talvez estarem muito altas, pelo menos para a posição que você ocupa atualmente, e ajuste-as para o trabalho.
Então, pense por que você começou a odiar o trabalho, aconselha Scott Eblin, coach e escritor americano. Reflita sobre por que você aceitou o trabalho inicialmente e lembre-se do que você gostava quando começou a desempenhá-lo.
Isso pode ajudá-lo a perceber quais áreas você gostaria de mudar. Em seguida, crie um plano de ação para dar a volta por cima, diz Eblin.
“Não ache que você vai deixar de odiar seu trabalho da noite para o dia”, acrescenta ele. “Busque um nível de satisfação de 20% a 30% no primeiro momento para depois dar o próximo passo.”
Tempo para arriscar
Não se trata de algo difícil de alcançar se você começar a focar em coisas menores inicialmente, opina George Elfond, CEO da Rallyware, uma companhia de software sediada em San Francisco, na Califórnia (EUA), que ajuda a treinar novos funcionários.
“Pode haver pequenos detalhes que fazem uma grande diferença na sua felicidade”, diz Elfond.
Coisas simples – como lotar sua gaveta de trabalho com guloseimas, sair do escritório para tomar um café no fim da tarde ou trabalhar de casa ou do parque – podem ajudar a melhorar seu dia a dia.
Coisas simples – como lotar sua gaveta de trabalho com guloseimas, sair do escritório para tomar um café no fim da tarde ou trabalhar de casa ou do parque – podem ajudar a melhorar seu dia a dia.
Feitos essas pequenas mudanças, chegou o momento de enfrentar desafios maiores. Você já aprendeu a detestar seu trabalho, então, sugere Elfond, é hora de se arriscar para consertá-lo.
“Vá em frente e experimente”, diz Elfond. “O que você tem a perder quando você já odeia o trabalho que você está fazendo?”
Isso significa, por exemplo, tentar sair da alçada de um chefe de que você não gosta. Peça para trabalhar em outro departamento, ou se ofereça para executar tarefas sob a responsabilidade de outra pessoa. Talvez seu chefe fique ofendido, mas Elfond argumenta que não há muito o que perder se seu relacionamento com ele já não é bom.
Se algumas tarefas do seu trabalho se tornaram banais e automáticas, concentre-se no que você pode controlar. Há tarefas que você pode evitar ou mesmo delegar para outras pessoas? Para médicos, por exemplo, talvez valha a pena investir mais energia em passar tempo com os pacientes e menos em tarefas administrativas, que podem ser desempenhadas por uma secretária.
Ou seja, tudo se resume a reorganizar suas atividades em colaboração com seu chefe e seus colegas, diz Thomas Calvard, que ensina gestão de recursos humanos na Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Seja proativo e leve essas mudanças para o seu chefe, defende Calvard. Na maior parte dos casos, ele(a) não sabe que você está infeliz com algumas atividades que você desempenha, e talvez você possa ter mais flexibilidade em definir suas prioridades no seu dia a dia.
“Estamos falando das pessoas voltarem a amar seu trabalho e isso significa talvez redefinir o que elas fazem e como elas fazem”, diz o especialista.
O melhor dia, todo dia
Para Anite Bowness, que atua para a consultoria empresarial Saba Software em Ottawa, no Canadá, há uma solução simples para todo mundo que quer dar a volta por cima e reaprender a amar seu trabalho.
“Lembre-se do melhor dia que você teve no seu trabalho, nos momentos em que você foi mais feliz”, diz Bowness. “Então, pense em como você pode repetir isso todo dia.”
Bowness se deparou com essa situação na última empresa em que trabalhou. Ela conta ter ficado desinteressada por seu trabalho, pois tinha de desempenhar atividades relacionadas à tecnologia da informação quando sua experiência era baseada em recursos humanos.
Um dia, seu chefe a chamou em sua sala e lhe perguntou por que ela estava apática. Bowness diz ter percebido então que precisava mudar. Perguntou a ele se suas tarefas poderiam ser redefinidas, o que lhe permitiria focar mais em coisas das quais gostava. No fim, o superior lhe deu uma nova função, muito mais gratificante.
Agora, como chefe, Bowness pede a seus subordinados que façam a mesma autoanálise.
“Muitas pessoas não se sentem plenas no trabalho”, diz. “Mas não tem que ser assim. Podemos encontrar maneiras de voltar a amá-lo”, conclui.
Imagem de capa: Shutterstock/fizkes