Por Marina Lemos

Com o crescente acesso da população a diferentes tipos de serviços virtuais, incluindo serviços de saúde, a internet passou a fazer parte da rotina de milhares de brasileiros.  Tomando como referência o ano de 2011, vale ressaltar que o total de pessoas que utilizou a Internet aumentou 143,8% em relação a 2005 (em seis anos o crescimento foi de 45,8 milhões de pessoas) e 77,7 milhões  de brasileiros com 10 anos ou mais de idade acessaram a Internet (10 milhões a mais considerando o ano de 2009) (IBGE, 2011). Entre 2012 e 2013, o Brasil ganhou 2,5 milhões de internautas (2,9%), totalizando, aproximadamente, 86,7 milhões de usuários de internet com 10 anos ou mais (IBGE, 2013).

Considerando este panorama, fica evidente que o efeito da tecnologia no comportamento humano e no mundo do trabalho já é uma realidade da qual a psicologia, enquanto profissão, vem se aproximando ao oferecer serviços psicológicos online, ou seja, ao usar a tecnologia como instrumento de trabalho, ampliando as suas possibilidades neste novo mercado.

Este acesso do psicólogo ao trabalho online ou teletrabalho vem sendo possível porque o Conselho Federal de Psicologia (CFP) tem estabelecido diretrizes para nortear o trabalho dos psicólogos que utilizam o ambiente  virtual como espaço de atuação. Por exemplo, em 2000, este Conselho baixou a Resolução CFP 006/2000, que institui a Comissão Nacional de Credenciamento e Fiscalização dos Serviços de Psicologia pela Internet,  órgão do CFP responsável por: “[…] desenvolver critérios para avaliar a  qualidade dos serviços psicológicos oferecidos pela Internet; acompanhar o credenciamento e fiscalizar os sites de atendimento psicoterapêutico mediado pelo computador; acompanhar a certificação dos sites de pesquisa sobre atendimento mediado pelo computador que tenham sido aprovados por Comitê de Ética em Pesquisa reconhecido pelo CFP.” Em  2012, a Resolução CFP 011/2012 ampliou as possibilidades de serviços mediados pelo computador, ao regulamentar os serviços psicológicos realizados por meios tecnológicos de comunicação à distância, o atendimento psicoterapêutico em caráter experimental e revogar a Resolução CFP N.o 12/2005. Com estes avanços já existem 339 sites cadastrados no Conselho Federal de Psicologia com permissão de funcionamento para oferecerem serviços psicológicos online.

Estes dados/fatos revelam que a psicologia brasileira online vem avançando, embora, no momento, só é permitida a orientação psicológica  online com, no máximo, 20 sessões2. Para o uso da tecnologia de forma mais abrangente, há indicações de testes informatizados. Limonge (2006), relata que “[…] sem pretender fazer  previsões, pode-se dizer que apesar de todas as dificuldades práticas relacionadas, o futuro da informatização dos testes deverá ser mais promissora do que o atual quadro, não muito otimista”. O desenvolvimento de aplicativos de auto ajuda ou de psicoeducação para celulares e tablets  ainda é uma área pouco explorada pelos psicólogos. É compreensível a cautela em relação à aplicação de tecnologias que já são validadas no trabalho do psicólogo presencial para o trabalho online mas, se considerar a velocidade do desenvolvimento tecnológico e o fato de que em países como Canadá, Reino Unido e EUA já é permitida a psicoterapia online, pode-se inferior que, o Brasil precisa investir urgentemente nessa área sendo necessária a construção de uma cultura de uso da tecnologia por parte dos psicólogos brasileiros para que possam atender às demandas atuais e futuras da sociedade brasileira.

Este atraso pode ser explicado pelo fato de que ainda existem barreiras no uso da tecnologia pela psicologia, alimentadas por mitos e preconceitos de que o relacionamento virtual é algo irreal ou falso, que não existe interação humana através da internet, que não é possível criar um vínculo terapêutico  de qualidade no ambiente virtual, entre outros, fazem parte do imaginário de muitas pessoas inclusive dos próprios psicólogos. Souza (2013), chama atenção para o fato de que muito dessa visão vem da crença de que relações virtuais são dissimuladas e, inevitavelmente, superficiais e descartáveis.

