Por Roberta Legumbrer
Na Universidade de Stanford, na Califórnia, existe um grupo de pesquisa sobre timidez comandado por Philip Zimbardo. Esse grupo organizou um questionário sobre o tema e distribuiu para mais de cinco mil pessoas em várias partes do mundo. Mais de 80% dos entrevistados se consideraram tímidos em alguma fase da vida e 40% se consideram tímidos atualmente.
A timidez é um padrão de comportamento em que o indivíduo não interage ativamente de forma verbal ou não verbal, expressando pouco os seus pensamentos e sentimentos. A psicóloga e professora Denise Diniz, da Unifesp, classifica a timidez em dois tipos: a primeira é a situacional, que ocorre em ocasiões específicas. Já a outra é crônica e se manifesta em todas as formas de convívio social.
Esse comportamento faz parte da vida de muitas pessoas e, às vezes, é mal interpretado e considerado um sinal de antipatia. No entanto, Bernardo Carducci, especialista em timidez da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, conta que é preciso procurar entender essas pessoas, em vez de tentar mudá-las. “Não há nada de errado em ser tímido. O problema com a timidez é não entendê-la e deixá-la te controlar, em vez de você controlá-la”, aconselha. Ao saber conviver bem com isso, é possível até mesmo usufruir de vantagens. Saiba quais são elas:
É comum as pessoas quererem falar e não se interessarem pelo que o outro tem a dizer. Um tímido, pelo contrário, pode ser um excelente ouvinte. “Demonstrar um interesse pelo outro, dar lugar para que o outro se coloque, são algumas das qualidades de uma pessoa mais tímida”, ressalta a psicóloga Anna Hirsch Burg, do Núcleo Brasileiro de Pesquisas Psicanalíticas. Ela afirma que, quando a pessoa sempre tem que falar e ocupar o “centro do palco”, pode ser sinal de grande insegurança – e até maior que a de alguém tímido.
O tímido, por não expor muito seus pensamentos e sentimentos e apresentar certo “acanhamento” – incômodo ou inibição nos relacionamentos interpessoais -, preserva a sua imagem e não se expõe demais perante os outros nas situações cotidianas. De acordo com a coordenadora do setor de gerenciamento de estresse e qualidade de vida da Unifesp, Denise Diniz, um dos aspectos positivos desse tipo de atitude é a defesa. A pessoa acaba tendo uma atitude de cautela, buscando a atitude adequada para a situação. O tímido preserva a sua vida pessoal, apresenta um baixo volume de voz e costuma ser uma pessoa mais comedida.
Alguns tímidos transmitem paz e tranquilidade. A psicanalista Anna Burg enfatiza que, muitas vezes, pessoas caladas e tímidas são vistas como alguém que não fala porque está escondendo o “ouro”, ou seja, alguém muito sábio, que pensa para falar e tem respostas geniais para os problemas. Dessa forma, as pessoas tímidas podem ser requisitadas de maneira genuína para se tornarem amigas. Por serem mais discretas, costumam guardar melhor os segredos dos outros e esta é uma qualidade que aumenta a confiança, imprescindível em qualquer amizade.
A timidez pode servir como o comportamento de adaptação a novos relacionamentos. “Para o começo de relações amorosas ou de amizade, essa cautela do tímido pode ser muito benéfica”, adverte a psicóloga Denise. Passada a inibição, cautela e, até mesmo, o medo inicial, o tímido consegue conviver bem com a outra pessoa e só aprofunda a relação quando sabe que o outro também é de confiança e merece respeito e amizade. Dessa forma, eles se decepcionam menos com as suas relações e só investem o seu tempo e o seu carinho em pessoas que fazem por merecer.
Por não falar tudo o que pensa e ser comedido com as palavras, o tímido evita fazer comentários desnecessários, e assim, não ofende as outras pessoas com “excesso de sinceridade” e de palavras. De acordo com os especialistas entrevistados, vivemos em uma sociedade que exige que as pessoas sejam lindas, inteligentes e extrovertidas. Por conta disso, a timidez pode ser até vista como ruim para os outros, mas não é necessariamente um mal para o tímido. Se esse tipo de comportamento é só mais um fator da sua personalidade e você convive bem com ele, não há razões para mudar a sua essência. Só é preciso preservar a sua autoestima e valorizar-se do jeito que você é.
Imagem de capa: Shutterstock/Fabio Pagani
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