Por Içami Tiba, em seu site
Uma criança pode apreender sobre tudo o que acontece à sua volta. Apreender é captar para poder usar. Se não conseguir usar é porque apreendeu mas não aprendeu. Aprender é tornar-se dono de um conhecimento.
Se ela vê dinheiro e logo quer comprar qualquer coisa, significa que ela aprendeu que dinheiro é para gastar; mas, se ela quiser guardar, é porque aprendeu algo a mais que gastar. Gastar ou guardar pode ser aprendido pela observação ou pelo aprendizado. É do instinto do bebê levar à boca tudo o que pega. Mais tarde a criancinha quer pegar tudo o que vê.
Com quem a criança aprendeu a gastar ou a poupar dinheiro? Por que nenhuma criança vai à rua e vai se apossando de tudo o que vê num supermercado? Porque ela não vê alguém fazendo isso e quando ela quiser fazer, sempre terá algum adulto que lhe dirá para não fazer assim. Para se apossar, tem que pagar. Se ela insistir em pegar, seu adulto responsável lhe dirá para não fazê-lo porque é preciso pagar para pegar.
Se ela pegar sem que tal adulto veja, o dono do objeto pretendido ou qualquer outro que estiver por perto ou até mesmo o segurança do supermercado vai proibi-la e se ela fizer escondido, será pega em flagrante por furto. É o limite que a sociedade impõe.
Por que a criança tentou se apossar de algo que não é seu? Porque em casa ela podia pegar o que quisesse, menos o que os adultos proibissem. Se ela pudesse fazer em casa tudo o que quisesse, não entenderia o limite que fora de casa outros adultos iriam lhe impor. Em uma casa onde adultos não estabelecem nenhum limite estão deixando de ensinar uma importante regra social: não nos apossamos do que não nos pertence.
A criança aprende a lidar com sua vontade de pegar: em casa é mais permissivo e na rua não é. Mas ela observa seus pais e outros adultos pagando para se apossar das compras que fizeram. Ela apreendeu esta imagem. Quando ela pega e pede para a mãe pagar, ela aprendeu que, para possuir, tem que pagar. Também aprendeu que são os adultos que têm dinheiro. Logo ela também quer ter a posse do dinheiro. Isso acontece antes de ela saber o valor unitário de cada moeda ou nota.
Quando a criança entrega uma moeda para se apossar de um brinquedo na loja, ela aprende o valor intrínseco em cada unidade de dinheiro. É quando pergunta aos pais o que ela consegue comprar com “aquela moeda”.
É este o momento oportuno para se ensinar à criança que se quiser comprar um brinquedo ela tem que juntar dinheiro. Então ela sai correndo atrás das moedas soltas pela casa, o que deve ser reforçado pelos pais, e pede dinheiro a quem ela achar que o tem. Os pais têm de ajudar o filho a selecionar estas pessoas: não se pode pedir dinheiro aos funcionários da casa, mas nada impede que peça aos parentes próximos.
Não se pode pegar o dinheiro dos outros sem pedir para eles. Sentar com pai, mãe ou qualquer outro adulto de confiança, para contar o “seu dinheiro” é algo que lhe dá satisfação e significado ao acumular dinheiro. É preciso deixar tudo muito bem explicado ao filhinho: que o dinheiro é dele e pode comprar o que quiser desde que os pais aprovem. Sem esta explicação os pais correm o risco do filho aprender que: “o dinheiro é meu e compro o que eu quiser”. Os pais não podem dar dinheiro hoje para os filhos comprarem drogas amanhã.
É quando o filho começa a dar significado ao dinheiro e aprende a lidar com o seu real valor que se pode começar a combinar sobre mesadas. A Educação Financeira hoje é tão importante que lhe dedico um capítulo inteiro, com 14 páginas, no meu livro Adolescentes: Quem ama, educa!, Integrare Editora.
Imagem de capa: Shutterstock/Tamara Kirsanova