Esta situação pode interferir no processo de aproximação da psicologia com as mudanças trazidas pela tecnologia das seguintes formas:

  • Dificultando a visualização de possibilidades de aplicação da tecnologia pela psicologia;
  • Impedindo que a evolução da tecnologia no âmbito da psicologia ocorra de maneira rápida, efetiva e menos burocrática;
  • Limitando a inserção dos psicólogos em pesquisas sobre psicologia e tecnologia, e, portanto, o avanço desta área já que as pesquisas podem contribuir, inclusive, para a criação e/ou reformulação de leis do CFP que regulamentem os serviços mediados pelos meios de comunicação tecnológicos.

Esta breve explanação suscita alguns questionamentos: quais as  dificuldades que precisam ser superadas para que a psicologia brasileira avance “de mãos dadas” com a tecnologia? Até que ponto mitos, preconceitos, escassez ou reduzido conhecimento das inúmeras possibilidades que a tecnologia traz ao mundo psi estão interferindo neste avanço?

Uma coisa é certa: a desmitificação do trabalho online, pelo psicólogo, deve ser algo a ser pensado para que a psicologia possa avançar no atendimento às demandas da sociedade brasileira. Uma contribuição importante poderá vir através de psicólogos que fazem apenas atendimento presencial mas que recebem clientes que apresentam “queixas” relacionadas com situações que aconteceram no ambiente virtual e que precisam ser discutidas e resolvidas. Por exemplo, um cliente relata que está sendo traído online ou que está viciado na internet. Como o psicólogo vai atendê-lo, se não lida com o atendimento online e/ou desconhece os temas que nele perpassam? Souza (2013), assinala que existe possibilidade de usar a tecnologia em atendimentos presenciais, através de softwares com fins terapêuticos, testes informatizados, além da criação de formulários eletrônicos que facilitem a organização de dados e a pesquisa epidemiológica. Como se pode observar, a psicologia online (psictech) é uma área que traz para a psicologia um novo posicionamento no mercado de trabalho e contribui para uma mudança de cultura no modo de pensar sobre a psicologia.

É louvável o cuidado que o Conselho Federal de Psicologia vem tendo em relação ao uso da tecnologia no âmbito da psicologia, mas é importante frisar que o número de pessoas dispostas a participar deste mundo online, para  receber assistência psicológica, é um fenômeno que tende a crescer na sociedade atual (brasileira e mundial). Portanto, a web apresenta um caminho repleto de possibilidades e benefícios para a psicologia e seus clientes. Este momento é mais do que apropriado para investimentos neste universo.

Marina Lemos, psicóloga sob o registro CRP-03/03806

E-mail: contato@topterapiaonline.com.br

Site:   www.topterapiaonline.com.br

Referências

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2011. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 ago. 2015.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2011. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 ago. 2015.

Limonge, N. 2006. Testes informatizados – uma nova visão. In: Prado, O. Fortim, I. Consentino, L. 2006. Psicologia & informática: produções do III.  psicoinfo II. jornada do NPPI / Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP no 012/2005:  regulamenta o atendimento psicoterapêutico por meios tecnológicos de comunicação à distância, o atendimento psicoterapêutico em caráter experimental e revogar a Resolução CFP N.o 12/2005. Disponível em:  <http://www.pol.br/legislacao/pdf/resolucao/2005-12.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2015.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP 011/2012: regulamenta os serviços psicológicos mediados pelo computador e revoga a Resolução CFP no 003/2000. Disponível em:  <http://www.pol.br/legislacao/pdf/resolucao/2012-11.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2015.

Souza, G. Os Psicólogos e a Informática. 2013. Núcleo de Pesquisas em  Psicologia e Informática (NPPI). PUC, Sao Paulo.

Marina Lemos

Marina é de Salvador, Bahia, e morou em Londres por 5 anos. É psicóloga e concluiu o Mestrado em Gestão de Riscos e Desastres, em Londres. Deixou a cidade Londrina em agosto de 2015 para seguir outro sonho: tornar-se uma psicóloga nômade digital e morar em vários países da Ásia por um longo período de tempo. É amante da leitura, de viagens, da natureza e de psicologia. Atualmente, empresária proprietária da TOP Terapia Online, empresa especializada na prestação de atendimento psicológico online para brasileiros que moram em qualquer parte do mundo.

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