Por Juliana Conte
De repente, uma simples ida ao supermercado começa a incomodar, já que a pessoa não se lembra do que precisa comprar. Se antes guardava tudo na cabeça, sem o apoio de listas, agora ela precisa levar tudo anotado para não ficar perambulando pelo estabelecimento durante horas. Ou então, tarefas como administrar a casa e lembrar a data de vencimento das contas, antes realizadas com facilidade, começam a se tornar difíceis. Esses exemplos podem ser indícios de problemas relacionados à memória ou outras funções cognitivas, como falta de atenção ou capacidade de orientação, conhecidos como Comprometimento Cognitivo Leve (CCL).
De acordo com o médico psiquiatra Fábio Armentano, que coordena o Grupo de Psicogeriatria do AME (Ambulatório Médico de Especialidades) Vila Maria, essas alterações, que geralmente acometem pessoas mais velhas, podem ter uma série de causas específicas, como depressão, ansiedade, efeito de medicações para o sono, ou até problemas clínicos como hipotireoidismo, deficiência de vitaminas e diabetes descompensada.
“CCL é um declínio de uma ou várias funções cognitivas. Mas por que se fala tanto de perda de memória? Porque esse é o sintoma mais comum e que as pessoas notam de maneira mais rápida . Contudo, esse problema não afeta a funcionalidade do indivíduo, já que ele continua executando as mesmas atividades, embora com uma dificuldade maior e utilizando algumas estratégias diferenciadas para cumpri-las”, explica.
“Ouvi relatos de pacientes que diziam estar cozinhando quando, de repente, alguma outra coisa os distraiu, fazendo-os se esquecer de voltar para a atividade inicial. O resultado era sempre uma panela ou comida queimada”, completa Fábio.
A diferença entre o CCL e uma demência, como o mal de Alzheimer, por exemplo, é que o primeiro não é grave o suficiente para fazer com que o paciente não consiga cumprir suas funções ou para afetar de maneira drástica a sua rotina. “Na demência, a performance do paciente começa a ficar muito debilitada, ele vai precisar da ajuda de outras pessoas para fazer algumas atividades. A principal diferença entre uma coisa e outra é a funcionalidade”, enfatiza Armentano. Mas é preciso ficar atento. Ainda de acordo com o psiquiatra, todos os anos, 10% dos pacientes diagnosticados com CCL podem evoluir para demência. Entretanto, a maioria ficará estável e outros podem até melhorar.
Não há medicamento específico para o CCL e o tratamento normalmente é focado nos fatores que, possivelmente, geram o esquecimento. Por isso, cada caso é avaliado individualmente e, muitas vezes, o acompanhamento é multidisciplinar, envolvendo psicólogos, terapeutas ocupacionais, psiquiatras, entre outros profissionais.
É difícil prevenir o transtorno, mas existem medidas simples que podem ser executadas desde cedo para manter a memória e as outras funções cognitivas ativas, como ler bastante e, o mais importante, discutir e fazer análises daquilo que leu, fazer palavras cruzadas e assistir a filmes. Além de manter vínculos sociais, exercitar-se, treinar a capacidade de foco, tentando se concentrar na tarefa que está realizando no momento.
“Qualquer queixa ou sintoma de alteração de memória ou de outras funções cognitivas que sejam persistentes e estejam causando algum tipo de dificuldade ou sofrimento para o indivíduo devem ser avaliados. Um erro comum é achar que esses sintomas são normais para a idade, o que não é verdade”, finaliza.
TEXTO ORIGINAL DO DRAUZIO VARELLA
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