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Ei, pais! Ensinem seu filho a expressar raiva!

Cena típica: um adulto, visivelmente constrangido, lança olhares rápidos e risos desajeitados a outros adultos que observam a cena. No chão, uma criança se debatendo. Seus gritos podem ser ouvidos no ambiente todo. Objetos próximos e o próprio adulto podem virar alvo da fúria do pequeno. Os observadores logo concluem: trata-se de um pai/mãe acompanhado do filho que se enfureceu após seu desejo ser negado. O que os pais devem fazer para conter a raiva da criança? As estratégias vão desde ignorar a birra até ceder ao desejo do filho.

A raiva é autêntica, e tratando de sentimentos, não há os mais ou menos certos do que outros. Entretanto, embora natural, a raiva se torna problemática quando negada ou expressada através da fúria. A birra infantil é um comportamento de protesto, atrelada à frustração, que busca alívio através da raiva. Ignorar ou menosprezar a manifestação de raiva invalida os sentimentos da criança. É importante verbalizar que é compreensível que sinta raiva, pois é uma emoção natural e há maneiras adequadas e positivas de expressá-la. É preciso explicar que o que pode não ser apropriado é como se reage à raiva, como quando ela é usada para quebrar algo ou agredir alguém.

Frases como “se não parar com isso, não vou mais te amar” ou “isso é feio” afetam negativamente a autoestima da criança. Feio é algo ruim, logo, se o que ela sente é feio, ela é ruim. Feia e má, não merece amor. Faltam-lhe recursos suficientes para compreender os motivos que levam os pais a agirem assim, podendo carregar as marcas depreciativas em sua autoimagem por toda a vida. Além do mais, apresentar a raiva como algo feio que deve ser escondido pode transformar a criança em um adulto com sentimentos de culpa e vergonha de suas próprias emoções.

Pais que são alvos da agressividade e se sentem ofendidos, replicam o ataque da criança, comprometendo o espaço para diálogo, compreensão e ensinamento. E, também, a criança imita o comportamento dos pais, tomando este como forma apropriada de agir. É necessário conter a criança e ajudá-la a entender o que sente, mostrando que há outros meios para demonstrar sua insatisfação. Os frequentes ataques de raiva, difíceis de conter, que ocasionam destruição de objetos, agressões a outro ou a si próprio necessitam de cuidado profissional que possibilite que a criança possa se manifestar de forma não destrutiva.

No desenvolvimento infantil, a identificação das emoções acontece gradualmente. Além da imaturidade emocional, a criança pequena também é verbalmente imatura, não conseguindo se expressar com suas palavras limitadas. Frustrada, usa gritos e agressividade física. É o adulto quem apresenta a linguagem e os cuidadores devem nomear e dar significado aos sentimentos e comportamentos da criança. É necessário identificar o que a enfureceu e explicar que sente raiva porque gostaria de assistir TV em vez de ir à escola ou porque o amigo a desagradou na brincadeira, por exemplo. Assim, os sentimentos ganham sentido e podem ser comunicados pela fala. Permitir que a criança vivencie suas emoções possibilita que ela, com a ajuda de seus cuidadores, entenda o que sente e compreenda a si mesma.

Marciane Sossmeier

Psicóloga clínica com enorme interesse nos processos e mecanismos envolvidos nas interações e comportamentos humanos. Com orientação psicanalítica, mantém uma abordagem integral do ser humano e sua subjetividade. Graduada pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e pós-graduanda em Dinâmicas das Relações Conjugais e Familiares pela Faculdade Meridional (IMED). .

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