“Queria apenas viver aquilo que brotava espontaneamente de mim. Por que isso me era tão difícil?”
É assim que Hermann Hesse (1877-1962) nos insere em “Demian”, livro que conta a história de Emil Sinclair a partir de sua própria perspectiva dos fatos.
A narrativa se inicia na infância do mesmo, onde ele se vê dividido entre o mundo puro e claro da casa paterna, na qual ele sente um profundo desejo de pertencer, e o lado sombrio e intrigante do mundo fora do lar, que também o atrai e faz parte dele ao mesmo tempo. A dualidade do personagem se mantém durante toda a obra de um jeito incrivelmente convidativo ao leitor, que se vê muitas vezes questionado sobre essa transitoriedade entre dois mundos dentro de sua própria vida.
O encontro de Emil Sinclair com Max Demian (personagem que dá nome ao livro) se dá ainda no começo da história, quando Sinclair é constantemente ameaçado por chantagens de um menino, Franz Kromer, e Max Demian, apesar de ser um garoto apenas um ano mais velho, consegue auxiliá-lo a se livrar do mesmo, não utilizando-se de força bruta ou de uma chantagem ainda maior, mas sim através de uma imagem de segurança e controle que transmite aos que o conhecem.
A angústia sentida por Sinclair nos momentos de chantagem mostra o quanto o livro retira o véu da nostalgia e nos relembra que a transição da infância para o mundo adulto é também um período bastante difícil, e que um jovem passa por conflitos psicológicos tão intensos e profundos quanto um adulto.
Max Demian provoca em Sinclair reflexões desde a infância, o levando através da adolescência a buscar o autoconhecimento de maneira profunda e até mesmo um tanto quanto perturbadora.
O livro se encerra quando Sinclair tem apenas 18 anos, nos relembrando o quanto este período é intenso e profundo do ponto de vista psicológico. Não há como ler o livro sem sentir-se afetado de alguma maneira. Trata-se de uma daquelas obras que vale a pena reler de tempos em tempos, pois, conforme mudamos, a leitura se torna reveladora de maneiras diferentes.
Para encerrar, uma breve frase do livro que transmite um pouco da angústia da transição entre infância e vida adulta: “A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo.”
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