Fabíola Simões

Esperar dói. Desistir dói. Mas às vezes é preciso decidir entre os dois para parar de doer

O que a vida quer de nós é coragem. E é preciso muita coragem para insistir e, igualmente, muita coragem para desistir. Porém, acima de tudo, é preciso sabedoria para discernir qual é o momento de um e de outro.

Desistir é uma decisão, e pode ser nosso maior ato de coragem. Ninguém enxergará as batalhas que você travou para aceitar que o tempo das esperas acabou; para substituir o sentido que aquela esperança lhe dava por uma forma de vida inteiramente nova.

Nem sempre a gente enxerga que é hora de desistir. Que não há mais o que esperar daquilo que a gente tanto desejou. Que o tempo de insistir e nos dedicar ao que queríamos chegou ao fim. Que apesar de nosso desejo e de nossos esforços, não há mais o que fazer. É doloroso aceitar que nem sempre nossas vontades são aquilo que Deus reserva para nós, e que, simplesmente, temos que deixar ir.

É preciso sabedoria para escolher bem as batalhas que iremos travar. Enquanto não aprendemos isso, enquanto escolhemos batalhas que já estão perdidas e gastamos toda nossa energia forçando chaves em fechaduras erradas, sofremos.

Enquanto permanecemos com esperanças num lugar onde não há mais o que esperar, nos atormentamos. Enquanto insistimos em algo que nunca irá se modificar, padecemos. Enquanto teimamos em acreditar que teremos resultados favoráveis ao forçar um sapato que não nos cabe, sofremos. É preciso paz para ouvir a voz da intuição e entender que desistir pode ser um grande ato de amor a nós mesmos.

É preciso não confundir desistência com derrota. Desistir é uma decisão, um trato com uma nova forma de vida, e pode significar uma nova chance, um recomeço. Assusta porque nos obriga a renunciar àquilo que, mesmo sendo ruim, muitas vezes dava sentido à nossa existência.

O desconhecido assusta. Nos apegamos ao que conhecemos bem, mesmo que seja um lugar de derrota e dor. Por isso sofremos ao soltar o último fio que nos liga ao nosso mundo, à realidade que até então nos definia. Porém, soltar essa fagulha de esperança, embora seja assustador e sofrido, algumas vezes é necessário.

Não desejo que você mate seus sonhos, mas que tenha sabedoria para escolher onde deve permanecer. Que não se iluda com aquilo que só aconteceu na sua imaginação, nem insista em situações que só se concretizaram em seus devaneios. Nem tudo o que a gente quer, é para a gente. E aceitar isso, e lidar com isso, dói, machuca, deixa marcas profundas. Porém, quanto antes você conseguir discernir o que é real e possível do que é fantasia e ilusão, mais cedo você perceberá que a felicidade também é uma decisão, e que a vida acontece para aqueles que escolhem recomeçar quando tudo parece desabar.

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Foto de Andrey Zvyagintsev em Unsplash

Fabíola Simões

Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.

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