Em uma casa descolada na Vila Madalena (bairro badalado da capital paulista), 14 “alunos” entre 25 e 60 anos esperam o chamado da “professora” enquanto aproveitam o cardápio de boas vindas da escola, que oferece vinho, frutas, pães e água saborizada com alecrim e limão.
O tema da aula é bem diferente daqueles que estavam acostumados a ver na graduação (ou na pós) e parece, inclusive, ser até mais simples: como ter melhores conversas. Pelas próximas três horas, a professora, uma médica com vasta experiência em medicina paliativa, mostra —usando teoria, experiências próprias e, no final, um exercício—, quais são os principais problemas que enfrentamos ao tentar dialogar com outras pessoas. Na verdade, é quase uma palestra com a possibilidade de interação.
A cena descrita acima mostra como são os cursos da filial brasileira da The School of Life (A Escola da Vida, em português), inaugurada em 2013, que oferece encontros para discutir temas do cotidiano, trabalho e relacionamento. A escola é uma filial de Londres.
Esse modelo de ensino, que consiste em cursos de curta duração voltados para estimular a pessoa a pensar de uma maneira diferente sobre determinado assunto ou mesmo ajudá-la a enfrentar questões como timidez ou melhorar o relacionamento, está crescendo no Brasil.
“Trouxemos a The School of Life para o país justamente porque o número de brasileiros que procurava a escola em Londres era muito grande”, diz Diana Gabanyi, uma das sócias da filial brasileira. Segundo ela, de 2013 até agora, 10 mil pessoas já passaram pela escola.
Entre os cursos mais procurados, estão o da série “como”: como encontrar o trabalho da sua vida, como tomar melhores decisões, como ter melhores conversas, como ser mais confiante. Em média, cada um deles custa R$ 185 e tem duração de 3 horas.
Inspirados na proposta inglesa da The School of Life, os publicitários Guilherme Krauss (29) e Ricardo Dória (31), inauguraram, há quatro anos a “Grande Escola”, em Curitiba. O propósito é parecido: proporcionar experiências transformadoras na vida dos alunos.
“Mesmo com cursos de mestrado, pós, doutorado, percebemos que faltava alguns complementos educacionais na vida das pessoas que pareciam muito bobos, mas que faziam uma grande diferença, como não ser tímido, como tirar uma ideia do papel. Foi então que surgiu a escola”, conta Krauss.
Em quatro anos, 4.600 alunos já participaram de algum curso oferecido na casa, que tem aulas na garagem, sala de estar e jardim. Se contar as aulas em empresas, o número chega a sete mil. “A maior parte dos alunos tem entre 23 e 45 anos. A mais nova tinha 11 anos e fez um curso sobre como enxergar o lado bom da vida”, diz. Entre os temas mais procurados, estão os relacionados à arte da felicidade e os de meditação.
Modo de consumir informação mudou
Para Leo Fraiman, psicoterapeuta, escritor e especialista em educação, o surgimento desses tipos de cursos refletem as mudanças de vida que, em muitos casos, não são trabalhadas na escola. “A escola tradicional é pressionada pelo jovem querendo novos temas. Por outro lado, ela precisa prepará-lo para o vestibular, que ainda é muito arcaico. É aí que surge a busca de complementos fora do ambiente escolar”. O psicoterapeuta também é autor de uma metodologia de ensino chamada OPEE (Orientação Profissional, Empregabilidade e Empreendedorismo) que busca ajudar alunos a construirem projetos de vida.
“A maneira como nos relacionamos com o trabalho também é muito diferente. Hoje, buscamos aprender coisas que vão além do profissional, coisas para usar na vida”, completa Klauss. Para ele, o sucesso desse tipo de curso também está na maneira como é apresentado. “São aulas curtas, com uma abordagem direta e que traz sugestões para já sair do curso e aplicar os conhecimentos. Hoje, as pessoas consomem muito mais informação e em bem menos tempo”.
Conheça outras duas escolas que também tem o propósito de fazer você pensar “fora da caixinha”:
Perestróika (https://www.perestroika.com.br/) – Com aulas em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasília, a escola traz cursos que vão desde como fazer apresentações impactantes até conversas para quem quer ver o mundo de forma diferente.
Casa do Saber (http://casadosaber.com.br/) – Localizada em São Paulo, oferece cursos livres, palestras e oficinas de estudo nas áreas de artes plásticas, ciências sociais, cinema, filosofia, história, música e psicologia. Entre os temas dos encontros estão a relação entre a física e a medicina, antropologia e alimentação, espiritualidade e doenças.
TEXTO ORIGINAL DE UOL