Por Carina Kolodny
Aos pais de homens adolescentes,
(Uma carta aberta.)
Vocês se lembram daquela conversa íntima que tiveram com seu filho? Aquela em que disseram: “Eu te amo e preciso que você saiba que, não importa como uma mulher se vista ou aja, não é um convite para assobiar, provocá-la, assediá-la ou atacá-la”?
Ou quando vocês disseram aos seus filhos: “A virgindade de uma mulher não é um prêmio e você não ganha pontos ao dormir com ela”?
O que dizer daquele bate-papo íntimo, quando vocês amorosamente ofereceram um conhecimento jurídico de que “uma mulher não precisa estar lutando contra você e não precisa estar imobilizada para que seja ESTUPRO. Intoxicação quer dizer que ela não pode consentir legalmente, NÃO que ela seja uma presa fácil”.
Ou talvez vocês se lembrem de compartilhar meu conselho favorito: “Suas experiências sexuais não ditam seu valor, assim como as experiências sexuais da mulher não ditam o dela”.
Por último, mas não menos importante, vocês se lembram de ter chamado a atenção do seu filho quando descobriram que ele estava usando a palavra “puta” deliberadamente? Ou quando vocês escutaram seus comentários sobre alguma garota da escola, como se ela fosse mais uma conquista do que uma pessoa?
Quero que vocês pensem nessas conversas e então se perguntem por que não se lembram delas. A provável razão é que vocês não as tiveram. Na verdade, a maioria dos pais nunca teve esse tipo de conversa.
Por outro lado, aqui estão algumas conversas das quais vocês talvez se lembrem melhor. Vou dar uma pista: provavelmente vocês não as tiveram com seu filho.
“Cuidado com a maneira que você age e como você se veste — é fácil ficar com uma má reputação.”
“Os garotos simplesmente são assim — você não pode dar motivo para que eles se comportem dessa forma com você.”
“Você precisa estar segura! Quando você se veste dessa forma, algumas pessoas interpretam isso como um convite.”
“Nunca saia sozinha, nunca ande sozinha à noite, nunca tome um drink de uma bebida aberta.”
Estas são conversas frequentes de pais amorosos como vocês. Elas são motivadas pelo cuidado, pela preocupação, mas, principalmente, pela doutrinação cultural invertida que está machucando, sufocando e punindo mulheres jovens.
A doutrinação cultural da qual estou falando é mais ou menos assim: é da responsabilidade de uma jovem se proteger contra o estupro, agressão, assédio, perseguição e abuso porque garotos são garotos e alguns deles simplesmente não podem se conter. Como escritora de assuntos sobre educação sexual, conversei com uma boa quantidade de pais que estão mais do que cientes dessa realidade distorcida, mas não sabem exatamente o que fazer sobre isso.
“É injusto e horrível”, admitiu uma mãe, “mas isso não muda o fato de que seja verdade. Não posso mudar o fato de que existem homens assustadores por aí se comportando mal. Tenho de ajudar minha filha a se proteger”.
Então, vamos analisar rapidamente esses “homens assustadores”. Quem são eles realmente? Quem são os homens assustadores que tornam perigoso o fato de sua filha ir sozinha a uma festa no campus? Quem são os homens assustadores que estão mexendo com ela ou chamando-a de vagabunda ou intimidando-a com palavras? Quem são esses homens assustadores que a estão perseguindo? Assediando? Agredindo?
Quem são esses “homens assustadores”, de onde eles saíram e quem os criou?
A resposta, infelizmente: foram VOCÊS.
Temos demasiada informação para continuar culpando o homem anônimo à espreita nas sombras. Temos dados mais do que suficientes para concluir que a maioria dos perpetradores não são os “outros”, são conhecidos e colegas de classe, ex-namorados e amigos.
São jovens que sua filha provavelmente conhece e com os quais interage. Vocês não podem construir um muro em volta de sua filha para impedir que eles entrem no mundo dela — eles já estão dentro.
Não tenho a expectativa de que vocês recebam bem esta notícia. Duvido que muitos até mesmo a aceitem. Quero que vocês saibam que não estou dizendo que todos os garotos são estupradores ou desrespeitosos com as mulheres — e certamente não estou dizendo que todos os jovens nasceram com uma tendência para isso.
O que estou dizendo é: vivemos em uma cultura que coloca vítimas em julgamento com perguntas do tipo: “bem, como você estava vestida?” e “quanto você bebeu?”. Vivemos em uma cultura onde uma mãe, preocupada em criar filhos que “ajam honradamente”, culpa as garotas por serem tratadas como objetos pelos garotos. Vivemos em uma cultura onde um juiz condena um estuprador com 30 dias de prisão porque sua vítima, de 14 anos, era “mais velha do que sua idade cronológica”. Vivemos em uma cultura que relega às mulheres e meninas a tarefa de evitar serem estupradas em vez de esperar e exigir que garotos e homens assumam a responsabilidade de não estuprar.
Seu filho está envelhecendo nessa cultura com essas mensagens ao redor. Vocês podem tê-lo criado em um lar que perpetuou essa cultura sem nunca ter tal intenção ou, talvez, vocês o criaram em um lar que ensinou valores que contrastam completamente com aquela cultura. A pergunta mais importante é: vocês disseram diretamente alguma vez para que ele nunca aceitasse essa cultura? Disseram alguma vez que essa cultura é inaceitável e ERRADA? Já tiveram alguma das conversas mencionadas acima?
Quando você tem a conversa sobre “evitar ser estuprada” com sua filha, é difícil, não quer imaginá-la como vítima. A ideia de ter a conversa “não estupre” com seu filho é mais difícil porque você nunca quer imaginá-lo como criminoso.
Mas tenham a conversa mesmo assim.
Tenham porque muitos pais pensaram que não precisariam tê-la e muitas pessoas sofreram por causa disso.
Tenham porque vocês amam seu filho e querem que ele tenha um futuro brilhante.
Tenham, porque não fazer isso é irresponsabilidade.
Tenham, por sua filha ou por suas sobrinhas ou pelas jovens em geral, porque, embora essa conversa particular possa ser aterrorizante, a realidade muito mais aterrorizante é a de jovens mulheres continuarem sendo ensinadas a viver com medo dos homens.
Isso é o que vocês estão fazendo na verdade quando têm a conversa sobre “não seja estuprada” com sua filha. Vocês estão dizendo a ela para sempre desconfiar, para passar a vida olhando para os lados, dizendo que qualquer homem é um predador em potencial.
“MAS É VERDADE”, vocês podem pensar. “Todas essas coisas são verdadeiras.”
E vocês não estão errados. A agressão sexual atualmente é generalizada — 1 em cada 4 estudantes universitárias serão violentadas sexualmente até o momento da graduação.
Mas a agressão sexual é generalizada, mesmo com as conversas que muitos pais tiveram com suas filhas. Parece que o ângulo “não seja estuprada” não é uma estratégia bem-sucedida para conter essa pandemia. Na verdade, é contraproducente, porque perpetua uma cultura onde os homens não sentem a necessidade de assumir a responsabilidade.
Felizmente, vocês têm as ferramentas para conter esses crimes.
Vocês PODEM ajudar a proteger sua filha e outras jovens como ela.
E vocês podem fazer isso dentro da sua própria sala de estar.
A única coisa que vocês precisam fazer é conversar com seu filho.
TEXTO ORIGINAL DE BRASILPOST
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