Chamamos de ciúme a emoção desagradável que nos invade quando sentimos que uma pessoa querida pode vir a gostar mais de outra pessoa do que de nós mesmos, e a partir daí passar a escolher esta outra pessoa como único foco do seu amor, ou amizade, ou atenção. Podemos sentir ciúme da nossa mãe, do nosso irmão, até do nosso colega de trabalho.

No ciúme, temos a sensação de que a pessoa que tememos perder só pode gostar de uma pessoa de cada vez. Sentimos também que o alvo de nosso ciúme é um sujeito único, ímpar, e que perder a sua atenção seria uma ameaça a nossa própria existência naquele momento.

Em termos cronológicos, a primeira experiência que temos do ciúme é quando temos um irmão/irmã. Éramos únicos no universo da mamãe (pelo menos em nossas fantasias) e aí aparece aquela coisinha linda, pequenininha, fofa: um irmãozinho! Mamãe agora só fala dele/dela, e passa maior parte do tempo cuidando dessa pessoinha. Dá até seu seio para essa pequena pessoa, que rapidamente se torna uma grande ameaça. Ameaça esta que dentro de nós se configura aos poucos em ameaça à própria existência – se mamãe não cuida de mim, quem vai cuidar? Se mamãe não fala mais que eu sou a pessoa mais importante do mundo, então quem sou eu?

Provavelmente, há milhões de anos, nosso antepassado peludo viveu essa “concorrência” como ameaça a sua existência concretamente – se mamãe oferecesse alimento só para o irmãozinho, nosso pequeno peludo morria mesmo. E mais: se mamãe não nos protegesse de nosso papai carnívoro, ele poderia mesmo nos comer!

Neste momento, você já deve estar percebendo que o que você sente hoje pelo seu namorado ou amigo tem uma história que se iniciou há muito tempo, tanto em sua vida como na vida de nossa espécie: é o que chamamos das dimensões ontogenética e filogenética do ciúme.

A experiência de ser abandonado pelo ser amado é uma das formas mais básicas do desamparo, tema que já abordamos em uma de nossas postagens anteriores. É universal: todos passamos por ela. O que vai fazer toda a diferença é como lidamos com essa sempre nova ameaça de perdermos o ser amado/mãe/chão e seguirmos sobrevivendo.
Sugestões de temas, dúvidas sobre algum conceito de nossos artigos? Participe da nossa nova coluna “Pergunte ao Psiquiatra”! Envie um e-mail para: mauricio.psicologiasdobrasil@gmail.com, que nosso colunista Dr. Maurício Silveira Garrote terá o prazer de respondê-lo!

Maurício Silveira Garrote

Médico especialista em Psiquiatria Clínica pelo HC FMUSP (1985) e Mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, com a tese "De Pompéia aos Sertões de Rosa: um percurso ao longo da Clínica Psicanalítica de pacientes com diagnóstico de Esquizofrenia" (1999).

Recent Posts

Após divórcio, médico exige que esposa devolva o rim que ele doou a ela

Richard Batista quer que a ex-esposa lhe dê o rim de volta ou lhe pague…

10 horas ago

O que significa quando uma pessoa pisca muito enquanto conversa com você?

Você já notou que, durante uma conversa, algumas pessoas piscam mais do que o normal?…

11 horas ago

George Clooney e Julia Roberts brilham muito na nova comédia romântica preferida dos assinantes da Netflix

Um filme delicioso que resgata vários elementos das charmosas comédias românticas que alçaram Julia Roberts…

13 horas ago

Mecânica dos caça-níqueis: comparação do Balloon Casino com outras máquinas caça-níqueis

Os caça-níqueis ocupam uma posição de liderança entre todos os jogos de cassino on-line devido…

1 dia ago

Mulher causa choque entre os amigos ao revelar que é abrossexual

A britânica Emma Flint, de 32 anos, viralizou nas redes sociais ao relatar a sua…

1 dia ago

Whindersson Nunes é internado em clínica psiquiátrica no interior de SP

O humorista de 30 anos resolveu se internar em uma clínica psiquiátrica no interior de…

2 dias ago