“Eu estava lendo, segurando o livro, e de repente minhas mãos pareciam uma foto de um par de mãos. Eu sentia uma espécie de separação entre o mundo físico e minha percepção sobre ele.” Esse relato é de Sarah, em entrevista dada à BBC, em que fala sobre como foi conviver com o Transtorno de Despersonalização.
Esse transtorno, por mais que ainda seja pouco falado, é um dos mais comuns do mundo. Segundo estudos realizados tanto na Grã-Bretanha como nos EUA, a despersonalização pode afetar cerca de até 2% da população – ou seja, cerca de 1,3 milhões de pessoas no Reino Unido e 6,4 milhões nos EUA.
Pessoas que convivem com esse transtorno relatam um sentimento de desapego e distanciamento da realidade. A sensação é a de estar observando suas vidas, como se estivessem em um filme ou sonho. Essa percepção também gera uma dificuldade em entrar em contato com sentimentos e emoções, dificultando a relação com pessoas próximas. “Relacionamentos que você sabe que valoriza profundamente perdem sua qualidade essencial”, explica Sarah. “Você sabe que ama sua família, mas sabe disso apenas em termos acadêmicos – em vez de sentir do jeito normal.”
A despersonalização vem associada muitas vezes à depressão e ansiedade. Ela surge como uma forma de defesa do próprio organismo. Diante de uma situação de muito estresse e ansiedade, é como se a mente se “desligasse” para conseguir lidar de uma melhor forma com a experiência traumática.
Muitas pessoas vivenciam a despersonalização temporariamente. Isso geralmente ocorre quando há fadiga ou estresse elevados, como ao sofrer um acidente de carro ou ao perder uma pessoa querida. Mas os sintomas podem permanecer por mais tempo, havendo assim a necessidade de uma avaliação e tratamento psicológicos.
Experienciar os sintomas de despersonalização pode ser muito angustiante e desesperador, e é comum pessoas sofrerem ataques de pânico relacionados ao transtorno. A angústia de “não sentir” as emoções e não conseguir se identificar com a própria imagem, podem gerar a sensação de perda da sanidade mental, causando ainda mais estresse e ansiedade para a pessoa. Mas diferente da esquizofrenia ou psicose, esse transtorno não gera a perda de noção da realidade. O sujeito não se convence que existe uma realidade alternativa, em que as pessoas ou os objetos se tornaram algo ou alguém que não são. Ele apenas perde, temporariamente, a capacidade de se relacionar com as pessoas e coisas. É como se estivesse “preso” dentro do próprio corpo, apenas observando, sem interagir com o mundo externo.
Pessoas com esse transtorno têm a tendência de se isolarem, devido à dificuldade de se manterem ativos em um meio social, isso pode aumentar ainda mais a sensação de afastamento da realidade. Sendo assim, é importante manter as relações por mais difícil que isso seja.
A terapia pode ser uma grande aliada para o tratamento do Transtorno de Despersonalização. Ao falar sobre como está se sentindo e ao entender o que pode estar por trás dos seus sintomas, a pessoa irá perceber uma diminuição do estresse e, consequentemente, a mente não precisará mais se defender dos possíveis traumas. O objetivo do trabalho é ensinar as pessoas a lidarem com suas emoções e entenderem o que está acontecendo com elas.
O medo e a falta de conhecimento são os principais vilões quando falamos sobre transtornos mentais. Quando se sabe o que tem e como lidar, o desafio fica um pouco mais fácil de ser vencido. Mesmo havendo novos episódios de despersonalização, o paciente conseguirá lidar com eles rapidamente, evitando assim o prolongamento dos sintomas indesejados.
Imagem de capa: Shutterstock/Vitaliy Hrabar
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