A Organização Mundial de Saúde sugere hoje – como item prioritário para os sistemas de saúde de todos os países – o desenvolvimento de estratégias de prevenção, tratamento e esclarecimento para as Dependências Químicas (incluindo aí não apenas cocaína, metanfetamina, crack e maconha, mas também álcool e tabaco).

Por que tanta importância?
Porque a cada 10 pessoas internadas em Hospitais Gerais ao redor do globo, sete estão lá pela complicação do uso de alguma substância química. Exemplos corriqueiros são:

  • cirrose causada pelo consumo de álcool;
  • câncer de pulmão e de mama ligados ao uso de tabaco;
  • traumas cranianos adquiridos por condutores dirigindo embriagados;
  • acidentes vasculares cerebrais secundários associados ao uso de cocaína; etc.

No Brasil, a cada 10 tentativas de assassinato por arma de fogo, oito delas acontecem com o agredido e/ou agressor estando sob o efeito de álcool ou outra substância psicoativa. Vale dizer que morte por armas de fogo é a causa mais frequente de morte em menores de 20 anos no país!

Somado a isso, está o prejuízo permanente no psiquismo de crianças que assistem a cenas de violência doméstica, inevitavelmente ligadas ao uso de álcool pelo(s) pai(s), além da desintegração das estruturas familiares que ocorre quando um ou mais filhos desenvolve dependência química pelo crack. Assim, começamos a ter um primeiro vislumbre do tamanho dos danos que se seguem essa a pandemia contemporânea.

Fica então evidente a necessidade – que deve partir tanto dos pais quanto dos educadores e profissionais de saúde – de compreender melhor em que consistem as dependências químicas e de quais recursos dispomos para lidar com o problema.

Primeiramente, falemos um pouco sobre as chamadas “drogas“. Com essa denominação geral, a cultura se refere a um grupo de substâncias psicoativas que podem causar dependência e trazer outros danos psicossociais. É importante lembrar que nem todas as substâncias psicoativas são proibidas (legalmente): álcool, café, tabaco e medicações psiquiátricas são substâncias psicoativas que não tem seu comércio proibido, apesar de, assim como as outras drogas, poderem causar dependência e trazer agravos maiores à integridade sócio-neuro-biológica da população.

Em segundo lugar, algumas palavras sobre “dependência”. O que se chama em geral de dependência refere-se à dependência química: fenômeno neurobiológico no qual o uso regular de uma substância modifica o organismo do usuário de forma que ele passe a apresentar dois fenômenos clínicos:

  • Síndrome de abstinência: quadro no qual, após a interrupção do uso da substância, a pessoa passa a exibir sintomas desagradáveis e alterações clínicas potencialmente comprometedoras da vida; e
  • Tolerância: acontece quando o sujeito passa a precisar de quantidades gradativamente maiores da substância para obter os mesmos efeitos que conseguia de início com quantidades menores.

Diferente da dependência química, falamos de uso abusivo de uma droga quando, apesar do sujeito não sofrer de sintomas de abstinência quando o uso é interrompido ou mostrar tolerância a quantidades cada vez maiores de ingestão da substância, as situações de uso são de grande prejuízo. O uso abusivo da droga desencadeia, principalmente:

  • acidentes de trânsito ao dirigir intoxicado;
  • overdoses;
  • prática de sexo indiscriminado sem qualquer tipo de proteção;
  • exposição a situações de violência; etc.

Posto isto, esperamos que esta primeira abordagem sobre alguns conceitos básicos relacionados à dependência química e ao uso abusivo de drogas (lícitas ou ilícitas) tenha trazido esclarecimentos sobre a gravidade da questão. Como manejar situações (dramas) familiares decorrentes do uso de droga? Falaremos sobre as possíveis estratégias e cuidados em breve!

Sugestões de temas, dúvidas sobre algum conceito de nossos artigos? Participe da nossa nova coluna “Pergunte ao Psiquiatra”! Envie um e-mail para: mauricio.psicologiasdobrasil@gmail.com, que nosso colunista Dr. Maurício Silveira Garrote terá o prazer de respondê-lo!
Maurício Silveira Garrote

Médico especialista em Psiquiatria Clínica pelo HC FMUSP (1985) e Mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, com a tese "De Pompéia aos Sertões de Rosa: um percurso ao longo da Clínica Psicanalítica de pacientes com diagnóstico de Esquizofrenia" (1999).

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