Crise de pânico: você já vivenciou um curto-circuito nas veias?

Com licença, preciso respirar! Esse pedido de licença, na verdade, ando fazendo a mim mesma. Vocês vão entender…

Pessoalmente, venho criando consciência de alguns detalhes fundamentais para minha existência já há um certo tempo. A busca por uma felicidade mais genuína e menos trabalhada tem sido uma demanda interna. Como se isso fosse fácil, não é?! Hoje, fazendo as contas, percebi que esse processo de autoconhecimento já dura, pelo menos, cinco anos. Mas as descobertas têm sido tão construtivas e libertadoras que, em vez de me sentir numa jornada longa e desgastante, sinto-me retraçando o rumo, ajustando a rota de minha vida.

Entender-se, olhar-se no espelho e realmente compreender o que nos faz feliz está longe de ser uma tarefa simples e evidente.

Afinal, “nós vemos o mundo, não como ele é, e sim, como nós somos”.

Portanto, a tarefa de conseguir vislumbrar uma vida plena é mais árdua do que parece. Precisamos nos transformar para conseguir enxergar fora de nossa bolha. A genuína felicidade, muitas vezes, está a um palmo de nós, mas, assim mesmo, não enxergamos absolutamente nada. Estamos acostumados a viver e fazer uma leitura da vida já com vícios enraizados.

Por muitos anos vivi cumprindo funções e demandas por acreditar que eram obrigações naturais à vida, que precisavam ser cumpridas. Geravam-me mais estresse do que prazer, mas precisavam ser cumpridas. Eu carregava comigo uma agenda com uma lista de afazeres. Além de questões práticas, nessa lista, estavam questões de trabalho, estudo, demandas futuras, questões financeiras e assim por diante. Fechava o dia com a lista completamente feita, já anotando a lista do dia seguinte. E, assim, de segunda a segunda. O natural para mim era viver dessa forma, constantemente atarefada. Tempo livre soava perda de tempo, chegava até gerar um desconforto…algo sempre terminava surgindo para fazer. UFA!! Seriedade, pontualidade e exigência eram palavras que constituíam meu serzinho lindo! E haja fôlego!

Com o passar dos anos, depois de muito estresse acumulado, veio a bendita “crise de pânico”. Alguém já teve isso também? É uma das piores sensações que já vivi em minha vida! Você simplesmente congela, endurece, surta.

É um verdadeiro curto-circuito!

Você tem a sensação de que está prestes a morrer. Seu coração acelera, você sente palpitações, fica sem ar, com um zumbido no ouvido, visão embaçada, mãos endurecidas. E esse sentimento e essas sensações surgem aleatoriamente, sem você conseguir prever e se preparar para a situação. É assustador… o mais assustador ainda é descobrir que sensações físicas tão fortes são, na realidade, causadas por você mesmo, pela sobrecarga de estresse no seu corpo, interligado diretamente à sua mente.

Em uma de minhas piores crises, eu cheguei a ficar com as mãos completamente enrijecidas. Uma dor de cabeça de urrar. A cada batida do coração parecia que a cabeça ia explodir. O médico veio me ver. Pediu para eu mexer as mãos…bateu um desespero ao perceber que, simplesmente, eu não conseguia. Fizeram exames e veio o resultado. “Veja bem, você não tem nada fisiológico. Isso que você está vivenciando é pânico.” Ah, como fiquei chateada e furiosa. Me senti enganada pelos médicos e acusada de fazer mal a mim mesma. Eu, que tinha total controle sobre minha vida, que cumpria tudo com excelência, estava com o corpo descontrolado por causa de minha mente!

Vivenciar tudo isso foi um sinal de alerta e tanto! Foi o sinal de alerta que eu precisava para entender que era urgente desacelerar e vislumbrar opções de vida fora de minha bolha. E isso foi há uns bons cinco anos. Pequenas mudanças, de lá para cá, foram acontecendo. Sim, porque você precisa ir sanando aos poucos, enfrentando suas dificuldades gradualmente, abrindo a fresta da janela pouco a pouco para não ofuscar. Sabe a agenda com a lista? Virou um bloquinho de notas, bem pequenininho, no meu celular. Compromissos, coisas a fazer, guardo tudo na cabeça. Se esqueci, volto a lembrar e faço. O que cabe na cabeça, cabe, o que não cabe, é porque não é importante! (risos) Eu sei, a técnica é um pouco arriscada, está ainda em fase de aperfeiçoamento.

Passei a prestar mais atenção nos recados do meu corpo, tipo cansaço, estresse, preguiça, fome. Aprendi a meditar, a ouvir mais meu coração. Passei a apreciar mais as “bobagens” do dia a dia: uma conversa com o vizinho, um bom café da manhã, um abraço, uma boa música, fazer elogios, conversar com desconhecidos, etc. Passei a escutar mais os sons da vida. Tornei-me uma pessoa bem menos exigente. Aprendi a julgar menos. Aprendi a enxergar os acontecimentos com olhos mais brandos e amorosos, buscando sempre o lado bom em tudo. Ah, desculpem, mas passei a chegar um pouco mais atrasada. Já me disseram que essa parte não é tão legal!

Mas, acima de tudo, passei a respeitar mais meu tempo para respirar. Será que é possível? Acho que sim. Martin, meu filho, tem me ensinado que sim! Cada mamada dele, é um momento de silêncio, de cumplicidade, de conexão com a vida…isso é respirar! Vivenciar o desenvolvimento dele trouxe uma nova dimensão de tempo, de dinâmica de vida. O momento presente é vivenciado com mais atenção. Tente apressar um bebê… pode ter certeza que isso não é uma boa ideia (risos). Ele tem seu tempo e precisa que seja respeitado. Ao respeitar o tempo dele, passei a prestar mais atenção no meu e, igualmente, a respeitar mais o meu. Passei a respirar melhor depois que ele nasceu. Mas, assumo, ainda me pego em alguns momentos de vicio do passado, incomodada com a calma, com a serenidade. Sem perceber, a cabeça acelera e lá estou eu, novamente, fazendo mil coisas ao mesmo tempo, atropelando sentimentos, atropelando minha vida.

Combater o pânico demanda muita consciência corporal e mental. É preciso aceitar e pedir ajuda. É preciso ser perseverante, disciplinado, mantendo-se leve. Sim, com o tempo você consegue, supera e passa a viver com todo o aprendizado incorporado como se fosse algo natural. Você renasce. Por isso, o sentimento de morte da síndrome do pânico faz muito sentido. Sua antiga versão morre e um novo eu surge renovado. E o novo sempre é assustador e demandante.  Como eu falei, não é evidente mudar, mas, acreditem, é possível!

Melissa, autora deste texto, largou tudo, foi morar no Uruguai como o Bruno e o Martin e criou o Blog Vida Borbulhante. Quer ter uma vida mais plena e interessante? Passe lá para conhecer. Curta o Blog no Facebook .

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