Por Teresa Paula Marques
Choros, gritos, queixas injustificadas … tudo vale quando há um objetivo a atingir. Mas não se deixe enganar…. é tudo pura manipulação!
Às vezes até nos espantamos com o “talento” que algumas crianças têm para manipular os adultos. Elas fazem olhinhos de choro, queixam-se, amuam … insistem até à exaustão com o propósito de “levar a água ao seu moinho”.
Certo é que muitas vezes o conseguem, pois acabam por vencer os mais velhos pelo cansaço! “Porque é que o Joana pode ir e eu não?”, “a Maria pode ficar a ver televisão até tarde, porque é que eu não posso?”, as comparações são uma das técnicas mais comuns quando falamos em manipulação.
Todas as crianças começam desde cedo a tentar controlar os pais. Pouco a pouco apercebem-se que algumas estratégias são eficazes e não hesitam em utilizá-las. Tentam encontrar os pontos fracos, que passam muitas vezes por manifestações de carinho (abraços, beijos) e testar os limites dentro dos quais se podem mover. Vão tateando e, se não lhes forem impostas regras, continuam à procura dos limites o que os vai transformar em pequenos seres provocadores e insaciáveis.
De igual modo, quando as regras não são claras e estão constantemente a mudar, cria-se uma grande confusão que pode aumentar a tendência para o conflito e para a manipulação.
– Capacidade inata ou apenas imitação?
Um bebê consegue entender que quando chora é agarrado pela mãe, portanto vai fazê-lo repetidamente. Ninguém os ensina diretamente, mas os adultos acabam por lhes indicar o caminho.
Quem não recorre ao “suborno” como forma de controlar uma criança? Através da utilização da técnica punição/recompensa é que muitos comportamentos são modelados, o que por vezes nos esquecemos é que as crianças aprendem por imitação.
A utilização da recompensa é uma boa estratégia educativa quando usada com conta, peso e medida, quando se abusa dessa técnica os resultados acabam por ser desastrosos.
Muitos pais, em desespero de causa, optam pelos prêmios e as crianças começam a jogar com isso a ponto de só se comportarem bem se forem recompensadas. Claro que esse não é objectivo da educação.
A motivação deve vir de dentro para fora, ou seja, os mais novos deverão ser educados no sentido de se comportarem de forma adequada por isso ser o melhor para eles, não porque esperam vir a ser recompensados materialmente (quanto muito poderão esperar uma dose extra de carinho da parte dos educadores).
– Conflitos familiares
“Pois… mas eu na casa do pai posso fazer isso e aqui não. Tu não gostas de mim!”. Este tipo de cena é muito comum. Comparar, semear a discórdia entre os pais constitui uma das técnicas de manipulação emocional. Por isso mesmo há que estar alerta e ter a resposta sempre preparada. É absolutamente normal que os pais não estejam sintonizados em determinadas regras.
Cada um tem a sua história familiar e interiorizou modelos de conduta certamente bastante distintos. Quando há um divórcio todas essas diferenças se acentuam, mas mesmo em casais que vivem juntos existem diferenças no modo como encaram a educação dos filhos. Por este motivo, é muito importante que haja diálogo entre o casal, pois só assim se trocam experiências e criam consensos. O ideal seria que começassem a fazê-lo quando os filhos são ainda um projeto, antes de sentirem a pressão da criança real.
De qualquer modo, é absolutamente fundamental que a criança não tenha a ideia de ter o poder de semear a discórdia entre os pais. Caso isso aconteça, vai sentir-se culpada e essa culpabilidade aumenta a insegurança e fragiliza-lhe a autoestima.
– Manipulação entre irmãos
As brigas entre irmãos sempre existiram e sempre existirão. Sabe-se também que a maior parte das vezes têm como objetivo atingir os pais, pois se observarmos bem, muitos irmãos dão-se lindamente quando estão sozinhos e apenas iniciam lutas quando os pais estão por perto. Depois seguem-se as cenas habituais. Um dos pais vai ter de desempenhar o papel de juiz e designar um deles como culpado. A vítima, porém, passa a usar a situação em seu benefício “pois… eu sou sempre o culpado, ela pode fazer tudo, eu não …”. Geralmente esta técnica dá resultado, porque faz eco na consciência dos pais, fazendo-os cair nas malhas do manipulador. Perante esta situação há que manter a cabeça fria e agir com calma.
Uma regra básica é a de evitar ao máximo intrometer-se nas brigas entre irmãos. Eles é que iniciaram o conflito, portanto são eles que têm de encontrar a solução.
Em hipótese alguma deve interceder por um, uma vez que está, automaticamente a tomar o partido do outro, a aumentar a rivalidade e a criar uma relação de vilão/vitima. Um passa a ser o manipulador enquanto que o outro goza dos privilégios de ser o querido da família.
– Como lidar com a manipulação?
Evite recorrer à chantagem como forma de controlar o seu filho. Tenha presente que as crianças aprendem por imitação. Fale claramente com a criança e explique-lhe o que espera que ela faça.
Estimule-a no sentido de aprender a decidir. Dê-lhe várias opções e peça-lhe que se decida apenas por uma.
Face a uma birra, não se deixe intimidar. Deixe que esperneie e grite… no final fale com ele calmamente e explique-lhe que não é através desses meios que vai conseguir atingir os objetivos.
Teresa Paula Marques é psicóloga clínica e especialista em Psicologia Infantil.
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