Por Antônia no Divã
Desde o lançamento da música Hello de Adele, não havia tanta gente pensando no ex, como no dia em que Gregório Duvivier abriu seu coração para a ex Clarice Falcão (e para o resto do mundo). A maioria de nós costuma guardar suas dores e sabores sobre o ex em um bloco de notas dentro de uma pasta oculta no computador, nas últimas páginas de um caderno antigo ou nas lágrimas rolando enquanto cantamos um sertanejo chorado. São tantas cartas não enviadas, e mensagens apagadas, que a atitude de Gregório foi avaliada pela maioria como corajosa, e com certa vergonha alheia pelo restante. A coluna dividiu opiniões, apesar do tom incontestável de fofice.
Li cuidadosamente os comentários no saudoso texto à Clarice, e a euforia em cada compartilhamento, e me pus a pensar quais donos de longos suspiros teria a mesma atitude de Gregório. Peguei-me pensando se eu mesma teria, e tive as minhas dúvidas. Não me leve a mal, acho lindo que Clarice e Gregório tenham uma relação saudável pós-termino, mas convenhamos que as probabilidades do desfecho ser positivo, são menores do que maiores. Até porque não é a toa que o texto veio certo tempo após a separação. Dar-se bem com o passado, por mais feliz que ele tenha sido, leva tempo. A dor da perda precisa de espaço. A ausência tem que virar costume. E o silêncio, muitas vezes, é fundamental para a cura.
Mas fiz um ensaio como Gregório. Separei meus antigos amores em 3 grupos: 1) aqueles para os quais eu escreveria, 2) aqueles para os quais eu não escreveria nem sob tortura, e 3) aqueles que rasgariam a minha carta antes de ler.
Avaliando os exs para os quais eu escreveria, pensei que lhes diria como o tempo nos fez bem. Que os seus aniversários seguem na minha agenda mental com carinho, e que eu torço pela felicidade deles. À estes contribuintes da minha bagagem emocional, diria que tudo que levo são boas lembranças, não porque não dividimos perrengues, mas porque a vida se encarregou de apagar qualquer mágoa que tenha ficado.
Agradecer-lhes-ia pelos colos que recebi, pois eu sei, eu sempre fui difícil na hora de ganhar colo. Não pediria desculpas por nada, pois a esta altura já não faria mais sentido, mas avisar-lhes-ia que eu hoje sou melhor por causa deles. Iria agradecer por me ensinarem tudo o que eu quero num parceiro, tanto quanto agradeceria por terem me ensinado o que eu já não quero – e que como foi importante chegar até aqui com estes parâmetros.
Àqueles que eu não escreveria nem sob tortura, revisei os motivos do porque e vi que as razões vão além do meu orgulho. Surpreendentemente. Entendi que alguns amores não se dissipam com o tempo e viram apenas boas memórias como nos casos do parágrafo acima. Alguns amores se transformam em sentimentos mais amargos, como rancor ou desdém, e estas são emoções que eu não gosto de revisitar, então pra que fazê-lo?
Os representantes deste grupo tiveram todos os meus verbos, palavras e conjugações. Nossos argumentos foram exaustivamente analisados por um vasto período e os dias atuais lhes garantem apenas uma palavra monossilábica como “oi” ou um acenar de cabeça, e olhe lá. Garanto, é melhor assim. Fato, é que esse papo de “é sempre amor mesmo que acabe” ou “se está mal resolvido é porque existe algum sentimento” é uma tremenda bobagem.
Sim, a gente se amou um dia. Mas não se ama mais, nem nutre algo como respeito ou carinho pela história que ficou, então pra que fingir simpatia? Não desejo mal a estes cidadãos, do contrário, lhes desejo muito bem… bem longe de mim.
E finalmente para aqueles que rasgariam a minha carta antes mesmo de abri-la, confesso que por esses representantes não nutro nada além de empatia. Sincera e generosa. Eu não estive certa o tempo inteiro nos meus relacionamentos e inclusive muitas vezes eu soube ser uma vaca. Sendo assim, da mesma forma como quero distância de algumas bagagens, eu não tenho dúvidas que eu seja a mala sem alça de alguém, louca para ser perdida em um redespacho na Tailândia. Hoje eu já desisti da comunicação com esse grupo, mesmo que com a melhor das minhas intenções.
Seria arrogância minha forçar a barra. Óbvio que eu levei 4 emails não respondidos e um block no Facebook para entender a mensagem – ora quem nunca – mas hoje eu já fiz as pazes com os silêncios que levei. E agradeço também a eles, como ferramentas de análise da minha própria consciência.
Eu demorei muito tempo para parar de remexer no meu passado, e confesso que meus ex-amores só tornaram-se amigos com esforço mútuo, tempo e espaço. Porque antes de falar de ex, é preciso fazer uma faxina na bagunça que é uma separação. E é importante destacar que eu só comecei a olhar para frente, depois que deixei de revisar os meus passos olhando para trás.
Talvez Gregório e Clarice sejam seres superiores na arte do desquite. Talvez a coluna tenha sido uma ação de marketing em cima do novo filme da dupla. Não importa. Mas antes de sair suspirando com saudade do ex, e lhe mandando textão no Facebook declarando como vocês foram felizes, convido a um exercício. A minha melhor amiga me ensinou uma estratégia muito simples para decidir falar com ou para um ex, uma pergunta simples que sempre me botou a pensar, mesmo quando estava decidida pelo contato:
Você está preparada para a resposta que vai ouvir? E para a falta de resposta?
Responder essa pergunta sempre me deu paz, qualquer que fosse a minha decisão depois dela. Então antes de sair jogando os verbos no ex, pense nisso. Ou no fato de que Clarice ainda não respondeu a carta do ex. E muitas vezes o silêncio vai falar mais alto.
TEXTO ORIGINAL DE OBVIOUS
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