Por Daiana Cristina Rauber
Historicamente a participação da família na escola vem se dando frequentemente para espaços que exigem uma reflexão. São comuns as reuniões em que os pais são convidados para dar explicações e fazer queixas sobre o desempenho e comportamento dos filhos. Há também os eventos festivos, nas quais se espera a contribuição com dinheiro, donativos ou com seu trabalho. De forma geral, são frequentes que essas sejam as formas de participação dos pais e fora disso, mantém-se bastante afastados do que tange a escola (GOMES, 1993).
A relação família-escola também é marcada muitas vezes, por tensão e desconforto, na qual os profissionais e os pais se sentem incompreendidos e desrespeitados. A escola, frequentemente assume o papel de chamar os pais apenas quando há algo de errado. E os pais, por sua vez, ora apreendem para si uma culpa e vergonha apenas por ter sido chamado à escola, ora colocam-se em guarda, já visando defender filho da escola, seja lá qual for o motivo (GOMES, 1993).
Nesse contexto, podemos perceber uma condição de subalternidade, na qual os pais não se sentem pertencentes à dimensão escolar. Dialogar com a escola, exige que se tenha consciência de uma relação de igualdade e a certeza de que existe o respeito mútuo. Entretanto, o que é mais comum, é o temor e a relação de poder, entre superior e inferior. Assim, ambos, profissionais e pais, perdem numa relação que objetiva o desenvolvimento dos filhos, e cabem as duas partes a possibilidade de romper tal condição. Contudo, as responsabilidades são diferentes, uma vez que, alguns são profissionais, e outros, simplesmente pais. (GOMES, 1993)
Necessita-se do cuidado para que não se reduza a educação à escolarização, não se confunda o papel paterno/materno com o papel docente. E nesse sentido, que se entenda que enquanto pessoas, as mais diferentes possibilidades de participação podem ocorrer. Pais com pouca escolaridade, mães que sozinhas organizam o meio familiar para dar conta dos estudos, que podem ter tido experiências muito negativas com as escolas, entre tantas outras possibilidades… Podem não condizer com o estereótipo de colaboradores com a escola com prestação de serviços, presença ativa nas reuniões, acompanhamento das lições escolares pelo mais diversos motivos, ressaltando a exclusão social que se entorna. E assim, o papel dos profissionais da escola é de romper com a relação de poder absoluta e arbitrária que muitas vezes se instala entre escola e família e, chamar esta relação para uma parceria. Respeitando as peculiaridades de cada grupo familiar, buscando entender o contexto em que está instalada esta família e, com isso, trazer para perto estes importantes atores no desenvolvimento dos alunos (PATTO, 1992).
A educação escolar tem o papel fundamental de continuar a educação familiar. É importante levar em consideração que a quantidade de tempo dedicado ao acompanhamento dos estudos dos filhos não é o essencial e sim a qualidade dessa dedicação, à atenção que é dada aos comunicados, o envolvimento nos momentos de participação e a valorização da educação na família. Assim como cabe a escola preparar atividades atrativas e participativas aos pais. Igualmente não é necessário que se domine os conteúdos para auxiliar no processo ensino-aprendizagem, mas, é importante que se acompanhe, incentive e oriente a contrapartida dos filhos na escola (ZAGURUY, 2008).
“É preciso, no entanto, que a equipe técnico-pedagógica ouça, analise e dê um retorno. Mesmo quando não se aceita uma sugestão, se isso é explicitado de forma técnica, mas compreensível, costuma funcionar bem. A adesão dos pais é essencial e começa no momento em que se sentem aceitos e respeitados. Como todas as pessoas querem se sentir, não é mesmo?” (ZAGURUY, 2008).
Ao revalorizar o saber, ter mais contato com os trabalhos desenvolvidos pela escola, os pais auxiliam a reconstruir a confiança e o respeito ao professor, motivando ao estudo e disciplina. Neste processo, críticas, sugestões e relatos dos pais também devem ser bem aceitos pela escola, que da mesma maneira, devem estar preparadas para acolhê-las, dar a devida consideração e o retorno aos pais. Se a escola perceber os pais como intrusos ou incômodos nesse espaço, esta relação possivelmente será desgastada (ZAGURUY, 2008).
Referências
GOMES, Jerusa Vieira. Relações Família e Escola – Continuidade/Descontinuidade no Processo Educativo. Série Ideias. 1993. Disponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_16_p084-092_c.pdf>. Acesso: 10 de outubro de 2012.
PATTO, Maria Helena Souza. A Família Pobre e a Escola Pública: Anotações sobre um desencontro. Psicologia, USP. S. Paulo, 3 (1/2), p.107 – 121. 1992. Disponível em: <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/psicousp/v3n1-2/a11v3n12.pdf> Acesso 15 de outubro de 2012.
ZAGURY, Tania. A participação da família na escola. [30 de agosto, 2008]. Entrevista concedida ao Jornal do Professor. Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/conteudoJornal.html?idConteudo=63 > Acesso: 09 de outubro de 2012.