Uma reportagem simples, que atualiza os números da já mais que conhecida desigualdade social brasileira, provoca reações bem diversas dos nossos leitores. Enquanto alguns pouco se importam com a triste realidade, outros sofrem intensamente, mesmo não sendo diretamente afetado por ela.
E não é só a consciência que pesa nessas horas, mas seu cérebro, que dita a diferença de reação diante de tempos tão obscuros.
Ainda em 2010, um estudo comandado pelo pesquisador japonês Masahiko Haruno, do Instituto de Ciências do Cérebro da Universidade de Tamagawa, sugeriu que uma estrutura primitiva do cérebro, a amídala cerebebelosa, parte do sistema límbico que atua como regulador comportamental, é determinante para assumir uma posição mais pró-social.
Em sua pesquisa, observou que, em simulações, a amídala de todo mundo fica mais ativa quando via alguém receber mais dinheiro que eles, uma reação relacionada ao estresse. A diferença acontece quando a pessoa recebe mais dinheiro que os outros. Enquanto nos participantes considerados mais individualistas a amídala ficou quietinha, nos pró-sociais ela foi igualmente ativada. É o sentimento de culpa brotando no cérebro.
O grupo de Masahiko Haruno não parou por aí. Em outro estudo, mais recente, mostrou que essa preocupação toda, apesar de ser bom para o mundo, pode ser ruim para você.
Utilizando equipamentos mais modernos, de imagem por ressonância magnética funcional, voltaram a analisar os cérebros pró-sociais e individualistas.
Na amídala a diferença de ativação observada foi a mesma. Mas dessa vez, observaram reações diversas também no hipocampo, outra região primitiva do cérebro ligada à resposta automática ao estresse.
Os pesquisadores, então, quiseram saber se essa culpa, esse estresse, estão ligados à depressão, por meio de um questionário chamado Escala de Depressão de Beck.
Descobriram que as pessoas que tem um padrão de atividade cerebral mais ligados à uma atitude pró-social tem mais chances de ser diagnosticado com depressão.
Os psiquiatras já sabiam da ligação entre certas características de personalidade, como empatia extrema e propensão à sentir culpa, á depressão clínica. O estudo mostra que essa sensibilidade habita as estruturas mais primitivas e automáticas partes do cérebro.
Mas se você não consegue passar incólume nem diante a um inseto machucado, ainda é cedo para perder as esperanças. Uma outra parte do cérebro, o córtex pré-frontal, pode te ajudar a lidar com esses sentimentos ruins.
Os pesquisadores afirmam no estudo que treinar essa região do cérebro te ajuda a controlar os sentimentos que levam à depressão. Para quem tiver muita dificuldade a recomendação é procurar psicoterapeutas. Apesar de ser um processo difícil, não vão faltar outros pró-sociais para te ajudar a segurar essa barra que é gostar do próximo.
TEXTO ORIGINAL DE REVISTA GALILEU