Por Aline Rollo
De dois anos pra cá, as crises tem sido tão frequentes que sinceramente esgotei todas as possibilidades de tratamento. É uma doença cruel, que me devora pouco a pouco e faz com que eu não me importe com mais nada. As contas vencem e eu esqueço de pagar. Esqueço de levar as chaves quando consigo sair de casa. Esqueço de responder mensagens de pessoas queridas. Acredite, não é descaso. É uma apatia que mal me deixa levantar da cama.
Aliás, o ato de levantar da cama exige um esforço surreal. Eu abro os olhos e já estou tremendo, coração saindo pela boca. Muitas e muitas vezes penso em desistir de levantar e ficar ali mesmo, deitada pra sempre. Meu desejo é esse, na maioria das vezes. Passo horas olhando para o filtro dos sonhos pendurado na minha janela. Observo ele indo e vindo, balançando com o vento, enquanto procuro entender porque estou passando por isso novamente.
Ao todo, são 4 remédios diários. Todos muito fortes. Iniciei, como última alternativa de tratamento, a acupuntura com homeopatia. Então, no total, tomo agora 9 remédios diários, cinco deles homeopáticos. Obviamente que preciso fazer lembretes no celular para tomar todos eles.
Faço academia e yoga, que são atividades chave para o tratamento contra depressão e ansiedade. Mas esta última crise, instalada em mim há uns 4 meses, não tem dado muita trégua, por mais atividades físicas que eu faça.
Pedi o desligamento da chefia do meu trabalho. Não podia mais lidar com tudo aquilo após ficar um mês de cama, fazendo mil exames de todos os tipos, cheia de manchas pelo corpo, para ser diagnosticada pela milésima vez com depressão. Desta vez aguda, segundo minha terapeuta.
Continuo trabalhando, agora sem a responsabilidade de uma chefia tão grande. Sou completamente apaixonada pelo meu trabalho, e sei que sou boa no que faço. Porém, a apatia me faz pensar o tempo todo que não dou conta. Não dou conta da minha filha, família, trabalho, relacionamentos e amigos.
Tenho tido um respaldo que nunca imaginei ter. Mesmo estando em um grande isolamento, meus amigos estão perto. Mesmo que eu não possa retribuir agora o que eles têm feito por mim, eles continuam por perto, o tempo todo.
Minha mãe está criando novamente uma criança grande. O tempo todo ligada, prestando atenção no meu comportamento, que muda cinco vezes por dia. Ela está comigo todo o tempo, me amparando, me dando todo o suporte que preciso. São dias difíceis e eu não conseguiria sem ela nem minha filha.
Fico tentando achar uma solução pra mim o tempo todo. Algo que me faça sair dessa crise que parece eterna. Existem mil saídas mas nenhuma viável. Qualquer uma delas seria radical demais e obviamente as pessoas não entenderiam. Vivemos numa sociedade que não entende o que é a depressão e o que ela faz com a gente. Ou somos frescurentos, ou mimizentos, ou preguiçosos, ou irresponsáveis. Este é o julgamento que alguém com depressão enfrenta diariamente.
O que eu mais quero na vida é sair dessa. Porque essa pessoa que está escrevendo agora não sou eu. Essa não é a Aline que tem tanta vontade de viver, aproveitar cada segundo, cada momento. Quero voltar a ser eu mesma. Ver o mundo cheio de cores e tons que eu sempre admirei. Poder estar com a minha família e amigos por inteiro. Trabalhar com a mesma paixão de sempre.
Depois de tantos anos de luta e esforço, ainda tenho esperança que meu sorriso largo vai voltar a ser tão espontâneo quanto minha vontade de viver intensamente.
Imagem de capa: Shutterstock/Stock-Asso
TEXTO ORIGINAL DE OBVIOUS
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