A OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou que a depressão, provavelmente, será a doença mais comum em 2030. Existem diversas definições para a depressão em inúmeros segmentos da medicina, não é minha intenção neste texto criar mais uma, apenas vou lhe apresentar uma definição segundo a psicologia analítica comportamental.
Para a psicologia analítica comportamental a depressão é um conjunto complexo de comportamentos emitidos por uma pessoa na interação com seu ambiente, ou seja, é a maneira de interagir com tudo ao seu redor, inclusive e principalmente com as pessoas. Essa interação é marcada por comportamentos denominados depressivos, como por exemplo : choro constante, irritabilidade, alta incidência de reclamações, pouco ou nenhum convívio social, dentre outros.
Por que uma pessoa passa a emitir comportamentos depressivos?
Podemos levantar algumas hipóteses acerca de como uma pessoa pode ter passado a comportar-se de maneira depressiva e o porquê desses comportamentos permanecerem ao longo da vida. Gosto de lembrar que todo caso é único e por isso precisa sempre ser analisado cuidadosamente, porém a literatura nos oferece uma gama de possibilidades a serem investigadas, vamos à elas:
– Redução ou pouco convívio social.
O convívio social é fundamental para que aprendamos infinitas possibilidades de repertório comportamental. Através do convívio com outras pessoas conhecemos diferentes maneiras de encarar a vida, aprendemos com exemplos como resolver nossos problemas, aprendemos também a quem recorrer diante de dificuldades, aprendemos com o outro possibilidades de um viver diferente do nosso.
Quando uma pessoa passa a isolar-se sinaliza que antes o que era prazeroso no convívio com pessoas deixou de ser , esse comportamento precisa ser investigado, algumas perguntas podem ajudar nessa investigação: -O que as pessoas estão dizendo a mim que tem me deixado mal e tem feito com que eu me afaste? Mas como eu tenho me comportado na presença dessas pessoas? Minha presença é agradável e atrai outros ou minha presença é aversiva e tem afastado as pessoas de mim?
Perceba que a interação com o ambiente é uma via dupla? É vai e vem, como você se comporta interfere e como os outros respondem também.
– Redução de atividades do dia a dia
Fazer atividades prazerosas aumenta a probabilidade de continuarmos fazendo tais atividades, pois nos sentimos bem ao fazê-las. Quando uma atividade deixa de ser prazerosa, devemos buscar outra e assim por diante.
Uma pessoa que não é capaz de encontrar outras maneiras de interagir (por falta de repertório comportamental) tende a ficar cada vez mais “parada” em casa ou numa rotina casa, trabalho, casa, trabalho….
O cultivo de uma variedade de fontes de reforçamento ou atividades reforçadoras, seria uma boa prevenção da depressão, em outras palavras, mexa-se , explore lugares, conheça pessoas, aprenda uma atividade nova, ficar parado é um fator de risco para a depressão.
-Perdas
Nosso ambiente é recheado de reforçadores, são relações, pessoas, até mesmo objetos, que reforçam nosso comportamento , nos deixam felizes e nos fazem sempre querer repetir um comportamento em relação a algo. Uma pessoa reforçadora, te deixa tão bem quando você está perto dela que você quer repetir sempre o comportamento de estar junto a ela.
Quando perdemos nossos reforçadores, perdemos também o que fazíamos na presença dele, deixamos de nos comportar, porque a pessoa não está mais lá ou não há mais um emprego, não há mais uma casa…
Perdas importantes costumam ser potencializadoras de comportamentos depressivos,nesses casos é preciso encontrar outras fontes de reforçamento , quanto mais, melhor.
-Histórico de punição prolongado
Depressão crônica pode ser comum a pessoas com histórico de punição prolongada, alguns exemplos são pessoas que sofreram abuso físico ou sexual, pais excessivamente críticos ou exigentes, etc.
Pessoas com esse tipo de histórico podem se tornar excessivamente defensivas, ou até mesmo punidoras de outros, pois aprendeu a punir ao ser punido e pode não saber como conseguir o quer de outra maneira.
Aprender que existem alternativas à punição é um fator importante para quebrar o círculo vicioso.
Estes são alguns fatores que podem desencadear o comportamento depressivo, perceba você que quando citei comportamentos que levam uma pessoa a emitir comportamentos depressivos implicitamente mencionei atitudes que podem previnir a depressão, vamos recapitular de maneira bem simples:
Para evitar que a depressão se instale devemos procurar sempre manter um convívio social vasto, locais diferentes, grupos de pessoas diferentes. Prestando sempre atenção se somos uma pessoa agradável, se estamos atraindo pessoas para perto ou repelindo –as com nossas atitudes, lembre-se o mundo já esta repleto de chatos, se sua companhia for agradável estará sempre rodeado de pessoas.
Procure fazer atividades prazerosas, mais uma vez eu repito, quanto mais, melhor. Amplie seus comportamentos, aprenda coisas novas todos os dias, conheça novos lugares sempre que possível, e isso inclui aquela visita a casa de um amigo que você prometeu já tem um tempo. Assuma compromissos com as pessoas, ajude pessoas, se disponha a ensinar algo a alguém. Seu emprego está desanimador , reflita como você pode mudar seu ambiente para que ele te dê mais prazer. Atue sobre o mundo , você o transformará e ele a você.
Se você não estiver conseguindo sozinho, busque ajuda profissional, em psicoterapia, um bom profissional irá encontrar com você o que o está mantendo depressivo.
Ficou com dúvidas quanto ao artigo, ou precisa de orientação psicológica, estou à sua disposição me escreva >> rafaelacoras@hotmail.com
Referências
CAVALCANTE, Simone Neno. Notas sobre o fenômeno depressão a partir de uma perspectiva analítico-comportamental. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 17, n. 2, p. 2-12, 1997 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98931997000200002&lng=en&nrm=iso>. access on 01 Aug. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98931997000200002.
Guilhardi, H. J. e Oliveira, W. (1997). Linha de base múltipla: possibilidades e limites deste modelo de controle de variáveis em situação clinica. Em Banaco, R.A. (Org.). Sobre o Comportamento e Cognição (pp. 348-384).São Paulo, ARBytes Editora, Ltda
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