Chamamos de ciúme a emoção desagradável que nos invade quando sentimos que uma pessoa querida pode vir a gostar mais de outra pessoa do que de nós mesmos, e a partir daí passar a escolher esta outra pessoa como único foco do seu amor, ou amizade, ou atenção. Podemos sentir ciúme da nossa mãe, do nosso irmão, até do nosso colega de trabalho.
No ciúme, temos a sensação de que a pessoa que tememos perder só pode gostar de uma pessoa de cada vez. Sentimos também que o alvo de nosso ciúme é um sujeito único, ímpar, e que perder a sua atenção seria uma ameaça a nossa própria existência naquele momento.
Em termos cronológicos, a primeira experiência que temos do ciúme é quando temos um irmão/irmã. Éramos únicos no universo da mamãe (pelo menos em nossas fantasias) e aí aparece aquela coisinha linda, pequenininha, fofa: um irmãozinho! Mamãe agora só fala dele/dela, e passa maior parte do tempo cuidando dessa pessoinha. Dá até seu seio para essa pequena pessoa, que rapidamente se torna uma grande ameaça. Ameaça esta que dentro de nós se configura aos poucos em ameaça à própria existência – se mamãe não cuida de mim, quem vai cuidar? Se mamãe não fala mais que eu sou a pessoa mais importante do mundo, então quem sou eu?
Provavelmente, há milhões de anos, nosso antepassado peludo viveu essa “concorrência” como ameaça a sua existência concretamente – se mamãe oferecesse alimento só para o irmãozinho, nosso pequeno peludo morria mesmo. E mais: se mamãe não nos protegesse de nosso papai carnívoro, ele poderia mesmo nos comer!
Neste momento, você já deve estar percebendo que o que você sente hoje pelo seu namorado ou amigo tem uma história que se iniciou há muito tempo, tanto em sua vida como na vida de nossa espécie: é o que chamamos das dimensões ontogenética e filogenética do ciúme.
A experiência de ser abandonado pelo ser amado é uma das formas mais básicas do desamparo, tema que já abordamos em uma de nossas postagens anteriores. É universal: todos passamos por ela. O que vai fazer toda a diferença é como lidamos com essa sempre nova ameaça de perdermos o ser amado/mãe/chão e seguirmos sobrevivendo.
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