Dormir bem é essencial para viver mais e com saúde

Por Ana Maria Madeira

Que dormir é um dos maiores prazeres da vida, todos sabemos. Poder acordar tarde, sem preocupações com horário é uma delícia, mas para a grande maioria isso só é possível nos raros dias de folga. Entretanto, dormir bem não significa necessariamente se esbaldar de dormir ou deixar de fazer as tarefas para sucumbir à preguiça, e sim manter uma boa rotina de sono para encarar o dia a dia estressante. Além do prazer, a ciência comprova que dormir bem só traz benefícios à sua saúde e bem-estar – o que vale para pessoas de todas as idades, das crianças aos mais velhos.

Uma noite bem dormida tem a ver com viver mais, de acordo com um estudo da Universidade de Warwick e da Universidade Federico II, na Itália. De acordo com os pesquisadores, quem dorme menos de seis horas ou mais de oito ao dia tem 12% a mais de chance de morrer. Com a qualidade do sono prejudicado, crescem os ricos de acidentes, por conta da sonolência, e de ataques cardíacos em função do estresse.

Para o neurologista Renato Lima Ferraz, a quantidade ideal de horas de sono varia de pessoa para pessoa. “Mas o mínimo recomendado é de seis horas ao dia, sendo importante não ultrapassar nove para adultos, porque quem dorme mais que isso acaba ficando, na verdade, menos descansado”, explica o especialista. A importância do sono, também se estende ao aprendizado. “Na fase REM, quando acontecem os sonhos, as coisas que foram aprendidas durante o dia são processadas e armazenadas. Quando dormimos menos que o necessário, a memória de curto prazo não é processada e não conseguimos transformar em conhecimento aquilo que foi aprendido”, explica o neurologista.

Renato ainda diferencia os tipos de insônia: existe a transiente, que tem um prazo curto e em geral é desencadeada por algum episódio, a intermitente, ou seja, aquela que passa mas volta de tempos em tempos, e a crônica, que é constante.

Vida sexual prejudicada

Para quem não considera a morte prematura um bom motivo para se preocupar com o próprio sono, vai esta: homens que dormem mal têm mais risco de ter disfunção erétil. O estudo, do Instituto do Sono, foi feito com 449 homens de 20 a 80 anos. Dormir mal está associado à baixa produção do hormônio sexual masculino testosterona, de acordo com o neurologista Renato Lima Ferraz. O trabalho mostrou ainda que pessoas com o sono muito fragmentado e menor tempo de sono REM (fase na qual ocorrem os sonhos) têm o dobro do risco de ter disfunção.

Sono x obesidade infantil

Estudos também apontam a importância de se cultivar bons hábitos de sono desde a tenra idade. Os hábitos de sono na infância podem ser decisivos para a vida adulta. “Os pais que não colocam regras de sono para os filhos, criam neles o hábito de dormir tarde. Após alguns anos, no entanto, eles precisarão acordar cedo para ir à escola ou trabalhar. Porém, não conseguem dormir cedo, pois foram acostumados assim”, afirma o neurologista.

Um estudo do Instituto de Pesquisa da Criança de Seattle, EUA, descobriu que crianças e adolescentes que não dormem o suficiente têm mais chances de se tornarem obesos. Depois de avaliar dados sobre os padrões de sono, a alimentação e os níveis de atividades físicas de 723 jovens com média de idade de 14 anos, os especialistas observaram uma relação do sono com um maior índice de massa corporal (medida do peso em relação à altura) e maior percentual de gordura.

Outro estudo, da University of Helsinki e do National Institute of Health and Welfare, da Finlândia, concluiu que, entre as 280 crianças participantes, as que dormiam menos de oito horas por noite eram mais hiperativas. Os especialistas responsáveis acreditam que o sono adequado poderia melhorar o comportamento das crianças saudáveis e reduzir os sintomas das que sofrem do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade.

Por conta de problemas de sono, o desempenho da criança pode cair e ela pode ser diagnosticada como hiperativa em razão da irritabilidade e de sua dificuldade de concentração.

Um ponto importante no sono das crianças é o papel dos pais. Um estudo do American Academy of Sleep Medicine mostrou que as crianças de famílias que estabelecem horários de dormir regrados desenvolvem melhor o aprendizado. O desenvolvimento da linguagem, consciência fonológica e habilidades matemáticas precoce foram mais detectados em crianças cujos pais relataram ter regras sobre o tempo de ir para a cama. Além disso, dormir uma hora mais cedo contribuiu para maiores medidas de desenvolvimento.

O médico diz que a quantidade ideal de sono para as crianças é de 9 a 11 horas de sono. “As crianças costumam ficar irritadiças quando dormem menos que isso, além de terem comprometimento de seu crescimento, pois durante uma das fases do sono há a liberação do hormônio GH, responsável pelo crescimento.”

Diante de produtos inusitados à venda, como almofadas em formato de braço para satisfazer aquela vontade dos solitários de dormir juntinho com alguém, dá até para pensar que dormir ao lado de alguém é um antídoto contra a insônia. Mas nem sempre funciona assim. Um estudo da Universidade de Surrey, no Reino Unido, concluiu que compartilhar a cama com o parceiro pode causar incômodos por causa do ronco ou da disputa pelo cobertor, e levar, assim, à perda de preciosas horas de sono. Os pesquisadores concluíram que, em média, os casais sofrem 50% ou mais problemas ao dormir, quando compartilham a cama. Foi também estabelecida uma ligação entre dormir mal e depressão, doenças cardíacas, derrame, distúrbios pulmonares, acidentes de trânsito e divórcio. “Para quem divide a cama com um parceiro, tem insônia e se incomoda com o ronco ou a disputa ‘territorial’ da cama, vale tentar dormir em cama ou ambiente separados”, diz o neurologista.

Aliviando a pressão

A qualidade do sono também tem influência no controle da pressão arterial. Um estudo da Universidade de Chicago (Estados Unidos) confirma que uma boa noite de sono associa-se a menores níveis da pressão arterial. O estudo avaliou 578 adultos de meia-idade. Os resultados mostraram que, após a exclusão dos pacientes que estavam tomando medicação anti-hipertensiva, a duração menor do sono e a pior qualidade do mesmo foram decisivos para um maior risco de elevação da pressão arterial sistólica e diastólica ao longo do tempo. Uma curta duração do sono também associou-se a um aumento do risco de desenvolvimento da hipertensão arterial. Para cada hora a menos de sono, observou-se um aumento do risco relativo da incidência de hipertensão arterial em 37%.

Imagem de capa: Shutterstock/Kl Petro

TEXTO ORIGINAL DE MINHA VIDA






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