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Depressão no esporte: cobrança por perfeição e alta expectativa levam profissionais ao limite mental

Por Daniel Bocatto

Sensação de tristeza profunda, irritabilidade, dores no corpo e outros sintomas são indicativos de uma das doenças mais perigosas e silenciosas: a depressão. De acordo com dados divulgados de 2018 pela Organização Mundial da Saúde, 322 milhões de pessoas, 4,4% da população mundial, sofrem com a doença. Nos últimos dez anos, houve um aumento de 18,4% dos registros oficiais.

Para aproximarmos da nossa realidade, 5,8% da população brasileira sofre com algum tipo de transtorno depressivo. Para piorar, o Brasil ainda é o país com a maior taxa de ansiedade do planeta: 9,3% da população nacional manifestam o quadro, que se estende para casos como síndrome do pânico, transtornos obsessivos-compulsivos, estresses pós-traumáticos e fobias.

A depressão não distingue classe social, formação ou hierarquia. Porém, existe uma parte da população – ainda vista como privilegiada – que sofre cada vez mais com o problema. Em inúmeros casos, não recebe um tratamento psicológico adequado, com consequência no trabalho e na vida. Estamos falando dos atletas.

FOXSports.com.br conversou com atletas, ex-atletas, psicólogos do esporte e profissionais das categorias de base para entender porque pessoas que são vistas como exemplos e figuras a serem seguidas sofrem com os males da depressão e, em alguns casos mais graves, recorrem ao desespero do suicídio. Leia abaixo o depoimento de profissionais e entenda porque ela ‘doença do século XXI’.

Depoimentos

“Nunca tive vontade de cometer suicídio, mas perdi o prazer de viver. Não tinha mais alegria, acabou”.

Crédito: Marcelo Cortes/ Fotoarena

Ídolo da torcida do Vasco e um dos nomes que ficaram gravados na memória do torcedor brasileiro, o meia-atacante Pedrinho foi uma das vítimas. O craque aceitou abrir a sua história, contar sobre seus maiores medos e explicou porque a depressão que teve foi um dos momentos mais tensos e preocupantes da sua vida.

Depois da terceira cirurgia no joelho, estava deitado na cama do hotel e achei que meu joelho estava inchado. Liguei para o médico, ele olhou, examinou e disse que estava tudo certo. Mas, para mim não estava bom, mas não era nada. Os exames provavam tudo. Só que eu não estava legal. Passei a me isolar no vestiário, dos meus amigos. O Luxemburgo, que na época era meu técnico, percebeu que eu não estava bem. Ele identificou e me mandou para o psicólogo. Ele mesmo me levou para um psiquiatra. Fui diagnosticado com depressão profunda. Morava sozinho na época. Ia entrar com medicamento forte e tinha um prazo de melhora. De repente, teria até que ser internado. Mas não acreditava que os medicamentos fossem capazes de me fazer parar de chorar.

Para o agora ex-jogador, a forma como o esporte é tratado no Brasil favorece e muito o surgimento de doenças nervosas e emocionais dos atletas. Na opinião de Pedrinho, o atleta não é cobrado por sua performance, mas como pessoa, o que faz com que a pressão seja muito maior do que a esperada.

A maioria dos atletas vem sem dinheiro para a vida adulta e precisa de ajuda. O que melhora o equilíbrio emocional é o que acontece fora do critério do emocional. O atleta é cobrado desde pequeno, mas porque sempre elogiam os atletas europeus e tudo mais? Porque eles são cobrados profissionalmente, recebem críticas profissionais e não sentem ameaça de morte ou são coagidos por não poder sair de casa como é aqui no Brasil. O filho pergunta: Meu pai é bandido? Isso inibe demais o desempenho do atleta. Nem todos os atletas não sentem a pressão e tentam algo diferente em campo. Se ele tiver uma estrutura, for criticado de uma forma normal, ele mesmo adquire uma normalidade, equilíbrio. Hoje, os atletas recebem salários que são fora da realidade, e não é por isso que eles podem ser cobrados.

FOXSports.com.br conversou com o médico João Ricardo Cozac, psicólogo do esporte com 30 anos de experiência na área e Doutor pelo laboratório de Psicossociologia do Esporte da USP. Na opinião do especialista, existem alguns gatilhos que podem fazer com que atletas de alto nível desenvolvam problemas graves de comportamento, que são causados por depressão ou distúrbio psicológico.

A dificuldade em lidar com resultados, pressão e expectativa, são aspectos que acabam minando os atletas ao longo do tempo. Pelo fato de muitos não terem uma estrutura psicossocial, ficam mais propícios a serem mais carentes e fragilidade nesse universo. Sem dúvida, as pressões são muito intensas. Muitos também não vivem a fase de pré-adolescência de forma natural.

O médico esclarece que o índice de atletas depressivos aumentou consideravelmente nos últimos anos, principalmente após a virada do século XX para o século XXI. Porém, o especialista diz que a doença ainda não é tratada com a seriedade que merece e que muitos clubes enxergam como banal a necessidade de profissionais da área em seus departamentos médicos e esportivos.

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Acredito que até a década de 90 a depressão era concebida para pessoas ricas e desocupadas. Mas, de meados da década de 90 para agora, o número de atletas depressivos vem aumentando demais e se tornou uma realidade no esporte. Temos atletas usuários de drogas, alcoólatras. Demonstram depressão através destes meios. Nos últimos 20 anos, a depressão é comum nessa empresa esporte. Infelizmente, da mesma forma, existe ainda muito preconceito e ignorância dos benefícios que o trabalho da psicologia do esporte pode gerar em termos de benefícios aos atletas e aos seres humanos, que representam instituições. Existe uma banalização, um preconceito, diante dos valores psicológicos e emocionais. Equipes que ao invés de trabalharem com isso, convidam comandantes do Bope para darem palestras, reforçando o senso comum e o distanciamento de teorias psicossociais em trabalhos dentro dos clubes. Os clubes focam tanto em investimento em atletas e técnicos, mas esquecem da evolução e do fortalecimento psicológico.

Para Dr. Cozac, uma demonstração do pouco espaço dedicado ao tema nas principais equipes do Brasil é a quantidade delas que oferecem algum tipo de suporte dessa natureza. Na principal divisão do Campeonato Brasileiro, o cenário ainda tem muito para expandir.

Texto original de FOXSports.com.br.

REDAÇÃO PSICOLOGIAS DO BRASIL

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