Enfrente-se : Às vezes a pessoa tóxica é você mesmo

 

Nós adoramos reclamar das pessoas tóxicas. São milhares de artigos falando sobre gente assim. “Como saber se alguém é tóxico.” “Você merece abandonar essa amizade tóxica.” “10 sinais de que você se relaciona com uma pessoa tóxica.”

Parece que até pouco tempo não tínhamos uma palavra para descrever relacionamentos que não são abusivos explicitamente, mas que são de alguma forma ruim para nós. Chamamos essas relações, frequentemente, de tóxicas. Não poucas vezes, a pessoa que percebemos como “tóxica” nem é descaradamente cruel ou manipuladora. Em regra, elas não estão tentando tornar nossas vidas insuportáveis. Apenas são pouco saudáveis para nós. E por conta disso, o relacionamento se torna tóxico.

Precisamos de esforço demais para nos relacionarmos com uma pessoa tóxica. Sua existência – Combinada com a nossa existência – coloca uma pressão sobre a maneira como viveríamos nossas vidas sem a presença delas. A realidade de uma relação tóxica é que todas as partes podem ter boas intenções, porém o resultado final mesmo assim pode ser venenoso.

O problema é que, na verdade, não gostamos de ver as pessoas tóxicas como seres humanos.

Nós gostamos de entender pessoas tóxicas como monstros que estão tentando nos derrubar e fazer da nossa vida um inferno a todo custo.

Essas pessoas tóxicas são os pais que estão nos obrigando a fazer atividades que odiamos, porque “obviamente” eles querem que sejamos humilhados (não porque eles estão mal informados sobre o que pode nos desafiar). São os parceiros que se recusam a se comprometer, pois acham que são mais importantes do que nós ( não por genuinamente não entenderem o que precisamos). São amigos que sempre roubam a atenção de todos, pois querem nos diminuir ( não porque se energizam mais em situações sociais).

Colocamos o rótulo de “tóxicas” em pessoas sem considerarmos o lado delas na equação. Se são ações deliberadas ou se conseguiram entender o nosso lado na equação. Essa mentalidade de “nós contra eles” forma uma distorção perigosa para nossas vidas.

Eles são o monstro do mal. Nós dizemos a nós mesmos. Não poderíamos ser como eles.

Nós decidimos que, porque nossas intenções são boas, nunca poderíamos ser tóxicos para alguém. E é assim que o ciclo se perpetua.

Porém, aqui está uma verdade. As chances são grandes de, em algum momento, você ter sido tóxico para alguém.

Você pode não ter percebido isso. Mas em algum momento alguém se esforçou demais para fazer funcionar uma relação contigo. E provavelmente, levaram golpes na auto-estima também, medindo-se com você. Eles provavelmente estendiam a mão para você e acabaram recebendo em troca coisas ruins.

Essas coisas podem acontecer com alguma regularidade, muitas vezes sem que percebamos. Não queremos o título de “tóxicos” pois teríamos nos comportado de maneira diferente caso soubéssemos dos dois lados da história. Mas isso não é verdade também para a maioria das pessoas tóxicas?

Poucas pessoas se aproximam da gente com intenções realmente ruins. Poucas pessoas têm como objetivo tornar seus entes queridos tristes e suas vidas deprimidas. Não planejamos causar estragos em nossos relacionamentos, no entanto acabamos fazendo de qualquer maneira.

A decepção restringe nossa visão. Não conseguimos ter amplitude. Priorizamos as coisas como X, Y e Z. Sem perceber que nossos amigos, familiares, priorizam coisas como Y, Z e X. E nossos relacionamentos se tornam tóxicos sem que percebamos isso.

Por tanto, este é meu alerta para nós. Todos somos tóxicos em algum momento.

Nenhum de nós é perfeito e ter nos intenções não nos livra de sermos tóxicos. Quanto mais cedo percebemos isso, mais cedo poderemos acabar com esse ciclo tóxico, no lugar de apontarmos os dedos uns para os outros sem parar.

A verdade é que você pode amar alguém de todo o coração e ser tóxico para ele. Você pode cuidar  e ainda ser tóxico. Mesmo querendo tudo de melhor para uma pessoa, nada disso impede ter um impacto negativo na vida dela. São combinações de experiências, desejos, vontades. Nenhum dos dois é culpado. Mas o resultado de se relacionar assim é o que é.

Uma das lições mais difíceis que podemos aprender é que às vezes a melhor maneira de amar alguém é ficando distante. Que não importa o quanto queremos elas felizes, não seremos as pessoas que ajudarão nessa felicidade.

E tudo bem…

Muito da toxicidade é acidental. Sem intenções ruins.  Assim, é importante também nos perdoarmos da toxicidade que não queríamos causar. Aprendemos a perdoar os outros por isso também.

Nunca seremos os melhores para todas as pessoas. E também, nem todas as pessoas têm a nossa medida. Então nós aceitamos isso. Deixamos de lado nossas diferenças. Nós ficamos no nosso espaço quando precisamos dele. E aprendemos a amar de longe.

Este texto é uma tradução adaptada do texto de Heidi Priebe, Check yourself: sometimes you are a toxic person do site Thought Catalog.

Imagem de capa: Shutterstock/solominviktor






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