Jackson César Buonocore

Educação sexual: qual é a melhor maneira de falar sobre o tema?

Em oposição ao senso comum, a educação sexual não é apenas falar de sexo. É muito mais do que isso. Ela serve para o autoconhecimento sobre o corpo e o aprimoramento da autoestima. E, sobretudo, ensina às crianças e adolescentes a prevenção contra os abusos.

Sabemos da resistência de certos pais em tratar o tema com seus filhos. Não é por acaso, que as pesquisas indicam que 70% dos casos de abusos são cometidos por alguém da família. O que pode ser “naturalizado” pelas crianças e adolescentes. Por isso, que a educação sexual é um dever dos pais ou responsáveis, da escola e do estado.

Aliás, é preciso desconstruir a ideia de que a educação sexual é induzir a fazer sexo. Pelo contrário: é educar de maneira responsável e emancipatória referente ao corpo humano, e partir de determinada idade é importante abordar a questão da sexualidade.

Para uma criança não se deve discorrer sobre o ato sexual, mas falar do cuidado, da higiene e dos limites do corpo. E com os adolescentes pode se conversar acerca da gravidez, ISTs, HIV/AIDS e estupro, já que é uma fase instável entre a vida infantil e a adulta, todavia cheia de descobertas e de novas maneiras de se conectar com o mundo.

Entretanto, ensinar a temática da sexualidade exige uma educação teórica e científica, com uma linguagem acessível, desapegada de preconceitos e ideologismos, que oportunize serenidade aos pais e professores para debater o assunto junto às crianças e adolescentes.

Nesse sentido, é um dever do Estado criar políticas públicas que viabilizem a promoção da educação sexual na família e na escola, ouvindo a opinião dos pais e professores, que são os agentes na construção da sexualidade saudável.

Não temos dúvidas, de que a sexualidade é profundamente investigada nas obras de Freud, nas quais analisa todas as fases do desenvolvimento psicossexual da criança. Ele fez a diferenciação científica entre sexo e sexualidade: estrutura biológica, afetiva e psíquica dos seres humanos.

Por conseguinte, Freud entendeu que a educação vai além do esclarecimento sexual das crianças, da satisfação de suas dúvidas e suas curiosidades. Ela é também o aprendizado dos adultos sobre a sexualidade e sobre a necessidade das crianças de saber sobre o assunto, saber sobre si mesmo e sobre suas transformações físicas e psíquicas.

Assim, a abordagem freudiana da sexualidade se mostra a melhor maneira de falar do tema, que contribui com a ação pedagógica da educação sexual na escola, uma vez que as crianças e adolescentes passam a maior parte da vida no ambiente escolar, experienciando os seus conflitos, a sua corporeidade e a sua subjetividade.

Contudo, a educação sexual com o viés teórico e científico necessita percorrer um processo educativo-afirmativo, através de uma reeducação dentro da família e da escola, que esteja fora dos padrões patriarcais ou autoritários.

Com isso se reafirma a relevância da família e da escola na formação de princípios e valores em relação à sexualidade. Apesar disso, ambas devem se empoderar do conhecimento e do vocabulário correto, a fim exercer uma educação sexual responsável e emancipatória.

Portanto, a educação sexual deve formar indivíduos conscientes, que lidam de modo equilibrado com qualquer manifestação da sexualidade, mantendo o respeito pelo outro e por si mesmo. Afinal, a educação sexual não termina na infância e na adolescência, visto que adultos e idosos continuam aprendendo sobre sexo e sexualidade, que são partes da personalidade de cada um, ou seja, um aspecto humano que não pode ser separado da vida.

Photo by Josh Willink from Pexels

Jackson César Buonocore

Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista

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