Estamos no início do ano e o clima de renovação, planos e metas ainda deixam seus aromas nos ares. O ímpeto ao novo parece contagiante. E isso é uma delícia, não digo que não é. Ter os pensamentos voltados para o futuro, pensar em atividades inspiradoras e antever os bons resultados, traz novas esperanças e um brilho fantástico no olhar.
Entretanto, a cultura do movimento rápido, do descartável, do “próximo, que a fila anda”, nos deixa distraídos em relação ao que já conquistamos com grande esforço, e está ali, no alcance de um piscar, um pouco empoeirado e opaco pela falta de olhares renovados. Percebe? Muitas vezes, não é o movimento de fora que deve ser mudado, mas o olhar novo para o de sempre, para o antigo, o guardado; o olhar pode reaviva-lo e devolver-lhe o brilho que teve há algum tempo.
Eventualmente, deixamos de reconhecer nossos méritos por conquistas que tivemos e acabamos por diminuir vitórias importantes da nossa história. Isso envolve pessoas também. Me diga se não é motivo para comemoração (muita comemoração!) o fato de ter um amigo há mais de 5 anos? E vinte anos, então? Merece uma festa a fantasia com open bar e pão de metro! Relacionamentos duradouros são um oásis nas securas do mundo.
Lembra como foi difícil comprar o primeiro carro? E os apertos que deve de fazer para financiar um apartamento cubículo, mas que seria seu? E aquela seleção em que você foi aprovado, aquele projeto de sucesso, o beijo naquele cara que você paquerava há tempos, os aplausos num discurso, o agradecimento sincero de quem não tem nada a oferecer… e quando a criança deixa estampado no rosto que você acertou em cheio no presente de aniversário? Ah, tem coisas encantadas escondidas nas grandes e pequenas vitórias cotidianas.
Faça o exercício de desenvolver a ansiedade às avessas: perca tempo apreciando e valorizando o que está ao alcance das suas mãos ou de uma lembrança, refaça mentalmente a trajetória que te levou ao sucesso, reveja o que não deu certo no meio do caminho e como você se portou na ocasião. Cubra de brilho novamente e pergunte: o que permanece?
O amigo, a irmã, o namorado que virou marido, o apartamento que não vê uma mão de tinta há um tempinho, o carro que precisa de revisão, aquele projeto de livro que precisa só do fechamento… visite novamente o primeiro lugar no podium dessas vitórias e deixe-as como novas. Ao contrário de acomodar, essa postura poderá inspirar novas possibilidades do novo na sua vida.
Recicle o que já é seu, ao invés de focar apenas no que ainda vai chegar. Acredite: o sabor das novas conquistas será mais agradável ao paladar das suas lutas.
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