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Por Virgilio Magalde
Quem nós somos? Quem eu sou? Como me descobrir? Como perceber o que sou? Como estar consciente? É possível controlar meus pensamentos? Posso dominar as minhas emoções?
Segundo a tradição védica (Indiana), para descobrir quem somos, primeiro é necessário descobrir quem ou o que não somos. É necessário descobrir que não somos isso ou aquilo, que não somos o corpo, que não somos os pensamentos, que não somos a emoção, que não somos uma identidade, que não somos um nome, que não somos um número.
Ao se desfazer de todo esse véu de identidades, é possível ter um vislumbre de quem realmente somos: a consciência, o observador, a testemunha.
- Você não é o seu corpo. O seu corpo é feito de mais de milhões de células e essas células estão morrendo e se reformulando a todo tempo. As células são feitas de átomos, que são iguais a qualquer átomo no universo ao redor de nós. Nesse exato momento, vários processos estão ocorrendo no seu corpo: digestão, crescimento de pelos, ativação do sistema imunológico. Tudo acontece sem o seu esforço.
- Você não é os seus pensamentos. Pensamentos continuam indo e vindo, não importa o quanto você foca ou medita. Aos estar consciente dos seus pensamentos, você se percebe algo antes (além) dos seus pensamentos. Se você fosse os seus pensamentos, não seria capaz de percebê-los. Perceber é separá-los de você e se manter distante desse processo. É criar um espaço entre você e seus pensamentos. Na meditação, ficamos um passo atrás desses pensamentos, mas não os controlamos. Não podemos saber o que vamos pensar nos próximos segundos, mas podemos, no momento presente, estar consciente deles. Quanto mais resistimos aos pensamentos, mais eles persistem - reconheça-os. É natural à mente pensar, não há nada de errado nisso. Pensamentos são como trens que param na nossa estação – apenas os perceba: se você se pegar dentro de um, apenas desça e retorne à estação. Não resista, não julgue e não critique.
- Você não é as suas emoções. O que vale para os pensamentos também vale para as emoções. Não somos o que podemos observar, ou seja, você apenas observa, mas não pode ser aquilo que observa. Se tivesse o controle total sobre as emoções, você escolheria nunca ficar mal, não é verdade? Se você fosse as suas emoções, elas não lhe trariam nenhum tipo de problema.
Você é a consciência, a presença, o ser, a vivência. A sua natureza é a presença, todo o resto é distração. Pensamentos e ideias, emoções e imagens, desejos, medos e ações chegam, mas não são você – você está consciente deles, você os testemunha.
Você está consciente de tudo, tudo chega a você na consciência, pois isso não existe de fato: iluminação, despertar, inconsciência ou separação. Tudo se torna uma ilusão sobre o plano de fundo da consciência.
TUDO ESTÁ ACONTECENDO NO MOMENTO PRESENTE, VOCÊ NÃO PODE FUGIR DISSO.
Você não é só o pensamento “eu sou fulano”, “eu sou meu nome”, “eu sou profissão”, “eu sou pai/mãe”. Você é o senso de presença abaixo de toda essa experiência. Deram-lhe um nome de ________, você possui um ofício de_____, você possui o papel de ______, e por aí vai.
Você apenas observa tudo o que acontece à sua volta, mas não é a identidade que faz tudo.
Para praticar:
1 - Na próxima vez em que perceber uma emoção, ao invés de dizer que você é ou está assim, diga: Eu observo a minha mente _______ (emoção).
Ex. De “eu estou triste” para “eu observo a minha mente triste”; de “eu estou com raiva” para “eu observo a minha mente com raiva”.
2 - Na próxima vez em que perceber uma dor ou desconforto, ao invés de dizer que você é ou está assim, diga: Eu observo o meu corpo _______ (desconforto).
Ex. De “eu estou com dor de cabeça” para “eu observo o meu corpo com dor de cabeça”; de “eu estou dolorido” para “eu observo o meu corpo dolorido”.
3 - Na próxima vez em que perceber um pensamento limitante, ao invés de dizer que você é ou está assim, diga: Eu observo a minha mente _______ (qualidade).
Ex. De “eu sou tímido” para “eu observo a minha mente tímida”; de “eu estou com medo” para “eu observo a minha mente medrosa” ou “meus pensamentos medrosos”.
“Observa os teus pensamentos assim como observas o movimento na rua, como observas as nuvens flutuando no céu. As pessoas vêm e vão; registra isso sem resposta (sem qualquer reação). Pode não ser fácil no início, mas, com alguma prática, irás descobrir que a tua mente pode funcionar em vários níveis ao mesmo tempo e que podes estar ciente de todos eles. Apenas quando tens um forte interesse num nível específico é que a tua atenção é aprisionada nele e os outros níveis te são ocultos. Quando você está interessado na verdade, na realidade, você deve questionar todas as coisas, mesmo sua própria vida. Ao crer na necessidade de uma experiência sensorial e intelectual emocionante, você limita sua investigação à busca de satisfação e de conforto. (E não vai à busca da Verdade). Enquanto houver um corpo e uma mente para proteger o corpo, existirão atrações e repulsões (devidos às limitações da mente individual em face de suas ilusões, suposições, crenças, cultura etc.). Existirão no campo dos fatos, mas não devem trazer preocupação para aquele que está compreendendo. O foco de sua atenção estará em outro lugar (além da mente). Não estará distraído. Este que vê o tudo isto e também vê o nada, é o mestre interior (aquilo a que damos o nome de Deus). Só ele é; todo o restante parece ser. Ele é seu próprio ser, sua esperança e segurança de liberdade: encontre-o e una-se a ele (isto é, perceba-o), e estará a salvo e seguro” (‘… a Verdade vos libertará’). A Libertação não é uma aquisição, mas uma questão de coragem; coragem de aceitar que você já é livre e de agir com base nisso”. (Do livro “Eu sou aquilo”, de Shri Nisargadatta Maharaj).
Desidentifique-se, seja livre.
Om
Virgilio
TEXTO ORIGINAL DE CONTIOUTRA