Soraya Rodrigues Aragão

Crise psíquica: um furacão emocional que fragiliza a resiliência. Como lidar?

Viver é sempre um ato de coragem, pois não sabemos o que nos vai acontecer amanhã ou mesmo daqui a alguns instantes.

Obviamente que não temos o poder de controle para os imprevistos da vida, nos restando somente a força de superação que existe em nós. A isto chamamos resiliência.

A “crise psíquica”, cientificamente chamada Transtorno de Estresse Agudo ou Reação Aguda ao Estresse, é um estado de choque psicológico ocasionado por uma crise extrema e provocada por um ou mais fatores estressantes percebidos pela pessoa como devastadores e que geralmente colocam em risco a sua integridade psíquica.

O problema reside no fato de que os recursos adaptativos e de enfrentamento do indivíduo entram em falência, comprometendo a sua saúde mental, visto que a pessoa em choque psíquico não tem condições de lidar com a dor do aniquilamento que transpassa seus mecanismos de defesa, abrindo feridas emocionais profundas e fragilizando sua habilidades em lidar com a situação devastadora.

Uma “crise psíquica” é como um furacão que devasta tudo o que encontra pela frente, nos deixando emocionalmente instáveis, desorientados, fragilizados, atordoados, ansiosos e angustiados.

Normalmente ocorre um distanciamento e embotamento de tudo o que ocorre à volta, bem como o empobrecimento dos recursos pessoais, pouca reatividade às circunstâncias, caracterizando-se como uma “paralisia emocional”.

A “crise psíquica” pode ocorrer por conseqüência de catástrofes naturais, violência, como sequestro, abusos físicos, situação de cativeiro e ameaça de morte, mas também por perdas significativas na vida de uma pessoa que ocorre “de uma hora para outra”, onde a mesma não estava preparada psicológico, emocional e economicamente.

Podemos citar exemplos de uma empresa que quebra de um dia para o outro ou de um roubo significativo em que a pessoa se mantém sem recursos para viver, do relacionamento que se rompe onde tudo parecia estar bem, da dissolução abrupta de um estilo de vida, no qual o indivíduo precisa agora se adaptar a uma nova realidade e que geralmente não encontra uma solução naquele momento para sair da situação, pois é algo que vai além do seu controle ou de uma decisão sua.

Infelizmente, na “crise psíquica” o atordoamento toma conta da realidade da pessoa que ainda tem esperanças em acreditar que aquilo não aconteceu, que não pode ser realidade, que foi um sonho ruim, um pesadelo.

Vale a pena salientar que aquilo que pode ser traumático para uma pessoa, para outra é percebido e vivenciado como menos impactante e doloroso, dependendo da magnitude e duração do acontecimento, bem como da estrutura de personalidade, da resiliência de cada pessoa e de seu repertório emocional e comportamental para lidar com situações de estresse e vulnerabilidades.

Existe também a crise psíquica indireta, em que a pessoa presenciou o acontecimento traumático com um familiar ou uma pessoa próxima, mas que não significa que possa ser menos marcante ou estressante, principalmente se o que aconteceu indiretamente tiver a capacidade de desorganizar a vida desta pessoa.

Sintomas:

– Revivescência do evento traumático (flashbacks, sonhos e memórias invasivas);

– Dificuldade em manter a atenção e integrar estímulos internos e externos;

– Dificuldade em integrar estados cognitivos e emocionais;

– Ocorrência de sintomas ansiosos neurovegetativos, como taquicardia, sudorese, respiração curta e formigamento nas extremidades;

– Insônia ou dificuldade para manter ou conciliar o sono;

– Exaustão física e emocional sem que a ocorrência de grandes esforços;

– Dores de cabeça persistentes;

– Embotamento emocional e pouca reatividade aos acontecimentos, tornando a pessoa emocionalmente paralisada, desligada de si mesma e dos acontecimentos externos (congelamento emocional devido ao estresse agudo);

– Agitação e hiperatividade;

– Amnésia completa ou parcial associado ao evento traumático;

– Evitação de locais, imagens, pessoas ou circunstâncias que associam ou a façam revivenciar o evento traumático;

– Ataques de raiva sem que a resposta comportamental seja proporcional ao “acontecimento que gerou a raiva” (exacerbação da resposta comportamental ao estresse);

Vale a pena salientar que para um diagnóstico correto de Reação Aguda ao Estresse ou “crise psíquica”, os sintomas acima elencados devem aparecer durante o evento estressor , persistindo após este, em torno de 2 dias a 4 semanas.

Caso os sintomas persistam, se cronificando, o paciente receberá o diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT).

Tratamento psicoterápico na crise psíquica:

A psicoterapia é parte importante no processo de tratamento.
Pesquisas científicas comprovam que a terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem mostrado eficácia na prática clínica do Transtorno de Estresse Agudo (TEA), utilizando técnicas como a reestruturação cognitiva, a dessensibilização gradativa, técnicas de relaxamento, como o relaxamento muscular progressivo, questionamento socrático, técnica do espectador ou observador distante, dentre outras.

É essencial a empatia para respeitar o limiar de dor do paciente, mas o psicoterapeuta precisa ser um agente propiciador de mudanças do estado em que o paciente se encontra.

Além da psicoterapia, é muito importante que o paciente receba apoio e compreensão provenientes de sua rede de apoio social, especialmente da família e amigos.

Como a pessoa tem medo de que toda aquela experiência vivida se repita novamente, ela tende a se isolar, se esquivar de novas experiências, o que é prejudicial, visto que os sintomas podem se cronificar e levar a um diagnóstico de TEPT.

Soraya Rodrigues de Aragão

Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Escritora e palestrante.Autora dos livros Fechamento de Ciclo e Renascimento, Supere desilusões amorosas e pertença a si mesmo, Liberte-se do Pânico e viva sem medo e Talita e o portal. Site: www.sorayapsicologa.com Email: contato@sorayapsicologa.com

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