Por José Paulo Gomes
Páginas populosas de universitários nas redes sociais e memes que viralizam fazendo humor com a sobrecarga de trabalho a que este grupo é submetido, principalmente na época de provas e entregas de trabalho. As brincadeiras tentam cumprir um papel de válvula de escape para a tensão. Mas a despeito delas, o estresse pode ser um problema sério na vida de quem estuda.
Pesquisas sobre o tema apontam quase a totalidade de estudantes como portadores de alguma forma de exaustão, o que pode afetar muito mais que somente seu desempenho acadêmico, como também levar a pessoa a desistir do curso e ter problemas para realizar atividades simples de rotina.
Um trabalho do Hospital Universitário (HU) da USP adentrou esse universo nas instituições particulares. Ao se deparar com 102 alunos da uma das maiores universidades privadas do Estado de São Paulo, o pesquisador Felipe Moretti percebeu que somente um dos indivíduos que participaram do estudo não sofria de algum tipo de estresse.
“É preocupante que somente um dos pesquisados não tenha apresentado nenhuma forma de estresse”, declara Moretti. “Fomos atrás de mais membros para a pesquisa e o resultado foi ainda mais alarmante. Cerca de 90% do grupo sofria de algum tipo de estresse que pudesse ser perigoso à saúde.”
Segundo Moretti, as evidências permitem concluir que muitas vezes as universidades se transformam em verdadeiras “máquinas de moer gente”. Ele conta que trabalha em cursos de relaxamento aplicado nas universidades há cinco anos e que, ao se deparar com os resultados de diversos membros do corpo discente da instituição, percebeu que parte importante desse estresse vinha da própria rotina do curso.
“A maioria dos pesquisados evidenciou que a razão do seu estresse envolvia o seu curso e a universidade. Isso demonstra um problema na forma como atualmente o conhecimento é transmitido. Ele é entendido como um produto, de forma a ser produzido em larga escala, através de fichamentos, trabalhos e provas que tornam uma atividade que deveria ser envolvente em maçante.”
Assim, a atual rotina de estudos é muito extenuante devido ao modo como entendemos o ensino. Em parte em razão da cobrança excessiva pelos professores, mas que também encontra ressonância dentro do corpo estudantil, através da autocobrança dos universitários, explica Moretti. Outro fator de preocupação identificado por ele foi o tempo curto para tarefas e conteúdos extensos, somado à falta de coordenação pedagógica, dificultando-se assim o caminho do aprendizado.
“O conhecimento é muitas vezes entendido como várias caixas fechadas, mas ele é mais amplo que isso, e os alunos se desmotivam com coisas assim”, explica Moretti, ao criticar ainda a falta de tempo para o grande volume de atividades. “O aluno não dá conta de manter uma vida pessoal e social ativa.”
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É uma discussão que precisamos ter com mais frequência – para avançarmos com processos de aprendizagem mais cativantes, inspiradores. As nossas formas de ensino às vezes acabam por gerar mais adoecimento do que florescimento.
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A ausência de uma vida pessoal e social eleva ainda mais o estresse, em um círculo vicioso. As pessoas perdem seu contato com parentes e amigos e também não têm como realizar uma atividade relaxante em seu tempo livre. “Uma dança, o seu esporte favorito ou seu hobby são desestressantes, tendo efeitos no corpo e na mente.”
Para Moretti, a busca por novos meios de repassar o conhecimento e por entender a realidade dos alunos, além de oferecer atividades extracurriculares, são ferramentas para prevenir o estresse. Que pode ser grave o suficiente a ponto de levar estudantes ao uso de estimulantes, a abandonarem o curso, prejudicarem sua saúde pessoal e, em casos extremos, à morte – de forma indireta ou cometendo suicídio.
“Como rever certas formas de avaliação e alguns processos do formalismo acadêmico que por vezes inibem as nossas fronteiras da construção do saber? As novas gerações já não se enquadram mais em nossas antigas formas”, reflete. A pesquisa de Moretti fez parte de seu trabalho de conclusão de curso (TCC) do título de especialização em Terapia Comportamental no HU, com orientação de Maria Martha Hübner, professora do Instituto de Psicologia (IP) da USP.
Imagem de capa: Shutterstock/Marcos Mesa Sam Wordley
TEXTO ORIGINAL DE JORNAL DA USP
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