Por Pamela Carbonari
Ao pensar na quantidade de informações importantes que perdemos no dia a dia por não vermos além do óbvio (e não nos comunicarmos com clareza), a advogada e historiadora de arte, Amy Herman, desenvolveu um curso que ensina as pessoas a melhorarem suas habilidades de observação e de comunicação – a partir da análise de obras de arte.
O curso nasceu há 14 anos, quando Amy era chefe de educação da Frick Collection, em Nova York. No começo, ela ensinava estudantes de dermatologia da Universidade de Yale a olharem para as obras do museu e tirarem conclusões além daquelas expostas nas telas. O curso deu tão certo que os estudantes que dominaram o método tiveram um índice de acertos em diagnósticos médicos 56% mais alto que seus colegas que não haviam aprendido.
Desde então, Amy se especializou em neurociência e expandiu o treinamento: já formou profissionais da CIA, da polícia de Nova York, do FBI, executivos, banqueiros e médicos – que saíram da aula capazes de avaliar melhor o que é essencial e o que não é em cenas de crimes, nos diagnósticos ou nas negociações de suas áreas de atuação.
No ano passado, ela lançou o livro Inteligência Visual, publicado no Brasil pela editora Zahar, um guia com dicas e exercícios práticos para que mais pessoas consigam desenvolver suas capacidades de percepção através da arte e reduzirem os ruídos de comunicação ao se expressarem. Amy Herman conversou com exclusividade com a Superinteressante:
Como é treinar pessoas que, em tese, já enxergam além do óbvio, como os agentes da CIA e do FBI?
Eles já têm boas habilidades de observação e percepção. Mas a arte dá uma boa oportunidade para pensar como eles comunicam o que observam. E passar algum tempo afirmando o óbvio sobre o que enxergam é muito importante, porque nada é óbvio para todo mundo.
Observação é objetivo, mas a maneira como percebemos é absolutamente subjetiva. Você ensina a observar, mas é possível treinar a forma como recebemos as informações que percebemos?
A observação é objetiva e a interpretação, que é necessária para realizar o trabalho, é muito subjetiva. Peço aos participantes que reconheçam a diferença. Ninguém pode ser objetivo o tempo todo e precisamos de nossa subjetividade para tomar decisões. Às vezes, no entanto, precisamos nos afastar de nossas conclusões e percepções e nos perguntar se estamos confiando em suposições e preconceitos que podem ser sujeitos a uma falha. É justamente aí que a arte entra, ela nos ajuda a fazer essas distinções.
Partir do pressuposto de que tudo na arte tem um motivo não é uma forma de despir a aura subjetiva que a arte tem?
Não. Não quero mudar a experiência de apreciar, se envolver com uma obra de arte. Estou apenas usando a arte de um jeito completamente diferente. Trata-se de olhar para a parte prática: pergunto aos meus alunos “o que vemos”, não as razões que levaram a obra ser do jeito que é.
Qual é a principal dica que você dá para as pessoas que querem ver o mundo com mais atenção, mas não tem nenhum conhecimento na arte?
Digo a todos os meus alunos que há muito no mundo para ver e participar, mas antes temos que tirar os olhos das nossas telas. Vivemos dependentes da tecnologia, mas precisamos lembrar que a interação humana é a chave para a criatividade. Obras de arte são apenas o veículo que eu uso para reconsiderar nossas habilidades de observação e comunicação. É divertido olhar e discutir obras de arte, mas não temos de saber nada sobre elas para usar e aperfeiçoar nossas habilidades de investigação.
TEXTO ORIGINAL DE SUPERINTERESSANTE