Um estudo publicado recentemente na revista científica Psychiatry Research confirma o impacto negativo da a pandemia de coronavírus sobre a saúde mental das pessoas. Jude Mary Cénat, professor de psicologia clínica na Universidade de Ottawa e líder do grupo responsável pela pesquisa, disse que o estudo foi inspirado em análises feitas anteriormente sobre o impacto dos surtos de ebola sobre a saúde mental de algumas comunidades africanas.
Com o estudo, os especialistas canadeses concluíram que a prevalência da insônia chegou a 24%, a do transtorno por estresse pós-traumático alcançou 22%, a incidência da depressão se situou em 16%, e a da ansiedade chegou a 15%. O artigo salienta que o transtorno por estresse pós-traumático, a ansiedade e a depressão se tornaram, respectivamente, cinco, quatro e três vezes mais frequentes em comparação aos dados habitualmente relatados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Não se observaram diferenças significativas por gênero ou região geográfica; tampouco entre a população em geral e os trabalhadores da saúde, exceto no caso da insônia”, indica o artigo. A análise refletiu que os problemas para conciliar o sono eram duas vezes mais pronunciados entre os profissionais dessa área.
“Precisamos continuar investigando para compreender melhor esta diferença. Foram publicados muitos dados nos últimos três meses e é fundamental um estudo longitudinal. Entretanto, outro trabalho que fizemos sobre a saúde mental após o terremoto [de 2010] no Haiti nos dá pistas. Constatamos que os níveis de depressão e ansiedade eram maiores entre os haitianos que saíram rapidamente do país, em comparação com os que ficaram. Quando você está na linha de frente, não pode se permitir cruzar os braços. E a insônia é uma forma pela qual os temores e preocupações se manifestam”, diz Cénat.
O estudo canadense argumenta que a insônia pode desencadear outros problemas, como depressão e ideias suicidas. Desta forma, Jude Mary Cénat e sua equipe advertem para o risco à saúde mental dos profissionais sanitários à medida que estes indivíduos estiverem menos expostos a pandemia. Cénat menciona que um estudo feito na República Democrática do Congo mostrou que os problemas de saúde mental entre os profissionais que combateram o ebola aumentaram depois que os casos da enfermidade começaram a diminuir. “É necessário acompanhar esses trabalhadores. Fazer um acompanhamento, criar uma rede de apoio, detectar quem precisará de ajuda”, acrescenta Cénat.
Em outubro, a OMS publicou um relatório onde apontou que a crise decorrente da covid-19 perturbou ou paralisou os serviços de saúde mental essenciais em 93% dos países do mundo. O organismo salientou também que a emergência sanitária aumentou a necessidade destes serviços. “Os líderes mundiais devem agir com rapidez e decisão para investir mais em programas de saúde mental que salvam vidas, durante a pandemia e depois”, declarou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
“Estes serviços foram reduzidos ou suspensos em um período de grande impacto sobre a saúde mental, tanto para as pessoas que já tinham problemas como para outras que começaram a sofrê-los. Devemos dar sinais de maior compreensão e inovação”, aponta Cénat.
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Destaques Psicologias do Brasil, com informações de El País.
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