Soraya Rodrigues Aragão

Compulsão Alimentar e sua relação com a fome emocional e compensações afetivas

De acordo com o DSM-V, o Transtorno de Compulsão Alimentar é um distúrbio caracterizado por episódios recorrentes de compulsão em se alimentar, seguindo 2 critérios fundamentais: Ingestão, em um curto período de tempo, aproximadamente 2 horas, de uma grande quantidade de alimentos e do sentimento de falta de controle sobre o episódio. Deste modo, a pessoa se alimenta mesmo que não tenha fome fisiológica.

Na compulsão alimentar alguns gatilhos são motivos específicos para comer tais como uma frustração, estresse, uma má notícia, uma discussão com o parceiro ou ansiedade, por exemplo.

Exagerar na alimentação de vez em quando é normal, principalmente em festividades, caso seja algo pontual, isolado. Os critérios para um diagnóstico preciso de Compulsão alimentar são episódios de comer excessivo no mínimo 2 vezes por semana em um período de pelo menos 3 meses ininterruptos.

No aspecto psicológico, a pessoa não saber manejar sua impulsividade e estados emocionais. Obviamente que durante o dia, temos pequenas variações de humor e isso é normal. Contudo, para quem sofre de Compulsão Alimentar sentimentos como alegria, euforia, tristeza ou uma decepção são motivos para se alimentar em demasia.

Vale a pena salientar que a Compulsão Alimentar pode estar associada a outras comorbidades, como os transtornos de ansiedade, transtornos do impulso, do humor, bem como de outros transtornos alimentares.

Características e sinais:

1- Comer escondido e em grandes quantidades;

2- Comer com voracidade, não saboreando os alimentos;

3- Se alimentar até sentir dor no estômago, chegando mesmo a vomitar sem que haja indução do vômito;

4- Sentimento de arrependimento, pesar, fracasso, culpa e vergonha após a compulsão;

5- Medo do julgamento social;

Tratamento:

O tratamento é multidisciplinar e engloba uma equipe composta por psicólogo, nutricionista, educador físico e psiquiatra.

Em alguns pacientes será necessário a utilização de medicação. A psicoterapia é parte fundamental no tratamento, pois são os estados emocionais que impulsionam a pessoa a comer compulsivamente.

A Terapia Cognitivo-comportamental tem se mostrado muito eficiente para a compreensão e manejo dos estados afetivo-emocionais, da impulsividade e ansiedade. O trabalho a ser realizado consiste em técnicas específicas para a criação de estratégias na regulação e controle dos impulsos, do humor, de sentimentos disfuncionais, mudanças no estilo de vida e padrões comportamentais no tocante à alimentação.

Por este motivo, ressalto a importância precípua do autoconhecimento, da identificação dos gatilhos afetivos, emocionais e comportamentais que levam à compulsão alimentar, bem como das sensações associadas à experiência de comer excessivamente.

É imprescindível observar os aspectos emocionais e conflitos internos a longo prazo que porventura não foram elaborados e ressignificados, bem como daqueles no momento atual da vida do paciente.

Por ser subjetiva, a fome dos afetos e das emoções nunca poderá ser satisfeita, a não ser que seja resolvido o que a desencadeia e para cada pessoa estes gatilhos internos e externos são personalizados, não existindo dicas genéricas, receitas prontas ou fórmulas mágicas.

Por outras palavras, a pergunta “o que você tenta preencher ao comer em demasia?” é a mesma para todos, mas as respostas dificilmente serão as mesmas.

Entenda um pouco mais sobre o assunto neste caso clínico:

Há alguns meses, uma paciente me procurou por insatisfação com seu corpo, estando muito acima do peso.

Por questões de ética profissional, a identificarei por “X”. Em seu discurso, “X” trazia a queixa de que tinha uma voracidade por massas e doces e que o ato de comer a tranquilizava.

Porém, este estado de tranquilidade era passageiro, dando espaço à culpa, ansiedade e estados depressivos. Para “acalmar sua ansiedade”, a paciente voltava a comer novamente, o que se caracterizava uma verdadeira “bola-de-neve”, um ciclo vicioso “ansiedade- insatisfação com o corpo – ansiedade”.

Deste modo, a paciente X se observava em constante aumento de peso e se aprisionando cada vez mais em uma situação na qual não gostaria de estar, mas que não sabia como resolver sozinha, pois já tinha tentado de tudo, inclusive a pior de todas as estratégias: as dietas restritivas, um gatilho extremamente perigoso para o desenvolvimento da compulsão alimentar.

A paciente “X” já havia feito exames para descartar problemas metabólicos, dentre outras condições clínicas concernentes ao constante aumento de peso, mas não havia nada irregular. O alimentar-se em demasia da paciente estava diretamente relacionado com estados afetivos e emocionais, os quais ela não tinha desenvolvido estratégias para lidar, tampouco sequer tinha consciência plena destes. A mesma procurava preencher suas situações mal resolvidas, seus estados emocionais, conflitos, dificuldades afetivas do cotidiano e seu vazio existencial “descontando” na alimentação.

***

Photo by Jonathan Borba on Unsplash

Soraya Rodrigues de Aragão

Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Escritora e palestrante.Autora dos livros Fechamento de Ciclo e Renascimento, Supere desilusões amorosas e pertença a si mesmo, Liberte-se do Pânico e viva sem medo e Talita e o portal. Site: www.sorayapsicologa.com Email: contato@sorayapsicologa.com

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