Carla Morais, uma cearense de 37 anos, tomou uma decisão que para muitos pode parecer radical: ela optou por um período de celibato de três anos, após se sentir frustrada com relacionamentos anteriores. “Preciso de um espaço para repensar a maneira como lido com minhas conexões amorosas, porque, geralmente, o amor romântico se torna a tônica da minha vida”, diz.
Inspirada pela ideia de repensar suas conexões amorosas, Carla se junta a um movimento crescente de mulheres heterossexuais que estão abraçando a chamada ‘sobriedade de homem’ nas redes sociais. O movimento ‘boy sober’ defende que o afastamento do amor romântico pode proporcionar um detox emocional, permitindo que as mulheres concentrem sua energia em outras áreas de suas vidas.
Enquanto enfrenta quatro meses sem relações íntimas, Carla explora sua libido de ootras maneiras, como por exemplo, o prazer solo: “Posso ser criativa e incrementar com muitas fantasias. Faço todo dia, sempre que tenho vontade”, revela a cearense, que descobriu novos prazeres ao longo do processo: “Gosto muito de sair sozinha, colocar uma roupa legal e me sentir bonita.”
Profissionais da área de saúde mental, como a psicóloga Gisele Aleluia, apoiam essa decisão quando feita em busca de qualidade nos relacionamentos ou para interromper padrões tóxicos: “Acho importante a mulher entender que merece sentir prazer com segurança”, diz. “Conceder um tempo para refletir sobre a forma como nos relacionamos é interessante para não emendarmos um romance no outro. Assim, evitamos situações desnecessárias só por um desejo de estar com alguém.”
A psicanalista Regina Navarro Lins vê o celibato feminino como parte de uma mudança cultural, onde as mulheres estão se tornando mais autônomas e questionando padrões tradicionais de relacionamento: “Historicamente, fomos moldadas para atender e nos ajustar às exigências dos homens. Agora, estamos nos libertando dessa falsa obrigação de ter ao lado um marido ou um namorado. Não precisamos disso para sermos plenamente felizes”, afirma.
Renata Romano, uma naturóloga do Rio de Janeiro, compartilha da visão de Carla. Sozinha há um ano e sem pressa para encerrar seu celibato, Renata destaca a melhora significativa em sua qualidade de vida desde que optou por não se envolver com homens: “Minha geração cresceu com essa influência das princesas da Disney, que esperava por um príncipe encantado, e a realidade não é essa. Saía frustrada porque colocava muita expectativa e vivia em função disso. Hoje, posso dizer que me amo muito mais”, conta ela. “Antes só do que com um cara que não vai me acrescentar em nada. Pelo contrário, só vai tirar minha paz interior.”.
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Fonte: Matéria de Yasmin Setubal para O Globo.