Por Esequias Caetano
Dona Joaninha namorava o Sr. Bezouro há três anos. Planejava se casar, até. Era completamente apaixonada por ele. Investia todo o carinho, dedicação, atenção e cuidados àquele namoro. Um belo dia, descobre que o Sr. Bezouro a traía com a Sra. Mariposa e começa a chorar por dias e dias sem conseguir parar. Termina o namoro, óbvio, pois não se achava merecedora de tal situação.
Algum tempo depois, ela começa a namorar com o Sr. Mosquito. De modo estranho, quando começa a gostar dele e a investir mais na relação, termina o namoro. Dona Joaninha tenta também namorar o Sr. Marimbondo, mas também não consegue. Isto acontece também com diversos outros seres legais da floresta que tentam namorá-la; afinal, ela é linda, inteligente, romântica, e super divertida, muitos querem se casar com ela. Nem o Sr. vagalume, com toda a sua beleza e luminosidade, consegue fazer com que Dona Joaninha sinta-se segura e se entregue à relação. O Louva a Deus, com toda a sua graça e simpatia, também tentou – mas foi tudo em vão.
Ela diz que quer se casar, construir família, ter filhos (imagine como seria o filho de Dona Joaninha com o Sr. Marimbondo) e tudo mais o que as garotinhas da idade dela sonham. O problema, é que sempre que começa a gostar de alguém, sente-se angustiada, ansiosa, com medo, não consegue ficar à vontade nas situações íntimas e acaba terminando o namoro. Percebendo o que sente quando começa a se envolver mais com alguém, ela “descobre” que tem medo de amar e diz que é por isto que não consegue se firmar com ninguém. Mas… o que é que pode ser chamado de “medo de amar”?
Bom, requerendo aqui o direito à licença ‘poética’ na fábula acima, resolvi usá-la para ilustrar a explicação do que pode ser chamado de “medo de amar”.
Já no início do conto dou pistas do que pode levar alguém a sentir “medo de amar” – ou, dito de outro modo, sentir-se ansiosa e insegura quando está prestes a entrar em uma relação mais séria com alguém. Uma pessoa que investe muito em uma relação e é abandonada, ou traída – como dona Joaninha foi, pode, a partir de então, começar a evitar estar em uma situação na qual precise voltar a investir no namoro. Ela passou a fazer algo (terminar) que a impedisse de estar em uma relação mais íntima, que pode ter adquirido caráter aversivo graças a um pareamento com a traição.
Terminar antes de se envolver muito, neste caso, é uma resposta incompatível à resposta punida: investir na relação. É chamada também de resposta controladora, pois controla outros comportamentos da própria pessoa. Esta resposta (terminar antes de ficar sério) tem função de fuga, pois remove as emoções ruins que estão pareadas com estar investindo em uma relação¹.
Outra coisa que pode manter este padrão de não se envolver, é o reforço positivo: ao falar que tem medo de se envolver, que não consegue confiar, etc., quem estiver disposto a tentar conquistar Dona Joaninha vai ter que ralar mais, isto é, vai ter que se esforçar mais e certamente fará um monte de coisas legais para agradá-la. Isto faz com que ela continue falando que não consegue se envolver e, de fato, não se envolva com ninguém. Ela não faz por mal. Muitas vezes sequer tem consciência disso.
E isto pode trazer também consequências desagradáveis para ela, como danos à sua auto-estima e auto-confiança; danos sociais, com a família e amigos cobrando namoro; e diversas outras. Pode acontecer também, como acontece com muitos homens em especial, de tornar-se reforçador ficar com muitas pessoas diferentes. Isto pode ser reforçado tanto pelo próprio ficar, quanto pelos amigos que elogiam e aprovam este comportamento (nem todo galinha é galinha por este motivo, bom lembrar).
Referências:
¹- Livro: Princípios Básicos de Análise do Comportamento – Márcio Borges Moreira e Carlos Augusto de Medeiros. Editora Artmed, São Paulo, 2007.
Imagem de capa: Shutterstock/Yellowj