Por Maria Cristina Brito para ContiOutra
No consultório, recebo pacientes surpresos com a descoberta de casos de depressão e transtornos de ansiedade, como transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e pânico, entre os amigos, os filhos de amigos e os colegas de trabalho, além deles mesmos. Parece uma epidemia, menos visível que as de dengue ou sarampo, pela compreensível preocupação das pessoas em esconder os problemas emocionais, pelo temor de serem vistas como fracas ou doentes.
Esse preconceito ainda não foi totalmente vencido, e, muitas vezes, leva ao sofrimento silencioso e solitário, a tentativas contraproducentes de enfrentar a situação desconfortável com automedicação ou autoajuda. Até o dia em que sobrevém a crise, ou seja, a gota dágua que transforma a poça em tsunami. E então é preciso encarar a seriedade da situação e buscar um tratamento mais adequado.
Por que uma pessoa desenvolve ansiedade ou depressão? Predisposição genética e alterações químicas no cérebro são algumas das causas apontadas por estudos científicos. Mas e quando a ansiedade e a depressão são produzidas de fora para dentro, resultado de estresse, cuja causa é a crise econômica que se abateu sobre nós? Quando o mundo ao redor parece ter se transformado em um lugar perigoso ou difícil, sensação reforçada pelas manchetes dos jornais ou notícias veiculadas na tevê e na internet?
Ou por acontecimentos mais pessoais e diretos, como a perda do poder aquisitivo ou, o pior dos cenários, o desemprego? Problemas reais e concretos têm desdobramentos em todos os setores da vida: a demissão abala o namoro ou casamento e a falta de dinheiro interfere na vida social. Somando todas as consequências, a autoestima fica abalada, a vergonha provoca o afastamento de outras pessoas e o isolamento só faz piorar a sensação de desamparo.
Frustração e desapontamento que não são resolvidos podem adoecer o corpo e a alma, e essa é uma vivência comum em tempos de crise econômica, disseminando a sensação de insegurança em relação ao futuro.
Falando em termos simples, a depressão é definida como excesso de passado, e a ansiedade, como excesso de futuro. Quem está passando por uma situação difícil pode acabar preso nas lembranças de dias melhores, desenvolvendo temor pelo que está por vir, num cenário de incerteza, quando se fica como que suspenso num presente que lhe roubou as perspectivas e os sonhos por que se lutou tanto.
Em períodos difíceis, é compreensível que se perca o rumo, às vezes se queira simplesmente fugir ou nem sair da cama de manhã, esperando até que o panorama mude para melhor. Que bom que isso desse certo, mas não é assim que funciona. Não vale esperar por soluções mágicas, nem, por outro lado, se entregar ao desespero.
Necessário se faz respirar fundo e encarar a situação, focando em saídas viáveis, sem apelar para comportamentos desadaptativos, como o aumento no consumo de álcool e no uso de tranquilizantes. É, sim, o momento de desenvolver resiliência, que é a capacidade de se lidar com problemas, superar obstáculos e resistir à pressão sem sucumbir psicologicamente. Em outras palavras, principalmente, concentrar-se nas soluções, em vez de no problema. Porque desanimar não é opção.
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