Nossa sociedade vive hoje um “culto à magreza”, em que o ideal de beleza está associado a corpos muito magros. Com isso, muitas pessoas ficam mais vulneráveis a desenvolver problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade. Há ainda outros riscos ainda pouco discutidos que afetam cerca de 4,7% da população brasileira, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS): os transtornos alimentares – um conjunto de doenças psiquiátricas de origem genética, hereditária, psicológicas e/ou sociais, caracterizados por perturbação persistente na alimentação. Entre os jovens, o índice pode chegar a espantosos 10%.
Dentre os transtornos alimentares, os mais conhecidos são anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar (TCA). Entretanto, há um número muito maior de tipos de transtorno, alguns com nomes inusitados — transtorno de ruminação, restritivo e evitativo, por exemplo. A seguir, a lista completa definida pela Associação Americana de Psiquiatria.
Os transtornos
1. Anorexia Nervosa: caracteriza-se pela restrição da ingestão calórica mediante o medo de engordar e perturbação na forma como o paciente enxerga o próprio corpo. Geralmente tem início na adolescência ou na idade adulta jovem.
2. Bulimia Nervosa: apresenta episódios recorrentes de compulsão alimentar seguidos de práticas compensatórias para evitar o ganho de peso. Esse transtorno é mais comum em mulheres.
3. Transtorno de Compulsão Alimentar: se dá quando o paciente apresenta episódios recorrentes de compulsão alimentar; ou seja, come demais mesmo sem fome e depois se sente culpado. Apesar de ser menos falado do que a anorexia e bulimia, é o mais comum dos transtornos alimentares.
4. Pica: conhecida também por alotriofagia, esse transtorno é caracterizado pela ingestão de substâncias não alimentares, como pedra, terra ou cabelo, por exemplo. A condição pode causar problemas e/ou perfurações intestinais, infecções, intoxicação e deficiência nutricional.
5. Transtorno de Ruminação: consiste em um quadro de regurgitação repetida de alimento. A comida pode ser remastigada, ingerida novamente ou cuspida.. Entre as consequências mais comuns do transtorno está a restrição alimentar já que o paciente evita comer para não regurgitar.
6. Transtorno Alimentar Restritivo/Evitativo: definido pela falta de interesse em se alimentar devido à textura ou gosto do alimento, por exemplo. Também pode caracterizar quadro da primeira infância de seletividade alimentar extrema, e fobia de comer.. É comum que o paciente sofra com desnutrição e perda de peso.
7. Transtorno de Purgação: é caracterizado pelo uso da indução de vômito, uso de laxantes ou medicamentos para perda de peso sem que haja compulsão alimentar.
8. Síndrome do Comer Noturno: consiste em episódios recorrentes de ingestão alimentar durante a noite. Geralmente, o paciente come mais no período noturno do que durante o dia e sofre com problemas para dormir.
Fatores de risco
Adolescentes e mulheres jovens estão mais predispostos a desenvolver transtornos alimentares. Entre os fatores de risco estão questões genéticas, histórico familiar, perfeccionismo, baixa autoestima e família altamente apegada a estereótipos de beleza. “Algumas pessoas têm o fator de risco, mas não manifesta a doença. Outros podem ter o problema despertado após situações traumáticas. O gatilho mais comum, no entanto, são dietas restritivas“, explica Marle Alvarenga, do Programa de Transtornos Alimentares (AMBULIM), do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Redes sociais
De acordo com Marle, as redes sociais têm desempenhado um importante papel no gatilho de transtornos alimentares, especialmente o Instagram uma vez que os perfis mais populares nessa mídia são aqueles que supervalorizam a magreza e o corpo perfeito – muitas vezes editados em aplicativos. “A mídia como um todo fala da magreza como sendo necessária. Isso faz com que as pessoas que não atingem esse patamar sintam-se insatisfeitas com o próprio corpo e essa insatisfação é um fator predisponente para os transtornos alimentares”,, comenta. E aqui está uma explicação para o fato de os jovens serem mais vulneráveis aos transtornos.
A especialista conta que já atendeu diversos casos de pacientes cuja avaliação mostrou que o problema alimentar começou após começarem a seguir alguma celebridade nas redes sociais. Por causa disso, Marle recomenda que todas as pessoas sejam mais cuidadosas ao escolherem os perfis que pretendem seguir e parem de seguir qualquer celebridade que se dedica demais à magreza.
Os tratamentos
Não existe, de acordo com Marle, uma causa específica para o surgimento de um quadro de transtorno alimentar. O problema geralmente surge por meio de uma combinação de fatores de risco. Por esse motivo, o tratamento precisa ser individualizado, considerando o tipo de transtorno e os fatores que possam ter desencadeado o problema. Apesar de ser uma condição de saúde mental, a equipe médica precisar ser multidisciplinar, pois a condição afeta outros aspectos da vida do paciente. Uma equipe básica de atendimento inclui:
– Psiquiatra, que vai avaliar possíveis comorbidades mentais, como depressão, e talvez prescrever medicamentos de acordo com a necessidade;
– Psicólogo, para ajudar a tratar as questões emocionais, além da imagem corporal;
– Nutricionista, para ajudar o paciente a estabelecer uma alimentação saudável que ele seja capaz de manter, com o diferencial de trabalhar a relação do paciente com a comida.
“É fundamental ajudar esse paciente a fazer as pazes com a comida. Também precisamos estar atentos a imagem que ele tem do próprio corpo. Apenas trabalhando essas questões será possível ajudá-lo a aceitar uma alimentação ‘normal’”, explica Marle, que é uma das organizadoras do livro Transtornos alimentares e nutrição: da prevenção ao tratamento – recentemente lançado pela Editora Manole. O livro traz discussões atuais sobre os transtornos alimentares e suas consequências na saúde mental e corporal, além de apresentar orientações sobre o tratamento e a prevenção.
A especialista ainda ressalta que algumas pessoas apresentam resistência para reconhecer o quadro e buscar ajuda, especialmente os pacientes no início da adolescência. Por isso, os pais devem ficar atentos e intervir na situação o mais rápido possível. A recomendação também vai para os profissionais da área da saúde, que muitas vezes notam algum sintoma, mas deixam de conversar com o paciente sobre o assunto.
Já os adolescentes mais velhos e adultos jovens são mais abertos a aceitar que têm um problema, mas podem se mostrar inseguros para começar o tratamento por temer o que pode acontecer no processo. Por isso, a presença da família é importante para que paciente se sinta apoiado e possa superar a doença.
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Destaques Psicologias do Brasil, com informações de Veja.
Imagem destacada: Reprodução.