“A única coisa tão inevitável quanto a morte é a vida” Charles Chaplin

Conversar abertamente sobre a morte não é algo comum, sentimos certo desconforto com o assunto, afinal para que falar de algo que é associada a tristeza, melancolia, fim. Quando alguém querido morre ficamos profundamente impactados, como alguém pode um dia estar entre nós e no outro não? Como lidar com o fim, a ausência? Melhor não lidar, melhor não falar sobre isso e evitar o sofrimento. Será?

Não falar sobre a morte só ajuda a não pensarmos sobre ela, mas não a evita e nem diminui o sofrimento quando alguém próximo morre. Evitar o assunto a todo custo é negar o inevitável, é tentar se distanciar da ideia da nossa própria finitude. Talvez por isso os consultórios dos cirurgiões plásticos estejam tão cheios de pessoas tentando esticar a pele e a juventude, a imagem da velhice nos lembra a proximidade da morte, mesmo que muitas pessoas morram jovens, de acidentes ou doenças.

Essa corrida contra o tempo além de ser em vão é angustiante, melhor seria incluirmos esse assunto nas nossas idéias e decisões. Integrar esse momento como uma parte importante da vida. A Psicologia sabe que quando falamos sobre algo difícil e enfrentamos os nossos fantasmas, com cuidado e atenção, lidamos mais adequadamente com a situação e podemos viver melhor, é a mesma coisa com a morte. Refletir positivamente sobre este caminho natural nos auxilia nessa direção e traz benefícios para o presente, nos ajuda a pensar melhor sobre que tipo de vida estamos levando.

O que ganhamos falando da morte?

Sabemos que a morte é um processo natural e necessário a sobrevivência da espécie. Com a morte a vida se renova e prossegue. “Desta maneira a morte não seria a negação da vida e sim um artifício da natureza para tornar possível a manutenção da vida”. (Ballone, 2005).

Além disso, quando tomamos consciência da nossa finitude, de que um dia não estaremos mais aqui, e as pessoas que amamos também não, ficamos mais lúcidos sobre a importância do momento atual, de experienciarmos na totalidade o presente com tudo que ele nos traz. Principalmente nos dias de hoje em que vivemos com pressa e ansiedade, sempre pensando o instante seguinte e não percebendo as raras oportunidades do aqui e agora.

Quando vemos a perspectiva da morte, sabemos que precisamos rever muitas coisas da nossa vida. Ter aquela conversa importante, pedir perdão, perdoar, se permitir alguns prazeres, realizar sonhos, se aproximar de quem vale a pena. Redefinimos valores e temos a oportunidade de fazer frequentemente aquela pergunta: “Se eu morrer amanhã já fiz tudo o que eu podia hoje?”

A resposta dessa pergunta reorienta toda a nossa vida, faz com que possamos dar o valor certo as coisas que para nós é a certa e por isso ganhamos a oportunidade de uma vida digna e coerente com o que nos faz feliz. Além disso, podemos ficar um pouco mais em paz quando alguém querido parte, porque tudo foi vivido, falado, sentido e o que fica são as lembranças e o aprendizado que continuam vivos em quem fica.

Geralmente as pessoas que pensam na morte são as que perdem alguém muito próximo ou descobrem uma doença, o que impacta fortemente a realidade de quem passa por isso. Falar da morte sem medo deveria fazer parte naturalmente das reflexões cotidianas de todos nós, crianças, adultos e idosos, para termos consciência da raridade da vida e direcioná-la para uma existência que vale a pena ser vivida.

“Assim como um dia bem empregado nos proporciona um bom sono, uma vida bem vivida nos proporciona uma morte tranquila.” Anatole France

Texto em homenagem a Maria Angélica Marques que sabia como viver bem a vida!

Marcela Pimenta Pavan

Marcela Pavan é Psicóloga Clínica. Especialista em Família e Casal pela PUC-Rio. Experiência em questões ligadas a relacionamentos, conflitos pessoais, ansiedade, carreira, envelhecimento, entre outras. Site de atendimento online: www.acaminhodamudanca.com.br

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