Por Fátima Uhr
Contar histórias é um ato de amor, um momento de intimidade entre o adulto e a criança. Por isso, pode ajudar o relacionamento criança/família, criança/escola, criança/mundo.
As histórias são eficientes para ensinar justamente porque encantam as crianças. Não é impressionante como elas nunca se cansam de ouvir muitas e muitas vezes a mesma história? É fácil entender esse fascínio, basta lembrar que a literatura tem como matéria-prima a emoção. Assim ouvir histórias pode ajudar a criança a crescer e enfrentar seus medos e inseguranças, além de ser uma experiência muito prazerosa.(Betthelheim, 1978).
A voz do pai ou da mãe passa para as crianças componentes mágicos – algo tão inerente à sua própria infância – supre-as de uma afetividade diária – infelizmente nem sempre possível para um grande contingente de crianças dentro da realidade brasileira – o que iria minimizar alguns conflitos ocasionados em crescimento.
A fantasia e a magia de uma história não só encanta e desperta a imaginação criadora, como também é responsável por várias formas de contatos de gerações, avós que contam histórias são o fascínio dos netos. Fanny Abramovich (1995) nos diz que é ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes como a tristeza, a raiva, a irritação, a tranquilidade e tantas outras mais. E viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve. Ora, é através da história que o sujeito vive as emoções, elabora-as e pode, assim, entender alguns fatos da sua vida.
É importante contar histórias para as crianças, pois através delas podem descobrir palavras novas, entrar em contato com a musicalização, com locais, com fatos históricos. Contando-se histórias, trabalha-se melodia, ritmo, expressão oral e tantas outras formas interdisciplinares de socialização e aprendizado.
Ao contar uma história para uma criança, tem-se a oportunidade de compartilhar emoções, despertar o prazer de escutar o outro e de estar em convivência com o grupo. Ao ouvir uma história, pode-se fazer e refazer, produzir e reproduzir, no sentido de reconstruir imagens na mente, imagens do passado, estimular a criatividade, etc.
O hábito de contar histórias constitui um precioso instrumento para o relacionamento, trata-se um momento de aproximação, descontração e troca. Exige parceiros dispostos a mergulhar por inteiro na aventura da fantasia.
Cunha (1970) relata que um bom contador de histórias precisa acreditar na realidade da ficção; ser natural e discreto; evitar as adaptações, lendo o que está escrito no livro; não explicar demais; lembrar que toda história é um ponto de encontro e de partida para outras atividades e que a moral da história muitas vezes é nenhuma, ou melhor várias; porém quem deve descobrir é a criança.
Não podemos negar que o vínculo afetivo (corpo a corpo) que a criança constrói com o adulto ao ouvir uma história é muito importante para tantas descobertas necessárias em sua faixa etária. É certo que não podemos sonegar às crianças de hoje o contato com as novas tecnologias (TV, Computador, tablet, celular, etc), porém seria muito bom se os pais buscassem mais tempo para estarem com seus filhos ajudando-os na construção de suas histórias. Para isso, seria preciso percorrer caminhos que, às vezes, parecem esquecidos: brincar com música, desenho, jogos, recorte e colagem, dobradura, dramatização. Literatura Infantil e, desta forma, deixar que o imaginário da criança possa leva-lo até onde desejar. (Leite, 1997).
Contar histórias é abrir as portas para a fantasia, é dar a chance de a criança construir sua própria história – seu bem maior.
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