Confesso que é muito difícil lidar com a burrice motivada, que não é aquela por falta de determinado conhecimento. Falo da burrice que despreza quem gosta de estudar ou aprender, uma espécie de tolice e malcriação, que tenta calar as ideias divergentes e não apresenta dados que esclareçam suas críticas.
Aliás, é uma burrice que se configura como movimento que ganhou dimensões públicas, com um impacto gigantesco nas mídias sociais, que funciona de modo perverso do ponto de vista psíquico e social, seja por sua ignorância ou maldade, exigindo tratamento e combate adequado.
A burrice motivada tem uma vocação cômica e trágica, que não sabe a hora de calar, expondo suas opiniões, sem nenhum limite moral e sem nenhuma preocupação gramatical. Ela é uma variante da burrice política, que acredita ser dona da verdade absoluta, revelando falta de empatia com grande parte da população que está à beira da fome, que pauta sua vida mais na subsistência do que em ideologias.
Essa burrice se acha empoderada, e se encarrega de compartilhar o discurso negacionista, como forma de convencer a si mesmo e aos outros de coisas que desconhece. É uma – desastrosa aliada – do negacionismo, que visa a negação tanto de fatos históricos quanto de evidências científicas, com o objetivo de criar tumulto e invalidar os acontecimentos.
O problema é quando a burrice passa a colocar a vida das pessoas em risco, a partir do “achismo” que desconsidera a gravidade de doenças, menospreza a necessidade de medidas preventivas ou invalida os recursos de proteção já existentes, como acontece na pandemia do coronavírus.
A psicanálise entende que o indivíduo que sofre de burrice motivada expõe traços histriônicos ou paranoicos, que insiste na negação como mecanismo de defesa, como um meio de escapar da realidade, por causa de sentimentos como ameaça e medo. Isso leva a recusa em admitir que não se sabe ou não entende de certos assuntos, que é provocada por conteúdos que causam aversão.
Mas para sair dessa patologia da burrice, basta ler as fontes de informações que não sejam anônimas, que se baseiam em fatos e não em fake news. Também é importante aprender que os maiores atributos da democracia é conviver com as divergências de ideias, respeitar a liberdade de expressão e lembrar o que disse o escritor Nelson Rodrigues: “ Toda unanimidade é burra.”
Portanto, a família e a escola têm um papel fundamental em educar os nossos jovens a participar de discussões com conhecimento e respeito. E, sobretudo, não desaprendam que a Terra é redonda, que o aquecimento global existe, que à Covid-19 mata, que as vacinas funcionam etc.
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Jackson César Buonocore é Sociólogo e Psicanalista
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