“Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem!”
A frase acima é excelente para demonstrar como as pessoas se comportam frente a assuntos esotéricos. Se perguntarmos para as pessoas, por exemplo, se elas acreditam em horóscopo, a maioria das respostas talvez seja negativa ou traga dúvidas. Entretanto, sempre que uma previsão aparece em algum veículo de comunicação, na dúvida, quase todo mundo gosta de ler seu conteúdo “só para saber”.
Ressalvo, desde já, que não colocarei em crédito pessoas que estudam os astros de maneira séria. Atenho-me, aqui, aquele tipo de previsão astrológica que aparece diariamente na timeline das pessoas em suas redes sociais, jornais, tv e revistas. Meu enfoque é no trabalho que sabemos que é feito prioritariamente como fonte de entretenimento e onde não existe cientificidade.
Dito isso, separei 3 pontos que explicam, do ponto de vista psicológico, a razão pela qual as pessoas leem signos reiteradamente: o amor dos signos, o lado negro dos signos, a missão dos signos, o sonho secreto de cada signo e assim por diante (a criatividade é infinita).
Vamos lá:
Nós não estamos seguros em nada do que fazemos. Hoje temos casa, comida e emprego, mas amanhã isso pode mudar. O que nos mantém no caminho, muitas vezes, é uma ilusão de estabilidade. Entretanto, quando falamos em futuro, salvo em uma ou outra perspectiva ou planejamento que possamos ter, nós não sabemos de quase nada. Torna-se, então, confortável abrir um jornal onde o meu signo (baseado no dia, hora e ano em que eu nasci), define minhas características pessoais e futuro próximo. Esse encontro com respostas, no mínimo, gera uma sensação gostosa de ler algo que fala de mim e que sabe mais a meu respeito do que eu mesma. Logo, acarreta uma sensação de segurança e conforto de que as coisas são previsíveis- e esse é o primeiro ponto que nos fisga.
Se eu leio que sou impulsiva porque meu signo é impulsivo, que sou metódica, ciumenta, possessiva ou extrovertida porque nasci em tal data isso justifica características que eu posso ter, ou não. Afinal, também temos que levar em conta o ascendente, né. Mas o que eu quero dizer é que, se eu encontro na leitura características que são compatíveis e as reconheço como provenientes do destino, isso pode tanto emprestar uma identidade que não é a minha (onde eu me encaixo só para fechar o perfil) como também pode justificar características que eu poderia tentar trabalhar ao invés de apenas justificar como causa-efeito. E essa é a segunda isca porque nos leva a Síndrome de Gabriela “Eu nasci assim, eu cresci assim, vou morrer assim, Gabriela”.
Esse é o mesmo problema dos gurus onde alguém de fora, um ser iluminado, vem e traz as respostas prontas e as fornece a um alguém ignorante e passivo que deve aceitar a luz de sua sabedoria. Embora seja possível que existam pessoas diferenciadas e capazes de transcender, o que mais vemos são oportunistas que se aproveitam da credulidade de seus seguidores. Por exemplo, se uma pessoa é religiosa e diz que está tudo na mão de Deus, logo ela deixa de se responsabilizar pelo que faz (por favor leiam com isso como crítica construtiva). Da mesma forma, o horóscopo que diz a cor que devo usar, o dia que devo sair, ou que uma amizade me trairá também induzem a ações, alteram percepções e diminuem o livre arbítrio de quem as escuta. E, acreditem, quem lê acredita mais no que lê do que pensa que acredita. Exemplo, leia que alguém conhecido poderá se acidentar e você terá dois ou três dias de tortura mental tentando evitar esse pensamento ou mesmo com medo de que todas as pessoas que ama possam morrer ou sofrer um grave acidente. E eis a terceira isca que nos induz.
Ou seja, redução de ansiedade com relação ao imprevisto, a loteria de talvez ouvir algo que agrade, a definição do “quem sou” vindo de um terceiro, ou mesmo a orientação quanto a algo que me retira a responsabilidade são todos aspectos que estão longe de ser tão inocentes quanto aparentam numa simples leitura da previsão do dia.
Estejam atentos para não serem seduzidos por essas armadilhas mentais propagadores dos signos que são divulgados pela mídia e, se vocês acreditam, sigam fontes de pessoas realmente sérias em seus estudos.
Fica a dica 😉
Imagem de capa: Shutterstock/Photosani
Um homem foi arremessado de um carro em movimento após se recusar a sair do…
A jornalista inglesa Emma Flint conta que só descobriu o termo abrossexualidade aos 30 anos,…
Uma recente declaração de um padre sobre o uso de biquínis gerou um acalorado debate…
Saiba como traumas vividos na infância podem influenciar a vida adulta e como é possível…
Esta jóia do cinema disponível na Netflix envolve o espectador em uma trama de desejo…
Um filme ambicioso e bem realizado que fascina pelo espetáculo visual e pelas perguntas filosóficas…