“Sabemos o momento em que nossa vida começa e, obviamente, não temos ideia quando ela terminará. Não sabemos quanto tempo teremos do primeiro ato da nossa existência até o último, em que teremos que sair de cena”. (Nazaré Jacobucci)
Hoje eu li este texto escrito pelo caríssimo Prof. Dr. Franklin Santana Santos e adorei! Por isso, decidi compartilhá-lo com vocês.
“Educar para a morte é uma necessidade, diria mesmo uma urgência. Na nossa sociedade discutimos todo e qualquer assunto seja na rua, em casa, nas escolas e universidades, exceto a morte.
O assunto tornou-se tabu e o medo nos paralisou. Colocar a morte de escanteio, na periferia de nossas vidas e da nossa sociedade não diminui o tabu, nem o medo. O historiador francês Philippe Ariès já nos advertia que deixar de pensar na morte não a evita ou a retarda. O pensamento mágico já não funciona para qualquer coisa, quanto mais com a realidade mais certa da vida: a morte. Gostemos ou não, queiramos ou não, crentes ou descrentes, morreremos. Eis a suprema verdade!
E de onde vem esse medo? Bom, esse medo é multicausal e vai desde o rompimento dos afetos até as perguntas primevas que a Humanidade fez de todo sempre e continua a fazer: de onde viemos e para onde vamos. Viemos do acaso e finalizaremos no Nada ou viemos de uma dimensão espiritual e voltaremos para essa mesma dimensão? Educar para a morte é, pois, discutir todas essas possibilidades, é englobar a religião, a filosofia, a ciência, a educação e a estética. Educar para a morte não é ficar preso aos túmulos e às necrópoles. Os cemitérios, em si, têm pouco a nos oferecer nesse sentido.
A questão da educação para a morte deveria começar na infância, mas, e sobretudo, centraliza-se no hoje, no agora, no que fazemos do nosso precioso e limitado tempo. A educação para a morte nos convida a olharmos as nossas relações e a qualidade delas, as nossas prioridades existenciais, a nossa ampulheta e a quantidade, teórica e probabilística, de areia nela existente, as nossas crenças mais profundas ou mesmo as nossas descrenças.
Porque a morte quando bate à nossa porta cobrará respostas para essas perguntas e grande será nossa ansiedade e angústia nesse momento. A morte exige, acima de tudo, que vivamos de acordo com o que acreditamos, sem hipocrisias, pois ela conhece o móvel de cada ação, de cada pensamento, de cada valor que cultuamos. Ela conhece até aquilo que queremos esconder de nós mesmos. A morte cobra caro dos indecisos, dos levados pelo vento, dos levianos, dos em cima do muro, dos efeitos manadas, dos perdidos existencialmente.
A nossa fé no Nada ou em uma vida pós-morte é muito frequentemente vaga. Não empregamos o devido esforço e nosso escasso tempo na busca de maior certeza. Deixamos isso para lá, para o futuro, para a hora da morte. Mas acontece que a morte não tem dia e nem tem hora para bater à nossa porta ou na daqueles que amamos.
E quando o inevitável acontece demonstramos, muito frequentemente, uma fácies de surpresa, de indignação, de revolta contra regras bem claras e estabelecidas: que a morte só obedece a uma única regra: a de que ela chega para todos, cedo ou tarde. Nesse momento não adianta espernear, gritar, chorar, maldizer, implorar, barganhar, pois a morte faz ouvidos de mouco, assim como nós fizemos durante toda nossa vida para com ela.
Ao invés de tê-la como inimiga, como adversária, e uma adversária imbatível, aprendamos através da arte de educar para a morte, a torná-la nossa amiga, a dialogar diuturnamente com ela, a repensar a nossa vida, nossos afetos, nossas prioridades e no momento oportuno poderemos morrer com serenidade e em paz, deixando atrás de nós o rastro luminoso de uma vida feliz e bem cumprida! “. (Prof. Dr. Franklin Santana Santos – 26.04.2016)
Este texto nos faz refletir sobre a necessidade de se falar da morte sem medo. Eu penso que dialogar sobre a morte é importante porque este tema possui uma magnitude de significados que, ao se revelar, pode tornar sua aceitação mais fácil. Na mina opinião deveríamos ter uma outra cultura sobre a morte. Uma cultura de diálogo nos permitiria ter menos raiva diante desse processo, seja nosso ou do outro.
Nazaré Jacobucci
Psicóloga Especialista em Luto
Member of British Psychological Society