Dica de filme: “Homens, mulheres e filhos”

O filme “Men, Women and Children” (Homens, Mulheres e Filhos), dirigido por Jason Reitman (EUA, 2014), é baseado no livro homônimo de Chad Kultgen. O elenco chama atenção para o momento de transição que a cultura ocidental atravessa. O filme mostra os alunos de uma escola no Texas e seus familiares, e alerta para os distúrbios de personalidade existentes em muitas famílias disfuncionais desde o impacto da internet, redes sociais e celulares em nossa vidas. A hiperexposição íntima nas redes sociais, conecta vários enredos em típicas famílias americanas e as consequências do abuso virtual e da falta de comunicação total. Os adolescentes se isolam em sua solidão aparentemente preenchida pelas redes sociais, sites de pornografia, culto à beleza e outros temas.

Chris é o nome de um dos adolescentes do filme. Trata-se de um jovem de 15 anos que vive com sua família, pai, mãe e um irmão mais novo. Don, pai de Chris, tem por hábito recorrer a sites pornográficos para fazer sexo solitário, além do fato de sua mulher, Helen, ter perdido totalmente o interesse sexual por ele. A falta de amor na vida do casal não é reconhecida, mas é expressa numa busca equivocada de contato unicamente físico. Ele pede para a mulher com quem teve um encontro marcado via site: “podemos apenas ficar em silêncio e abraçados? “. Percebemos quão frágil e defensiva é sua estrutura de ego. Don tem uma companheira insatisfeita por muito tempo mas que mantem a aparência adequada para a família. Don funciona dentro de uma maneira limitada de viver porque quer muito pouco da vida. Sua vida sexual frustrada no casamento é compensada pelas ofertas na internet. é um homem fraco a quem falta a função de ser pai e amigo de Chris.

Allison, outra aluna, desmaia numa poça de sangue no banheiro da escola. A menina anoréxica que é quase invisível física e psiquicamente, ganha presença ao quase morrer em decorrência de uma gravidez tubária após uma transa com o garoto bonito com quem sonha. Apesar de todos os dias praticar inconscientemente se matar não se alimentando, somente a grande cena de seu desmaio e internação de emergência é que a coloca em evidencia para a família e a escola.O rapaz que a considerava feia, havia comentado com os amigos que a “comeria” caso encontrasse o buraco em meio aos ossos, resolve se vingar dela porque tornou pública nas redes sociais, a transa entre eles. Ele aceita encontrar-se novamente com ela, só que na casa dele e depois de meia noite. Vemos Allison, durante a noite lançar uma pedra na janela do rapaz, virar de costas e tomar o caminho de volta. Toma esse novo caminhar na direção de adquirir a consciência de que sua doença não é mais necessária para se conhecer.

Hanna, auxiliada pela mãe,Donna, entra num concurso para participar de um reality show, o entusiasmo das duas é enorme como se a felicidade dependesse daquela conquista. No entanto, no período dos testes, Donnah começa a se relacionar com um homem divorciado, Kent. É pelo telefone que a mãe recebe a notícia que Hanna foi rejeitada no programa apesar de ter sido a melhor nos testes. Sua filha é rejeitada pela existência dos sites em que expunha sua figura.

 Já Patrícia é a apavorada mãe de uma tranquila e triste adolescente. Considera sua filha exposta a terríveis perigos e a julga inteiramente incapaz de se defender. Brandy não tem o direito de gozar de privacidade e de manter relacionamentos com seus colegas. Todas as comunicações de Brandy nas redes sociais e até em seu telefone passam pela constante censura da mãe paranoica que não se detém e deleta todas as mensagens e muitas vezes, até antes que cheguem a Brandy, Patrícia consegue esse controle pelo uso de um aplicativo. A família composta por Kent, esposa e filho foi desfeita quando a mulher abandonou marido e filho para viver uma paixão. Como ela postou em sua página do Facebook fotos de sua atual vida feliz. Era por esse único meio que Tim tinha conhecimento do que se passava com a mãe. Kent, homem simples e honesto, sofre com a fuga da ex-mulher e as dificuldades de ter que lidar com seu filho em plena crise de adolescência agravada pelo abandono da mãe.

A mãe de Brandy, se passando pela filha, interrompe a comunicação dos namorados e deleta Tim no celular, quase deletando-o também da vida. Tim procura pelo carinho de Brandy após uma briga com o pai, porque este, enfurecido pelas imagens da ex-mulher no Facebook, que encontra no computador do filho, num acesso de raiva, fecha a conta dos jogos de Tim, e agora o obriga a retornar ao futebol. Ao pensar que Brandy não o quer mais, rejeitado e só, pensa que sua morte ou vida é insignificante para o sistema cósmico e tenta se matar ingerindo os comprimidos receitados pelo psiquiatra. É salvo pelo amor de Brandy.

Todos os personagens são tristes, mesmo que alguns disfarcem seu vazio diante da internet. A internet tem o papel principal, uma vez que impõe regras, oferece prazer e lazer, sendo ao mesmo tempo ilusória e efêmera. É este o fio condutor do filme: mostrar-nos a busca incansável por um mundo virtual que preencha vidas vazias, sem rumo, sem sentido. Até quando?






Fernanda Luiza Kruse Villas Bôas nasceu em Recife, Pernambuco, no Brasil. Aos cinco anos veio morar no Rio de Janeiro com sua família, partindo para Washington D.C com a família por quatro anos durante sua adolescência. Lá terminou o ensino médio e cursou um ano na Georgetown University. Fernanda tem uma rica vida acadêmica. Professora de Inglês, Português e Literaturas, pela UFRJ, Mestre em Literatura King´s College, University of London. É Mestre em Comunicação pela UFRJ e Psicóloga pela Faculdade de Psicologia na Universidade Santa Úrsula, com especialidade. Em Carl Gustav Jung em 1998. É escritora e psicóloga junguiana e com esta escolha tornou-se uma amante profunda da arte literária e da alma, psique humana. Fernanda Villas Bôas tem vários livros publicados, tais como: No Limiar da Liberdade; Luz Própria; Análise Poética do Discurso de Orfeu; Agora eu era o Herói – Estudo dos Arquétipos junguianos no discurso simbólico de Chico Buarque e A Fração Inatingivel; é um fantasma de sua própria pessoa, buscando sempre suprir o desejo de ser presente diante do sofrimento humano e às almas que a procuram. A literatura e a psicologia analítica, caminham juntas. Preenchendo os espaços abertos da ficção, Fernanda faz o caminho da mente universal e daí reconstrói o caminho de volta, servindo e desenvolvendo à sociedade o reflexo de suas próprias projeções.