Nunca tive vontade de ser mãe. Mal sei tomar conta de mim, como iria cuidar de outra pessoa? Quantas vezes não comi por preguiça de cozinhar? Quantas vezes afundei na cama sem ânimo de levantar? Um bom livro e o wi-fi ligado já eram companhias suficientes.
Sem cachorro, nem gato, nem plantas. Eu adoro todos eles, sem ordem de preferência. Mas eu sempre soube que poderia esquecer de alimentá-los. É que já aconteceu. Com as plantas gente, calma! Quando dava por mim estavam secas, tadinhas. Nunca fui boa “mãe” de plantas. Assim, sempre achei melhor evitá-los: cachorro, gatos, plantas e filhos.
Mas nunca tive convicção sobre estas coisas. Apenas eu deixava pra lá, quem sabe isso não era pra mim, quem sabe a sociedade falhou comigo e não conseguiu me fazer acreditar que nasci para procriar e cuidar dos outros. Sem convicção, eu vivia aberta a mudanças, se um belo dia eu acordasse desejando ser mãe seria bem vindo: o desejo e o filho.
E veio. Perto dos meus 30. Para cada lugar que eu ia, uma avalanche de gravidinhas apareciam, desfilavam orgulhosas suas barrigas exuberantes. Não fosse o bastante, vieram os bebês. Por toda a parte. Não adiantava virar a cara, fingir que não viu. Eles se intrometiam no meu campo de visão. Parecia um sinal. Comecei a achar aquilo tudo tão lindo, tão fofo, tão possível. Comecei a desejar aquilo tudo pra mim. Eu queria ser mãe, eu desejava, eu seria.
E fui, com muito desejo. Papai, mamãe e filhinho. Bem tradicional. Bem bonitinho. Lindo. E cansativo. E triste. E sozinho. Antes de prosseguir já vou logo avisando: não, eu não tive depressão pós parto. Não, eu não me separei. Sim, eu tive e tenho muito apoio da minha família. Todos contribuíram e o fazem ainda da maneira que podem.
Dito isto, quero dizer para você mamãe, não importa quem está a sua volta, você é só e basta, ou melhor, deve bastar. É você que sua cria quer e precisa. Você. Mais ninguém. E será assim por alguns meses. Exclusivamente você. Depois o laço afrouxa, um pouco. Na hora do choro, podem ter mil braços, só os seus resolvem. Na hora da birra também. Berra a criança, grita a dor nas costas.
Este desejo único e intransferível do filho pela mãe, esta simbiose materna, este intercurso mamãe-bebê, excluindo todos a sua volta, estabelece para a mãe um lugar de solidão. As outras mães são solidárias, mas nem por isso deixamos de ser solitárias. Estamos sozinhas com nosso bebê, mesmo que a sala esteja cheia de visitas. Vivemos um mundo a parte.
É você mamãe que tem de resolver, mesmo não sabendo o que fazer. Nessas horas você ora em silêncio que Deus faça a mágica acontecer, que tudo se resolva, seja lá o que for, pelo simples fato do bebê sentir seu calor, seu cheiro, sua voz, que ele saiba que mamãe está ali e que tudo ficará bem.
Quando uma mãe ousa dizer que a maternidade é exaustiva, por vezes depressiva, frequentemente solitária, ela recebe um veredicto: você não é uma boa mãe. Só entende quem é mãe, embora muitas se esqueçam ou façam questão de não entender. Tá vendo aquela lá? Não gosta de ser mãe! Pobre filho! Não tem coração! Nós mulheres somos as críticas mais ferrenhas de nós, mulheres.
As mães amam seus filhos. As mães amam serem mães de seus filhos. Mas sejamos sinceras, ninguém ama se submeter a padrões do que é ser uma boa mãe. Padrões inatingíveis, diga-se de passagem. A mãe deve saber atender toda e qualquer demanda do seu filho. Quase como que uma vidente com bola de cristal. Mãe que se preze tem uma, sempre, e certeira. Erros aqui não são admissíveis e nem compreendidos.
Se você der o que ele quer, destino: mimado. Se não der: traumatizado. Culpa da mãe. O peso que faz doer às costas não é apenas dos quilos adquiridos paulatinamente pelo bebê, é o peso da responsabilidade de dar conta dos desejos e anseios sociais do que é ser uma mãe suficientemente boa.
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